Marrocos. Cristãos e muçulmanos lado a lado, todos animados pela mesma causa
Cidade do Vaticano
Lucia Valori, paroquiana dos Santos Mártires de Marraquexe, nestas últimas semanas, juntamente com a comunidade da capital marroquina, tem prestado ajuda às vítimas do terremoto que atingiu a zona de El Haouz na última sexta-feira, 8 de setembro. Durante uma pausa nas operações de resgate, Lúcia, que também é presidente de uma associação italiana que se ocupa do diálogo intercultural chamada ‘Med-mari e deserti’ (Mares e Desertos Mediterrâneos e Desertos), partilhou o seu testemunho com a Agência Fides.
“No final da tarde de sexta-feira, 8, mesmo a 'cidade vermelha' tremeu por mais de 30 segundos - escreve Lucia. “Eu vivo com o meu marido, marroquino, na zona moderna, Gueliz, num apartamento no quarto andar. Precipitámo-nos a correr do prédio e saímos para a rua, convencidos de que encontraríamos uma cidade devastada, de tão violento que o terremoto tinha sido. Mas, pelo contrário, verificamos imediatamente que, apesar do grande susto, a cidade tinha resistido bem. Passamos a noite no carro, assim como muitas pessoas em pânico, mas no dia seguinte a vida em Gueliz voltou à normalidade.”
Graças aos turistas, regresso à normalidade foi rápido
“Medina, contudo, a zona histórica, a outra alma da cidade de Marraquexe, a mais famosa e com os prédios mais antigos, infelizmente sofreu desabamentos e desmoronamentos, particularmente nalguns bairros como o bairro hebraico (Mellah). Algumas pessoas perderam as suas casas e as suas lojas, mas, graças também à presença dos turistas, que não saíram da cidade, antes pelo contrário, ofereceram imediatamente o seu apoio, o regresso à quase normalidade foi rápido”.
Enormes danos na zona do epicentro
“Infelizmente, enormes danos, com um enorme número de mortos, se verificaram na zona do epicentro – continua a testemunha que também confirmou que o número de vítimas ultrapassou os três mil. Lá, muitas aldeias situadas nas montanhas do Alto Atlas, habitadas principalmente pela população berbere, indígena de Marrocos, onde as casas são construídas com palha e barro, foram arrasadas ao solo. Histórias humanas de dor incrível, mas também de grande dignidade e aceitação. É comovente ver tantas pessoas que, entre as lágrimas, perante a devastação ao seu redor, ainda conseguem levantar os olhos para o Céu e dizer 'ALHAMDULILLAH', ou seja, 'graças a Deus'.
Marrocos País da hospitalidade e acolhimento
“Marrocos é um País bem conhecido pela sua hospitalidade e acolhimento. E as pessoas que vivem nestas zonas montanhosas são particularmente simpáticas e gentis. Aquelas aldeias agora devastadas tornavam ainda mais belas as paisagens do Alto Atlas, hoje camufladas nas cores das montanhas. Embora não estejam no raio dos circuitos turísticos clássicos, eu também já passei por lá muitas vezes. Aqueles rostos, sobretudo os dos idosos e das crianças, permanecem no coração. Criou-se imediatamente uma incrível cadeia de solidariedade a partir de baixo, além, obviamente, da ajuda institucional que foi oferecida por muitos Países. Pontos de recolha de bens de primeira necessidade um pouco por todo o lado, meios de transporte carregados de mercadorias que circulam continuamente entre Marraquexe e as aldeias atingidas pelo terramoto.
Igreja correu em apoio à comunidade e para visitar lugares do terremoto
A Igreja Católica entrou em ação imediatamente. O Arcebispo Dom Lopez, que também é o presidente da Caritas Marrocos, correu para Marraquexe para dar apoio à comunidade e visitar os lugares do terremoto juntamente com o representante da Caritas local. E, lado a lado com os representantes de outras confissões cristãs presentes em Marrocos, dirigiu uma comovente mensagem de proximidade aos irmãos muçulmanos assim tão duramente atingidos”.
“A paróquia de Marraquexe com o seu pároco Padre Manuel Corullon, a Caritas e muitos voluntários leigos estão a trabalhar arduamente para socorrer as vítimas do terramoto e as tantas crianças órfãs. Marrocos tem uma longa história de convivência com as outras religiões monoteístas. A Igreja Católica tem duas Arquidioceses: Rabat e Tânger e os fiéis católicos presentes são maioritariamente estrangeiros e imigrantes. Aqui o diálogo inter-religioso é vivo, constante e acontece na vida quotidiana, no meio dos irmãos muçulmanos.
Só paixão partilhada pela humanidade pode criar pontes entre nós
Precisamente nestes dias tão dolorosos para este País, me vinha na mente uma frase muito significativa lida há algum tempo num belíssimo livro escrito por Dom Claude Rault: “O deserto é a minha catedral”, no qual o prelado conta a sua experiência na Diocese do Saara Argelino. Dom Rault dizia: “Um diálogo inter-religioso que negligencia o terreno humano, o tecido de relações, gira sobre si mesmo, permanece teórico e sem nenhum impacto na vida dos crentes e da sociedade. Só a paixão partilhada pela humanidade é capaz de criar pontes entre nós e dar sentido às nossas diferenças."
“Este acontecimento tão trágico tornou ainda mais forte e significativa a relação entre cristãos e muçulmanos – conclui Lucia. Estamos a trabalhar juntos lado a lado, empenhando-se cada qual como pode, mas todos animados pelo mesmo espírito e pela mesma causa – com a Agência Fides.
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