Afrodescendentes em Florença comemoram Black History Month
Dulce Araújo - Vaticannews
São mais de duzentos os eventos que marcam a edição 2022 do Black History Month, de modo particular em Florença, mas também noutras cidades italianas como Bolonha, Turim, indo mesmo até Paris.
Matias Mesquita, angolano, residente em Florença há uns bons anos, fundou em 2010 o Kibaka Film Festival, que desde há dois anos tem um sector virado para os jovens. Kibaka é uma das várias atividades da Associação Nzinga Mbande de que ele é co-fundador.
Há cerca de cinco anos, Matias conheceu Justin Thompson, afro-americano que, por sua vez, vem dando rosto, desde há tempos, ao Black History Month em Florença. Deram-se as mãos nesta tarefa e, ultimamente, viraram o olhar sobretudo para as problemáticas dos afro-italianos.
Matias considera que embora a presença de africanos em Itália seja bastante antiga - recorda, por exemplo, que um dos Duques de Florença era filho duma africana - há quem persiste em não querer ver essa presença histórica e atual e os benefícios que traz à sociedade italiana. Felizmente, sublinha, também há quem veja de bons olhos essa presença e compreende a importância de a ajudar a desabrochar, a exigir os seus direitos e a dar o melhor de si à sociedade.
Mas há muito caminho a percorrer e essa caminhada tem de ser feita de mãos dadas; daí a necessidade de criar redes de associações, e continuar a lutar da melhor forma para dar a conhecer os feitos, as vicissitudes, a cultura, a dignidade dos africanos. Em poucas palavras, fazer chegar mais longe o Black History Month que, embora celebrado intensamente ao longo de um mês, é algo que deve ser quotidiano, explicou o Matias Mesquita em entrevista à rubrica "Década dos Afrodescendentes: 2015-2024".
As origens do Black History Month, mês da História dos Negros, que se comemora em fevereiro, antes Black History Week, remonta a 1920, quando o historiador afro-americano, Carter Godfrey Woodson, perturbado com a forma negativa como os negros eram vistos na sociedade, fez de tudo por melhorá-la, procurando e difundindo informações sobre a história e os sucessos dos negros.
Em 1920 encorajou os seus correligionários da Omega Psi Phi, a darem início à celebração de uma Semana da História dos Negros. Seis anos mais tarde anunciou que a Semana seria todos os anos em fevereiro, em coincidência com os aniversários dos abolicionistas da escravatura, Frederic Douglass e Abraham Lincoln.
A semana era dedicada não só à história enquanto tal, mas também às habilidades artísticas, científicas e tecnológicas dos negros. Tudo com uma dupla finalidade: restabelecer o orgulho e a auto-estima dos negros e contrastar o discurso racista e inferiorizante em relação a eles.
A Semana de Celebração estabelecida por Carter Goddwin Woodson foi ganhando forçam, sobretudo no contexto das lutas pelos direitos civis nos Estados Unidos.
Woodson faleceu em 1950, mas a Semana da História dos Negros que tinha instituído continuou a ganhar popularidade. Em 1975, o Presidente Ford reconheceu-a oficialmente numa mensagem em que considerava oportuno dedicar uma semana em sinal de reconhecimento do contributo dos afro-americanos à vida e à cultura dos Estados Unidos. No ano seguinte, 1976, por ocasião do bicentenário da Nação, a Associação para o Estudo da Vida e da História Africanas (criada por Goodson) alargou a Semana a todo o mês de fevereiro. A iniciativa foi acolhida favoravelmente pelo Presidente Ford num discurso em que prestava homenagem às lutas dos afroamericanos.
Outros sucessivos Presidentes reconheceram os mês de celebração da História nacional dos Afroamericanos até que em fevereiro de 1986 o Congresso aprovou uma lei que designou o mês de fevereiro como Mês da História Nacional dos Afroamericanos. E a partir desse ano os Presidentes começaram a fazer declarações anuais em relação ao evento que passou a ser comemorado em toda a Nação e noutras partes do mundo. Tudo graças a um apaixonado historiador que se recusou a fingir não ver a excelência dos afroamericanos.
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