Basta de se enriquecer na pele dos mais frágeis - Papa na RDC

Bernardo Suate - Kinshasa

Na Missa, consagrada ao tema da reconciliação e da paz, o Papa sublinhou a importância de todos considerarem este momento como tempo para acolher e viver o perdão: tanto para ti, que carregas um fardo pesado no coração e precisas que seja tirado para voltar a respirar, como para ti, que, neste país, te dizes cristão e, todavia, praticas a violência - disse o Papa.

E certamente inesquecíveis as três nascentes de paz, o perdão, a comunidade e a missão. Porque todos somos chamados a ser missionários de paz, ou seja, a dar espaço a todos no coração, a acreditar que as diferenças étnicas, regionais, sociais e religiosas vêm em segundo lugar e não são um obstáculo; e que os outros são irmãos e irmãs, membros da mesma comunidade humana – concluiu o Papa.

Certamente muito tocante foi o encontro com as vítimas da Província do Kivu Norte, no leste do país: “O meu coração está hoje no leste deste imenso país, que não terá paz enquanto esta não for alcançada lá, na sua parte oriental; as vossas lágrimas são as minhas lágrimas, a vossa dor é a minha dor”, disse Francisco, condenando, sem meios termos, as violências das armas, os massacres, os estupros, a destruição e ocupação de aldeias, a pilhagem de campos e de gado que continuam a ser perpetrados na RDC e também a exploração sangrenta e ilegal da riqueza deste país.

A todas as pessoas, a todas as entidades, internas e externas, que movem os cordelinhos da guerra na República Democrática do Congo, saqueando-a, flagelando-a e desestabilizando-a, o Papa lançou um sentido apelo: fazei silenciar as armas, acabai com a guerra. Basta! Basta de se enriquecer na pele dos mais frágeis, basta de se enriquecer com recursos e dinheiro manchados de sangue!

Muito comovente a deposição, pelas próprias vítimas, dos instrumentos de tortura e de morte por baixo da cruz, como sinal de perdão e reconciliação.

Igualmente comovente foi o encontro do Papa, no final do dia, com os representantes de algumas atividades de caridade: leprosos, cegos, surdos-mudos, as Monjas Trapistas de Mvanda, entre outras.

O encontro com os jovens e os catequistas nesta quinta-feira, 2 de fevereiro (3° dia da visita do Papa à RDC) foi uma autêntica festa com música, grupos corais, canto e dança quase ininterruptamente. Usando a imagem da mão, o Papa Francisco indicou aos jovens os cinco ingredientes para construir a paz e um futuro melhor: a oração, a comunidade, a honestidade, o perdão e o serviço.

E convidou-os a escolher sempre o bem, e ainda a vencer o mal com o bem, mal muitas vezes representado pela corrupção, as drogas, a feitiçaria, a violência, a guerra.

O 3° dia do Papa na RDC termina, esta tarde, com o encontro de oração do Papa com os Sacerdotes, os Diáconos, os Consagrados/as, e os Seminaristas, na Catedral de Notre-Dame du Congo, em pleno centro da cidade.