P. Rafael Simbini: Processo sinodal vem confirmar “Igreja Família de Deus em África”
P. Bernardo Suate, Cidade do Vaticano
Em entrevista ao Vatican News e no âmbito do encontro dos Representantes Continentais e Coordenadores dos Grupos de Trabalho do processo sinodal, organizado pelo Secretariado Geral do Sínodo para os dias 28 e 29 de novembro últimos, o Padre Rafael Simbini, 2° Vice-Secretário do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar (SCEAM/SECAM), sublinhou a importância do evento em que cada Continente partilhou as actividades em curso e a programação até a celebração do Sínodo dos Bispos.
O encontro com os Representantes continentais
“O encontro decorreu num clima fraterno, e foi uma experiência sinodal: um clima de escuta, de diálogo, de discernimento, deixando que o Espírito também nos fale e nos guie”, observou o P. Simbini, reiterando que o próprio Papa Francisco, durante a audiência que concedeu ao grupo, os iluminou com a sua palavra encorajando-os a continuar animados, nos Continentes, nesta caminhada, em Igreja sinodal e missionária.
A Igreja em África esteve também representada pelo Presidente da Equipa Continental, Dom Lúcio Andrice Muandula, Bispo de Xai-Xai (Moçambique) e 2° Vice-Presidente do SCEAM/SECAM e também Presidente da Comissão da Evangelização. Entre as actividades previstas até à celebração continental, em março do próximo ano, explicou o Secretário do SCEAM, esteve antes de tudo a recolha do trabalho feito nas dioceses Conferências Episcopais, do qual foi redigida uma síntese e em seguida enviada ao Secretariado Geral do Sínodo. Foi também constituída uma Equipa representativa de todas as Regiões da Igreja africana para liderar o caminho continental, e formada por 25 pessoas de diferentes estados e situações: Bispos, Padres, Religiosas, Religiosos, Leigos, adultos, jovens, homens e mulheres.
Programa da fase continental do Sínodo
Da síntese recebida das Regiões por sua vez o SCEAM preparou uma outra síntese, enviada à Equipa Continental que, deste modo, pode assimilar o que a Igreja em África disse ao longo do primeiro ano da caminhada sinodal.
O programa de actividades do SCEAM, prosseguiu o Padre Simbini, prevê ainda um encontro nos próximos dias 6 a 8 de dezembro, em Acra (Gana) para o estudo do documento enviado pelo Secretariado do Sínodo, “para ser relido na perspetiva da realidade africana”, enfatizou, em vista Documento Sinodal Africano “com a nossa tonalidade e com as nossas perspetivas.
Em janeiro do próximo ano o grupo se encontrará novamente, desta vez em Nairobi, para acolher o que terá vindo das Conferências, e aprumar ulteriormente o documento final, como preparação da fase final, a continental. De facto, o documento será enviado aos 155 Delegados ao encontro continental, que vai acontecer em Adis Abeba (Etiópia), de 1 a 6 de março, onde partindo das ressonâncias dos Delegados, se poderá melhorar o documento, apresentá-lo, adoptá-lo e realizar a celebração sinodal continental, num grande evento de encerramento aberto a todos e com participantes de todas as partes de África.
Processo sinodal: oportunidade e desafios
A terminar o representante do SCEAM falou do processo sinodal como uma oportunidade, “pois coloca a Igreja em caminho e aberta a todas as sensibilidades, aberta para que todos se sintam em casa e tenham a oportunidade também de dizer alguma coisa”. É por isso que o Papa sempre insiste que devemos escutar a todos, mesmo os que não rezam connosco, ressaltou o Padre Simbini, porque também o Espírito usa o companheiro e o irmão para nos falar e nos guiar.
O processo sinodal é também uma oportunidade que vai cimentar aquilo que a África já tinha como base: sobretudo as Pequenas Comunidades Cristãs onde se faz a experiência da partilha, observou o Padre Simbini. “A África já fez um caminho, e o que a Igreja universal está a propor agora vem confirmar este tipo de escolha da Igreja africana, que se chama Família de Deus em África, pois esta capacidade de caminhar como família, de se escutar, ter os mesmos sentimentos, de se alegrar juntos: é isto que a Igreja em África já vem tentando viver e, agora, tem no processo sinodal uma confirmação, sublinhou o sacerdote.
E sem esquecer os desafios, entre os quais o próprio caminhar juntos que em África, disse, ainda encontra barreiras, “porque em Moçambique e África em geral há problemas de nos sentirmos juntos, ainda as divisões tribais são muito fortes, mesmo no seio da comunidade cristã, e o sentimento de não aceitação do outro como irmão”. Mas são desafios que, com esta experiência sinodal, somos desafiados a mudar e a ultrapassar, concluiu o sacerdote.
Texto integral da entrevista:
1. Como está a decorrer o encontro e quais são as suas impressões enquanto representante da Igreja em África?
Estamos aqui, este é o nosso segundo dia, a convite do Secretariado Geral do Sínodo que nesta fase que está a começar, a fase continental, quis reunir todos os Continentes. Então este foi o encontro para que cada que cada Continente partilhasse com os outros o que está a fazer, como está a fazer e qual é a programação, de agora até à celebração do Sínodo dos Bispos, no próximo ano 2023.
O Encontro está a correr muito bem, num clima muito fraterno, e dizíamos um clima sinodal: um clima de escuta, de diálogo, de discernimento e de deixar que o Espírito também nos fale e nos guie. Claro que o Espírito é Quem sabe onde é que estamos a ir e onde é que vamos chegar. O esforço neste caminho sinodal é mesmo de escutar a voz do Espírito, escutar o irmão e caminharmos juntos. Portanto, é isto que estamos a fazer, é uma experiência sinodal que estamos a fazer aqui. É um grupo grande que representa todo o mundo, e está a correr muito bem.
Ontem, depois das nossas partilhas, fomos recebidos em audiência pelo Santo Padre que também com ele partilhámos o que estamos a fazer nos Continentes, e ele nos deu a sua palavra de luz, de guia, para que continuemos animados nesta caminhada sinodal rumo à transformação da Igreja, e mesmo em Igreja sinodal, missionária.
2. Qual é o contributo específico da Igreja em África nesta fase do processo sinodal?
África está neste encontro representada por duas pessoas: o Presidente da Equipa Continental, Dom Lúcio Andrice Muandula, Bispo de Xai-Xai (Moçambique) e 2° Vice-Presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar (SCEAM/SECAM) e também Presidente da Comissão da Evangelização; e por minha pessoa, nós somos os dois a representar a África.
O que fizemos foi a partilha do que estamos a fazer e o nosso programa. Ainda não é a fase de partilhar a especificidade do fruto da caminhada africana que estamos ainda em processo. Aquilo que fizemos foi mesmo partilhar o que já fizemos e o que ainda está em plano de ser feito, principalmente até março do próximo ano, que será a etapa da celebração continental.
Houve um trabalho feito nas dioceses e nas Conferências Episcopais, e este trabalho foi mandado para Roma (Secretariado Geral do Sínodo) e nós, como SCEAM, pedimos que as Regiões também recolhessem as sínteses das Conferências Episcopais e nos mandassem. Nós fizemos a constituição da Equipa que vai liderar este caminho continental, constituída por 25 pessoas de diferentes estados e situações: temos Bispos, Padres, Religiosas, Religiosos, Leigos, adultos, jovens, homens e mulheres. Estamos todos lá a representar todas as Regiões da Igreja africana.
Portanto, da síntese que recebemos das Regiões por nossa vez fizemos também uma outra síntese, para ser uma síntese do SCEAM, e traduzida nas nossas três línguas (Francês, Inglês e Português), e mandarmos para esses que vão fazer o trabalho da preparação. Assim, eles estão a assimilar o que a Igreja em África disse ao longo do primeiro ano da caminhada sinodal.
E assim, o nosso próximo encontro para trabalhar sobre o documento da fase continental que saiu daqui (de Roma) está marcado para os dias 6 a 8 de dezembro, portanto próxima semana, em Acra (Gana). Então vamos ter três dias a trabalhar neste documento, que é para ser relido na perspectiva da realidade africana. E como nos foi pedido, também temos que depois fazer um outro documento, documento africano sinodal, com a nossa tonalidade e com as nossas perspectivas, , e que vamos mandá-lo cá até 31 de março. Mas antes disso temos ainda um segundo encontro, porque do que vamos fazer neste encontro vai sair um primeiro draft, e este draft vamos mandá-lo às Regiões e às Conferências, para que o leiam e também coloquem os seus comentários e as suas reacções, de modo que do documento haja a resposta ou a ressonância das bases. Porque este documento saiu das bases para cá e então vamos mandá-lo de novo para lá.
E então, voltando, nos encontramos de 20 a 23 de janeiro, desta vez será com o mesmo grupo mas em Nairobi, para acolher o que terá vindo das Conferências, e tentar aprumar mais o nosso documento final. Outro tema e outro objectivo desse encontro é preparar já a fase final, a fase continental. E este documento que vamos melhorar com as ressonâncias que virão das dioceses vamos mandar para as 155 pessoas que serão os Delegados para este encontro continental, que vai acontecer em Adis Abeba (Etiópia), de 1 a 6 de março. E lá vamos fazer o trabalho grande, que será recolher as ressonâncias que virão dos Delegados, melhorar o trabalho, apresenta-lo, adoptá-lo e então fazer a celebração sinodal continental. E estamos a pensar até de fazê-la no Estádio, porque o dia de encerramento será aberto a toda a gente de toda a parte de África, concluindo desta maneira a celebração continental. E então, depois de algumas observações ao documento, pensamos mandá-lo até muito antes do dia 31 de março.
3. Que oportunidades e experiências trouxe para a Igreja em África o processo sinodal e que desafios preveem nesta fase continental?
Comecemos com as oportunidades, porque vemos este Sínodo como uma oportunidade, no sentido de colocar a Igreja em caminho e aberta a todas as sensibilidades, aberta para que todos se sintam em casa e tenham a oportunidade também de dizer alguma coisa. É por isso que o Papa sempre insiste que devemos escutar a todos, mesmo os que não rezam connosco, mesmo os que não têm fé, devemos escutar a todos. E então, acho que a coisa grande como oportunidade, como uma lição grande desta caminhada, é esta capacidade de escutar, de escutar um ao outro, e que também o Espírito usa o companheiro e o irmão para nos falar. Nesta capacidade de escutar o outro, também o Espírito nos vai sugerindo, nos vai guiando.
E é uma oportunidade ainda que vai cimentar aquilo que a África já tinha como base: a experiência sobretudo das Pequenas Comunidades Cristãs onde se faz a celebração da Palavra e quando se encontram uma vez por semana a preparar o Domingo, fazem a celebração com a leitura da Palavra. Mas depois há esta capacidade de condividir (partilhar), e cada um dizer o que é que esta Palavra nos está a dizer. A África já fez um caminho, e o que a Igreja universal está a propor agora vem confirmar este tipo de escolha da Igreja africana, que se chama “Família de Deus em África”. Portanto, esta capacidade de caminhar como família, de se escutar, ter os mesmos sentimentos, de se alegrar juntos: é isto que a Igreja em África já vem tentando viver. E então, agora apanha uma confirmação, portanto este é um passo muito grande que encontramos lá.
E quanto aos desafios, o primeiro desafio é justamente de caminharmos juntos, a comunhão. Um dos temas deste Sínodo é a comunhão, e depois participação e missão. A comunhão que significa também a capacidade de vivermos juntos, e vivermos até em paz. Este ainda é um grande desafio, em Moçambique e não só em Moçambique, mas em África em geral, onde há problemas de nos sentirmos juntos, ainda as divisões tribais são muito fortes, mesmo no seio da comunidade cristã onde as guerras existem, a África sofre de guerras.
Portanto, este caminhar juntos encontra estas barreiras e não chega a ser uma realidade absoluta enquanto em algumas partes de África ainda temos este sentimento de ódio, sentimento de violência, sentimento de não aceitação do outro como irmão. Mas são desafios que, acredito, com esta experiência sinodal, somos desafiados a mudar e a ultrapassar.
Agradeço esta oportunidade e convidamos toda a Igreja, e especialmente a Igreja em África, que continuemos a estar unidos em oração, porque é aquilo que nos vai ajudar a fazer uma boa caminhada, e fazer com que esta caminhada tenha frutos.
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