Mês da Consciência Negra – Urge também uma consciência branca?

Dulce Araújo - Vaticannews

O ponto alto do mês da “Consciência Negra” é o dia 20, data que recorda a morte de Zumbi dos Palmares, figura emblemática da resistência negra no Brasil. Negro escravizado, ele revoltara-se contra o sistema esclavagista e criou o Quilombo Palmares, território autónomo de resistência, onde congregou uns trinta mil escravos fugitivos. Nesse imenso território – alguns dizem do tamanho de Portugal - que se encontra no atual Estado brasileiro de Alagoas, viveram por cerca de quinze anos sob a liderança de Zumbi até que ele foi capturado a 20 de novembro de 1695 e barbaramente assassinado pelos homens da coroa portuguesa.

Dia da Consciência Negra

A data de 20 de novembro é hoje feriado nalguns Estados e Municípios do Brasil. Esta vitória foi obtida depois da descoberta da data da morte de Zumbi e de muitas lutas dos afrodescendentes. Eles preferiam a data de morte do líder Zumbi para “Dia da Consciência Negra”, em vez do 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura no Brasil com a chamada “Lei Áurea” por considerarem que essa abolição não passou de uma farsa, pois, não incluía medidas necessárias para permitir aos negros ser plenos cidadãos depois dessa longa temporada de escravatura. Assim, a 10 de dezembro de 2011 era aprovada a lei que instituía 20 de novembro como “Dia da Consciência Negra”, feriado, mas não obrigatório. Cada Estado e/ou Município do país decide se tê-lo como feriado ou não. E atualmente é, segundo o site educaçao.uol.com.br, feriado apenas nos Estados de Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro. Esta mesma fonte afirma que até 2018 só 1047 municípios num total de 5.561 tinham transformado a data em feriado.

Urge um dia da consciência branca?

Mas a existência de um Dia da Consciência Negra no Brasil não é aceite por todos no Brasil, sobretudo por brancos. Alguns consideram que mais do que em Consciência Negra é preciso falar de Consciência Humana. Facto que levou a brasileira, Gislaine Marins, a escrever, no dia 20 de novembro, o artigo “E o dia da consciência branca?” em que lança uma série de quesitos tendentes a levar os brancos do país a se perguntarem se têm realmente consciência dos privilégios de que gozam por serem herdeiros dos colonizadores e esclavagistas. Saiba mais nesta entrevista que nos concedeu:

Doutora em Letras, tradutora, docente, Gislaine escreve para as redes católicas “Tua Rádio” e para a Signis Brasil (nos quais publicou, no dia 20 de novembro, o acima mencionado artigo) e Agência de Notícias Signis. A entrevista que concedeu ao Programa Português da Rádio Vaticano, foi emitida no âmbito da rubrica “Década dos Afrodescendentes”.