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ard. Dom Matteo Zuppi durante a conferência de imprensa na catedral de Maputo (Moçambique) ard. Dom Matteo Zuppi durante a conferência de imprensa na catedral de Maputo (Moçambique) 

Moçambique. Dom Zuppi: a paz é sempre possível e deve ser construída por todos

A quase dois meses do 30° aniversário do Acordo Geral de Paz, o arcebispo de Bologna e Presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Dom Matteo Zuppi, realizou nesta sexta-feira (12/08) na Catedral de Maputo uma conferência de imprensa, sob o título “30 Anos de Paz, um Legado para o Futuro”.

P. Bernardo Suate – Cidade do Vaticano

Numa conferência bem participada e moderada pelo Dr. Brazão Mazula, Presidente da Comissão Nacional das primeiras eleições multipartidárias de 1994, Dom Matteo Zuppi começou por sublinhar a importância da conferência: para recordar, disse, a história dos 30 anos de paz, mas numa perspectiva de futuro. E o Cardeal falou da sua primeira viagem a Moçambique, em maio de 1984, quando o País vivia numa situação de emergência alimentar devido a secas, inundações e a guerra civil (contra a Resistência Nacional Moçambicana – RENAMO). O jovem sacerdote Dom Matteo Zuppi era, então, parte da comitiva que trazia as ajudas conseguidas graças aos apelos da Caritas local e do Núncio apostólico Dom Francesco Colassuono.

Sofrimento do povo moçambicano era também nosso sofrimento

Havia, pois, a emergência alimentar, mas para a Comunidade Sant’Egídio o verdadeiro problema era ajudar a resolver as causas da emergência, buscando caminhos da paz – enfatizou o purpurado.

A situação era, de facto, muito complicada, e ninguém na Comunidade de Sant’Egídio pensava em mediar o conflito moçambicano, embora todos sentissem que alguma coisa se devia fazer, antes de tudo porque a paz é sempre possível e depois “porque sentíamos que o sofrimento do povo moçambicano era também o nosso sofrimento”, reiterou o Cardeal.

Dom Matteo Zuppi percorreu o difícil caminho de aproximar o Governo da Frelimo e a Renamo salientando, contudo, que por uma especial providência, tanto o Governo como a Renamo confiavam na Comunidade, ao mesmo tempo que existia em Moçambique uma Comissão ecuménica (constituída, entre outros, pelo arcebispo da Beira Dom Jaime Pedro Gonçalves e o arcebispo anglicano Dom Dinis Singulane), que trabalhava na localização dos membros da Renamo, para o diálogo.

Todos irmãos da mesma família, apesar dos diferendos

Momento fundamental no processo das negociações, e que Dom Matteo Zuppi considera como o segredo ou a “chave” do seu êxito, foi quando as delegações do Governo e da Renamo chegaram a concordar que estão a construir a família moçambicana – era, portanto, um encontro entre irmãos; era, sim, necessário resolver os problemas que haviam levado à guerra, mas entre eles havia um denominador comum, que têm de viver na mesma casa e são membros da mesma família moçambicana.

Contributo de Sant’Egídio em Moçambique

Foi assim que a Comunidade de Sant’Egídio passou de facilitadora para mediadora das negociações, levando as duas delegações à assinatura do Acordo de paz a 4 de outubro de 1992, festa litúrgica de São Francisco de Assis.

Dom Matteo Zuppi falou igualmente do contributo da Comunidade de Sant’Egídio, hoje, na sociedade moçambicana, e em particular daquilo que os seus membros fazem na vida do dia a dia, dando assistência às crianças da rua, lutando contra a pobreza e o HIV/Sida e apoiando os idosos, entre outras actividades.

Trabalho dos moçambicanos construir e fazer crescer a paz

E a terminar uma mensagem para os moçambicanos. Dom Zuppi disse de sentir-se orgulhoso porque, apesar dos problemas, Moçambique representa nos últimos anos o exemplo mais claro de se chegar à paz e defender a paz; e disse ainda que esta é uma responsabilidade hoje quando existem tantos Países que estão em guerra, sem esquecer a violência que está a afligir o norte do País (Província de Cabo Delgado).

Pessoalmente, concluiu o Cardeal Dom Matteo, estou convencido que “a paz é também o nome de Moçambique” e que o País pode ser exemplo para tantos Países que ainda continuam, infelizmente, na guerra. E que o trabalho de todos os moçambicanos é fazer crescer a paz, envolver-se na paz, e construir uma casa verdadeiramente entre irmãos e irmãs.

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13 agosto 2022, 13:00