Arcebispo Welby: Plano de asilo Reino Unido/Ruanda, contrário à natureza de Deus
Benedict Mayaki, SJ – Cidade do Vaticano
O arcebispo de Canterbury falou contra o plano do governo britânico de rejeitar dezenas de milhares de migrantes e requerentes de asilo e enviá-los para o Ruanda, na África Oriental. No seu sermão de Páscoa, Dom Justin Welby reagiu à proposta que foi descrita como falta de cuidado para com aqueles que são forçados a fugir dos seus Países. Ele disse que há “questões éticas sobre o envio de requerentes de asilo para o exterior” e as medidas anunciadas pelo Primeiro-ministro Boris Johnson e pela Secretária do Ministério do Interior Priti Pattel na semana passada não podem resistir ao juízo de Deus.
O arcebispo afirmou também que, como um País formado por valores cristãos, “subcontratar as nossas responsabilidades, e ainda para um País que procura sair-se bem, como o Ruanda, é contrário à natureza de Deus”.
O acordo Reino Unido/Ruanda
O Primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Boris Johnson, anunciou a proposta na última quinta-feira, dizendo que o seu governo fechou um acordo com o Ruanda, que fará com que algumas pessoas que cheguem ao Reino Unido como clandestinos ou em pequenos barcos sejam enviadas para aquele País da África Oriental, onde os seus pedidos de asilo serão processados.
Johnson justificava o plano dizendo que a medida desencorajará as pessoas de fazer a tentativa perigosa de atravessar o Canal da Mancha e também colocará os gangues de contrabando de pessoas fora do negócio.
Só no ano passado, mais de 28 mil migrantes entraram no Reino Unido através do Canal da Mancha. Várias dezenas morreram no processo, incluindo 27, em novembro, quando um barco capotou.
O Ministério do Interior encarregado de implementar o acordo com o Ruanda disse que a Grã-Bretanha havia acomodado centenas de milhares de refugiados de todo o mundo. No entanto, observa que o mundo está a enfrentar uma crise migratória global numa escala sem precedentes e que é necessária uma mudança para corrigir o actual sistema de reassentamento.
Páscoa, tempo de esperança e renovação
Falando na Catedral de Canterbury, no domingo, o arcebispo Dom Welby sublinhou que a Páscoa é “um tempo de vida e de esperança, de arrependimento e de renovação”. A ressurreição de Jesus, acrescentou o arcebispo, “promete a cada nação, e a cada vítima e sobrevivente, que as injustiças, as crueldades, as maldades e as instituições desumanas deste mundo não têm a última palavra”.
Ele também apelou para um cessar-fogo na Ucrânia e lamentou o aumento nos custos da energia, combustível e alimentos. “Que este seja, para a Rússia, um momento para o cessar-fogo, a retirada e o compromisso com as negociações”, exortou o arcebispo. “Este é tempo para redefinir os caminhos da paz ... Que Cristo prevaleça! Que as trevas da guerra sejam banidas” - acrescentou.
Grupos de refugiados e direitos humanos reagem
Vários grupos de refugiados e de direitos humanos condenaram o plano de asilo, descrevendo-o como desumano e um desperdício do dinheiro dos contribuintes.
Num comunicado, o Serviço dos Jesuítas para os Refugiados (JRS) no Reino Unido, disse que o plano do governo mostra um “desrespeito cobarde pela humanidade e a dignidade”, pois esses são planos de “virar as costas para as pessoas que buscam refúgio aqui, removendo-as sem sequer examinar os seus pedidos”.
“Eles fazem isso diante de evidências horríveis de que o processamento no exterior promove abusos de direitos humanos. Além disso, estes planos procuram cortar as rotas para os refugiados encontrarem refúgio e se estabelecerem no Reino Unido; abandonam qualquer senso de cuidado com os refugiados”, disse o JRS-Reino Unido, que também considera o plano “cruel e desumano”.
O JRS lamentou ainda a construção de muros em vez de pontes perante o desafio da migração e rezou pelo “arrependimento urgente e a mudança de atitude”. “Como cristãos, disse o JRS, “devemos ficar horrorizados com a ausência de qualquer senso de humanidade comum”.
ACNUR contrário ao acordo Reino Unido/Ruanda
Da mesma forma, numa resposta inicial, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) expressou a sua oposição ao acordo, dizendo que era “contrário à letra e ao espírito da Convenção sobre os Refugiados”.
A agência para os refugiados instou os dois Países a repensar o esquema e alertou que os arranjos de externalização só aumentariam os riscos para os refugiados, fazendo com que eles procurem rotas alternativas e agravando deste modo as pressões sobre os Estados de fronteira.
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