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Cardeal Arcebispo de Kinshasa (RDC), Dom Fridolin Ambongo Cardeal Arcebispo de Kinshasa (RDC), Dom Fridolin Ambongo 

RDC. Cardeal Ambongo apela aos Congoleses para resistirem ao desespero

"Resistir à tentação do desespero e caminhar de mãos dadas para enfrentar juntos os muitos desafios que o País enfrenta", é a mensagem que o Cardeal Fridolin Ambongo dirigiu aos seus compatriotas, por ocasião da comemoração do dia da independência da RDC, em 30 de junho. Em entrevista ao Vatican News, o arcebispo de Kinshasa, que se encontra em Roma, exortou os congoleses a serem solidários.

Stanislas Kambashi, SJ – Cidade do Vaticano

Por ocasião da comemoração dos 63 anos da independência da República Democrática do Congo (RDC), em 30 de junho, o Cardeal Fridolin Ambongo enviou uma mensagem pastoral convidando a resistir ao desespero e a não ceder ao desânimo. Enquanto esta data o encontrava em Roma, onde participava na reunião do Conselho dos Nove Cardeais (C9), o Arcebispo de Kinshasa havia escrito na sua conta Twitter que “a difícil situação do momento não deve ser fonte de desespero".

E exortou "os filhos e filhas deste belo País a estarem de mãos dadas para enfrentar juntos os desafios da unidade e da coesão nacional, os desafios da paz e do desenvolvimento sustentável". Estando ausente do País e não podendo celebrar a Eucaristia juntamente com os seus compatriotas, convidou de modo particular os que lhe escreveram nesta ocasião à oração e à meditação, face à situação que o País atravessa.

Uma comemoração vivida na dor

O Arcebispo de Kinshasa disse de ter constatado que esta comemoração da independência da RDC foi vivida na dor. A sua mensagem por esta ocasião, explicou, foi motivada pelo contexto sócio-político e económico do seu País, que “se poderia resumir numa palavra: uma miséria insuportável para o povo congolês”. Desde 1960, ano da independência do País, “a impressão geral” é que cada ano que passa traz consigo a sua cota de miséria e sofrimento, disse com pesar o purpurado.

As condições de vida dos congoleses não estão a melhorar o suficiente, o País enfrenta uma guerra na parte oriental, causando deslocamentos populacionais e esvaziando aldeias inteiras. O Cardeal Ambongo, que há algumas semanas visitou campos de deslocados em Goma, na província de Kivu Norte, descreveu uma miséria económica que não deixa ninguém indiferente. Ele havia acompanhado o Cardeal Luis Antonio Tagle, Pro-prefeito do Dicastério para a Evangelização e enviado do Papa a esta cidade onde o Santo Padre deveria ir como parte da sua viagem apostólica.

Não ceder ao desânimo, apesar de todos os problemas

A miséria económica e o clima político deletério em que vive o povo congolês podem levar ao desânimo. Nesta situação, o papel do pastor é de apoiar a esperança do povo, recordou o cardeal Ambongo, destacando que os congoleses são um povo que acredita profundamente em Jesus Cristo, nossa esperança. “Para além de tudo o que há de triste e revoltante no País, o povo deve manter acesa a chama da esperança”, sobretudo num dia tão paradigmático como o 30 de junho, “data da independência do nosso País”, insistiu o Cardeal.

De mãos dadas para enfrentar juntos os desafios da RDC

Perante os muitos desafios que o País enfrenta, o Arcebispo de Kinshasa destacou a importância de ser solidários e trabalhar em sinergia. E o Cardeal lamentou que alguns dos seus compatriotas, entre os quais alguns responsáveis, “tenham um prazer malicioso de dividir o povo enquanto o País está a arder por todos os lados com grupos armados no Leste, com o movimento M23… que está a pôr em causa a nossa existência comum”. E recordou a importância de uma boa partilha perante uma situação de escassez de bens e serviços para todos. Infelizmente, observou Dom Ambongo, "um pequeno grupo de pessoas no poder fica com quase todo o bolo e não divide com os outros". E Ambongo condenou e denunciou esta falta de solidariedade e de apoio mútuo.

Envolver-se no processo eleitoral para esperar a mudança

Falando das eleições, marcadas para dezembro de 2023 no seu País, o Cardeal Ambongo convidou os seus compatriotas a manter a esperança de que as coisas poderão melhorar. A Igreja Católica no Congo, através da sua Comissão de Justiça e Paz, continua a organizar a observação eleitoral, esperando que através desta observação eleitoral possa dar o seu contributo para que as eleições decorram em condições aceitáveis, revelou.

As últimas eleições, disse ainda o purpurado, criaram alguma frustração na população, ao ponto de alguns se questionarem se a sua vontade será tida em conta. Consciente deste problema, o prelado congolês exortou “a não cair na tentação do desespero, porque o futuro depende do povo”. Convidou também os congoleses a acompanhar a penúltima mensagem da Conferência episcopal, no final da sua assembleia realizada em Lubumbashi, que os exortava à vigilância em relação a este escrutínio. A Igreja, assegurou Dom Ambongo, está a trabalhar na educação eleitoral, para que a população possa zelar por todo este processo e para que os resultados que forem proclamados estejam em conformidade com a vontade do povo expressa nas urnas.

Falando dos políticos do seu País, o Cardeal Ambongo lamentou a falta de "uma visão política que é essencialmente uma visão ética" e, portanto, um ideal social para o povo. Com várias centenas de partidos políticos na RDC, estes políticos mudam facilmente de campo, para aderir ao que oferece mais vantagem. Felizmente, diz o Arcebispo de Kinshasa, existe uma minoria que faz a diferença e resiste a esta transumância, acredita num ideal político e está disposta a se comprometer pelo bem maior do povo.

O Congo, um diamante que todos querem ter, excluindo os Congoleses

Por ocasião desta comemoração dos 63 anos da independência da RDC, foi muito sublinhada a preocupante situação de segurança, tanto no Leste como no Oeste do País.

Para o Cardeal Ambongo, a este propósito, o problema deste País situa-se atualmente a dois níveis. A nível sub-regional e internacional, o Congo é considerado, como havia dito o Papa, como "um diamante" que todos desejam, mas excluindo os próprios congoleses. O prelado apontou o dedo para as multinacionais ocidentais, mas também chinesas e russas.

Durante a sua visita pastoral a este País, de 31 de janeiro a 3 de fevereiro, o Santo Padre havia apelado a retirar as “mãos” do Congo e da África. Em vez de negociar diretamente com a RDC, estas potências ocidentais se servem infelizmente dos Países vizinhos, lamentou. O Cardeal Ambongo mencionou, como exemplo, o Ruanda, citado em alguns relatórios da ONU como presente e a agir no leste da RDC por meio do grupo armado M23, que cria insegurança em várias zonas deste País. Para o prelado, é “uma pena para um País que viveu os horrores do genocídio contra os Tutsis” agir desta forma.

A nível nacional, o Arcebispo de Kinshasa convidou os seus compatriotas à responsabilidade, “porque tudo o que se faz na sub-região não seria possível se não houvesse a colaboração dos próprios Congoleses, a começar pelos que estão no poder.

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04 julho 2023, 12:00