Busca

Cookie Policy
The portal Vatican News uses technical or similar cookies to make navigation easier and guarantee the use of the services. Furthermore, technical and analysis cookies from third parties may be used. If you want to know more click here. By closing this banner you consent to the use of cookies.
I AGREE
Fantasiestucke op. 12 n. 7
Programação Podcast
Religiosas e leigos  -  Luanda Religiosas e leigos - Luanda 

Luanda dos contrastes gritantes - Crónica do P. Tony Neves

O P. Tony Neves, Conselheiro geral da Congregação dos Espiritanos, encontra em viagem missionária por Angola. De lá tem enviado algumas crónicas, cujo número um é aqui disponibilizado.

P. Tony Neves - Angola

Desculpem que vos confesse: quando chego a Luanda, gosto de descer à Baixa e passear-me pela Baía. É uma beleza. Pude faze-lo, desta vez, acompanhado pelo P. Eduardo Tchapeseka, actualmente missionário em Espanha. Além do ar fresco do cacimbo, a Baiá oferece uma belíssima vista sobre a Ilha de Luanda e, quando nos voltamos para a cidade, vemos os grandes prédios da marginal e edifícios simbólicos como o do Banco Nacional. Só ficamos ambos tristes por ver que a emblemática fortaleza de S. Paulo foi abafada pela construção de um enorme Centro Comercial! Esta é uma das partes bonitas de Luanda que mostra progresso e bem-estar. Pude passar por outras áreas em grande alvoroço de betão, ficando com a sensação de que tantos arranha-céus não vão ter espaços correspondentes à superfície para carros e peões…

Mas…(e há sempre mas!), fui a outras partes da capital, sobretudo aos musseques, e lá vi o outro rosto da cidade. Cresceu demais, de forma caótica, com kms de habitações rasteiras e muito pobres, albergando milhões de pessoas. Boa parte delas chegaram a Luanda para fugir da guerra que dizimava as populações do interior. Outras vieram à capital à procura das oportunidades de trabalho que, muitas vezes, não aparecem. Uma vez aqui, toca a inventar formas de sobrevivência, nem sempre as melhores. Assim, cresceram e ainda crescem estes bairros onde não há ruas asfaltadas, nem água, nem saneamento, abrindo as portas a toda a espécie de doenças.

Vou dar exemplos, para ser claro. Passei duas noites no Kikolo. Para lá chegar, depois de percorridas boas estradas, entrei em becos de pó e buracos onde muita gente arrisca andar a pé no meio de motos e carros velhos que semeiam o perigo. Há montes de lixo por todo o lado e – garantiram as Irmãs que aí vivem e me acompanharam – que, quando chove, fica um mar de lama, intransitável. Claro que nestes contextos de miséria extrema, além das doenças que provocam muitas mortes, há focos de violência enormes. A insegurança é total, os assaltos violentos são diários e as pessoas vivem sempre com o coração nas mãos. Mas, como me confidenciaram diversos habitantes deste musseque, há que assumir que a vida é um risco contínuo e é preciso, a todo o custo, ganhar o pão de cada dia.

A vida dos musseques tem um lado muito bom: a maioria das pessoas é de uma honestidade e capacidade de trabalho invejáveis. Levantam-se antes do sol, lutam todo o dia e entram em casa noite dentro para preparar algo para os filhos e tentar dormir um pouco. É uma labuta diária que, na maioria dos casos, é também sustentada pela Fé que os motiva e fortalece. As Irmãs com quem estive vivem perto do mercado popular, um enorme espaço a céu aberto onde tudo se compra e vende, ou quase. Ali chegaram há alguns anos e decidiram apoiar a paróquia na pastoral, mas quiseram ir mais longe: tentar abrir janelas de futuro às crianças e jovens, construindo uma Escola, que ainda dirigem. São mais de mil os alunos, que lançam enormes desafios, pois é preciso ajudá-los a crescer. Estas crianças e jovens passam boa parte do tempo entregues a si próprios, naqueles becos do musseque, nem sempre rodeados pelas companhias mais construtivas. Pude constatar que se trata de um trabalho de enorme risco, mas também de grande sentido de responsabilidade social e cristã. Muitos dos adolescentes e jovens que por ali passaram, conseguiram ir longe, tirar o seu curso, encontrar o seu trabalho e construir a sua família. São alguns dos raros sinais de esperança e de futuro que vemos nestas áreas de cidade onde a pobreza é imagem de marca.

Passei também um dia no Bairro Rocha Pinto, num musseque perto do aeroporto, na Paróquia de Nossa Senhora da Paz. Olhando a toda a volta, vêem-se kms de construções frágeis e percebe-se que ali vivem milhares de pessoas, pois estão cheios de gente estes os caminhos estreitos de terra batida. Também ali a Igreja faz um importante trabalho pastoral e social. A Missa dominical que celebrei na Comunidade da Congeral, no Prenda, também me ajudou a perceber a pobreza do povo, mas mostrou-me a alegria e a fé profunda de uma Comunidade Cristã que luta na construção da sua Igreja, para além de assegurar a sobrevivência das suas famílias.

Oiça

Sigo para o Lubango e acompanho o luto nacional pela morte do ex-Presidente Eduardo dos Santos. Voltaremos…

15.07.2022

Tony Neves, nos musseques de Luanda

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

26 julho 2022, 17:33
<Ant
Abril 2025
SegTerQuaQuiSexSábDom
 123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930    
Prox>
Maio 2025
SegTerQuaQuiSexSábDom
   1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031