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Dom Inácio Saúre, Arcebispo de Nampula e Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) Dom Inácio Saúre, Arcebispo de Nampula e Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) 

Moçambique. Bispo: “Paz requer conhecer as causas da guerra e o empenho de todos”

“Todas as partes interessadas procurem saber a causa fundamental do problema em Cabo Delgado, para se encontrar os remédios apropriados para o resolver, e que todos nos envolvamos para juntos trabalharmos pelo fim desta guerra”, afirmaD. Inácio Saúre, arcebispo de Nampula e Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM).

P. Bernardo Suate – Cidade do Vaticano

Falando do conflito que há quase cinco anos aflige a Província de Cabo Delgado (norte de Moçambique), o arcebispo Dom Inácio reconhece antes de tudo a sua complexidade, a partir do início em 2017: por um lado, sublinhou o prelado, se tem caracterizado pela crueldade, com assassinatos, decapitações e quanto mais, provocando mortes e deslocados mesmo nas Províncias vizinhas; mas também, ultimamente, pela contraofensiva das tropas aliadas, ou seja, da SADC e do Ruanda, e que, juntamente com o exército nacional, trouxeram uma certa estabilidade, uma certa melhoria das condições de segurança (de facto, não se ouve falar de ataques espetaculares, se não um pouco aqui e acolá, com ataques a aldeias, por parte dos insurgentes, talvez para a recolha de comida, admite o prelado).

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Quanto ao número de deslocados internos, uma das dramáticas consequências desta guerra, fala-se de mais de 800 mil deslocados, dos quais, depois de Cabo Delgado, a Província que tem mais deslocados desta guerra é Nampula, onde as últimas estatísticas estimam em mais de 65 mil, criando uma grande situação de insegurança, de instabilidade e de pobreza, pois os deslocados saem de suas casas desprovidos completamente de tudo e aonde chegam também não encontraram nada, assegura Dom Inácio. “Foi necessário muito trabalho para procurar ir ao encontro destes novos irmãos e ajudar, fazer com que eles se sintam acolhidos, mas parece que todos os esforços são como que uma pequena gota de água no oceano, porque as necessidades são muitas e as possibilidades reais economicamente são muito limitadas” – reitera o Presidente da CEM.

Conflito que corre risco de ser esquecido com eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia

À pergunta sobre a resposta da Comunidade internacional a este drama humanitário, o prelado reconhece que muitas vezes ao entusiasmo inicial se segue o esquecimento, sobretudo quando aparecem outros conflitos, correndo o risco de os primeiros perdem prioridade e até serem esquecidos. No caso de Cabo Delgado, observa Dom Inácio, talvez a sensibilidade era antes maior relativamente aos últimos tempos com a eclosão da guerra da Rússia com a Ucrânia, “onde grande parte da Comunidade internacional concentra agora as suas atenções sobre aquela situação, que também é dramática”.

Problemas continuam, Igreja tenta encontrar respostas

Contudo, os problemas, as necessidades em apoio humanitário para os deslocados de guerra, quer em Cabo Delgado quer nas outras Províncias onde eles se encontram, ainda continuam, disse ainda Dom Inácio que citou o exemplo, da sua arquidiocese (Nampula) onde a Caritas tem um grande projecto que compreende a construção de habitações, a distribuição de alimentos, medicamentos e insumos agrícolas, “mas é tudo coisa muito pequena segundo as nossas limitadas capacidades”. Mas felizmente têm tido apoio de outras Igrejas irmãs, permitindo-lhes oferecer alguma ajuda aos deslocados, e estar com eles.

Tratando-se de um problema que envolve toda a Província eclesiástica norte, Dom Inácio Saúre do plano pastoral de conjunto, para dar uma resposta concertada ao drama dos deslocados que se espalha de dia para dia na região. A nível dos Bispos, por exemplo, tem havido encontros regulares e, desde que o conflito eclodiu, o tema está sempre presente nos encontros para a partilha de informações, ideias, projectos e boas práticas de acolhimento e integração.

A nível pastoral, por exemplo, na diversidade linguística dos deslocados que vêm da Província de Cabo Delgado para outras Províncias, se procura ir ao seu encontro procurando encontrar modos de comunicar com eles. “Este trabalho está em curso, quer dizer, nós os Bispos da Província Eclesiástica Norte, temos tido encontros, os nossos Secretariados de pastoral também nos seus encontros, fazem questão de partilhar ideias, pensamentos, sobre o que se pode fazer com os deslocados de guerra” – enfatiza o arcebispo de Nampula.

Comunidades paroquiais encerradas devido aos ataques terroristas

Um dos efeitos do conflito em Cabo Delgado são as Comunidades paroquiais ainda encerradas às actividades pastorais devido aos ataques terroristas, pelo menos 6 das sete existentes. Mas os deslocados de guerra, assegurou Dom Inácio, são atendidos pastoralmente pelas Paróquias das zonas onde eles se estabelecem e são acolhidos. Na arquidiocese de Nampula, por exemplo, o arcebispo diz estar muito satisfeitos porque as Paróquias estão a ser muito acolhedoras e procuram tudo fazer para inserir e integrar os irmãos na vida da Comunidade, fazendo questão também de se reunirem os cristãos locais com os deslocados para partilhar, conviver e, portanto, há muito acompanhamento neste sentido.

Se tem falado agora de um possível regresso para as zonas que aparentemente parecem já estar em condições de as pessoas poderem voltar, mas para Dom Inácio Saúre, ainda não há certeza da melhoria da segurança nesses sítios, de modo a poder encorajar os deslocados a regressar. No caso da arquidiocese de Nampula, portanto, ainda não se encoraja os deslocados de guerra a regressar às suas terras de origem e se aguarda que, oportunamente as autoridades competentes digam se há condições para regressar, antes de fazê-lo com segurança.

Conhecer as causas da guerra e empenho de todos na busca da paz

O Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique terminou com um apelo dirigido tanto aos fiéis nas nossas Igrejas como à Comunidade internacional, para que continuem a apoiar na busca de resposta ao conflito em Cabo Delgado. O primeiro apelo é de que “todos, todos procuremos o caminho para o fim desta guerra, o fim deste conflito, procurando em primeiro lugar conhecer qual é a causa”, ressaltou o arcebispo usado a metáfora da medicina: “é preciso diagnosticar, conhecer profundamente qual é a causa desta doença, para dar o medicamento apropriado”. Todas as partes, pois, interessadas no conflito de Cabo Delgado procurem saber qual é a causa fundamental deste problema, para ver se se podem encontrar os remédios apropriados para o resolver.

E depois, ninguém esteja indiferente, ninguém pense que não pode fazer nada, mas antes “que todos nos envolvamos”, insistiu Dom Inácio Saúre, “nos demos as mãos para juntos trabalharmos pelo fim desta guerra, as autoridades civis e nós também como Igreja, procurando cada qual fazer a sua parte”, pois para o prelado “todos podemos fazer alguma coisa, se todos nos quisermos envolver, se todos estivermos interessados no fim deste conflito”.

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09 junho 2022, 15:46