Em Cabo Delgado, situação muito grave e preocupante, afirma D. Inácio Saúre
P. Bernardo Suate – Cidade do Vaticano
A guerra em Cabo Delgado, explicou Dom Saúre, começou no dia 5 de outubro de 2017, e portanto há já quase quatro anos, e segundo os dados oficiais já provocou mais de 2500 mortos, mais de 700 mil deslocados, a maior parte dos quais dentro da Província de Cabo Delgado. Mas logo depois de Cabo Delgado está a Província de Nampula, neste momento com mais de 63 mil deslocados internos oficialmente registados. E então vive-se uma situação dramática, de uma autênctica crise humanitátia a todos os níveis.
A Província de Nampula também vive uma situação de fome, por causa da irregularidade das chuvas na safra agrícola anterior, disse ainda o prelado, mas também trata-se da Província mais populosa de Moçambique, com mais de 5 milhões de habitantes, onde se vêm agora juntar os deslocados de Cabo Delgado, desprovidos de tudo.
Caminhos para a paz muito difíceis e sinuosos
Entretanto, parece que não se está com os braços cruzados neste momento, considera Dom Inácio, procuram-se os caminhos para a paz mas infelizmente são caminhos muito difíceis e sinuosos. Existem as tentativas da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral), que já teve reuniões para se procurar a solução do problema, mas infelizmente ainda não se desenhou um programa ou um projecto bem claro de como seria a solução: se por via militar, por via do diálogo, e com quem?... Entretanto, o fluxo dos deslocados tem aumentado continuamente, sobretudo depois do último ataque em Palma. Que provocou muitos deslocados, uns para Pemba mas também outros para outras Províncias, incluindo Nampula, como mostra o caso do Centro de reassentamento de Corrane.
Apoio multiforme da Arquidiocese de Nampula ao Centro de Corrane
Os Centros de reassentamento, explicou ainda o Arcebispo de Nampula, são organizados pelo Governo e o Alto Comissariado das Nações Unidas Unidas para os Refugiados (ACNUR), e a Igreja procura dar apoio na medida das possibilidades. Assim, a Arquidiocese de Nampula tem um projecto de apoio multiforme para apoiar os deslocados internos do Centro de Corrane, sobretudo com a construção de casas, distribuição mensal de alimentação às famílias, fornecimento de medicamentos, a assistência psico-social, pois muitos dos deslocados vêm profundamente traumatizados, mas também com apoio na escolaridade das crianças e jovens, sem deixar de lado o aspecto da agricultura, para ajudá-los a construir um futuro autónomo e sustentável.
Igreja disponível a colaborar na busca da paz
Entretanto, a Igreja em Moçambique não está parada: tem manifestado a sua disponibilidade a colaborar na procura dos caminhos da paz, mas muitas vezes não sabe exactamente o que fazer – “aquilo que está ao nosso alcance, è isto que temos feito, como o apoio com os serviços da caridade, estar presentes e, como diz o Papa Francisco, acolhemos, protegemos, integramos nas Comunidades …”, enfatizou Dom Inácio. Muitos deslocados pedem para ‘que a Igreja fale com o Governo para se acabar com esta guerra, porque nós queremos regressar às nossas zonas de origem’, mas nós não sabemos como fazer isso, enfatizou ainda o prelado.
Acompanhamento pastoral aos deslocados
Outro aspecto mencionado pelo Arcebispo de Nampula è o desafio de acompanhar pastoralmente os deslocados, mas Dom Inácio assegurou que já estão a preparar-se mesmo procurando textos litúrgicos nas respectivas línguas.
Empenhar-se com seriedade e sinceridade na busca da paz
Por último, uma palavra de encorajamento e esperança, quis Dom Inácio dirigir a todos mas em particular às directas vítimas da tragédeia de Cabo Delgado: “minha palavra é de encorajamento e esperança, porque Deus nunca abandonará o seu povo”, sublinhou o arcebispo, certo de que a guerra vai acabar, mas também acrescentou que “importante é que, de facto, todos nos empenhos: as Autoridades, a Igreja, as populações, todos nós nos envolvamos numa procura sincera dos caminhos de busca da paz”.
É verdade que ninguém tem a solução já feita para este problema, mas todos nós temos de nos empenhar com seriedade e com sinceridade para procurar uma solução definitiva para este problema – rematou o Arcebispo.
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