Guiné-Bissau - Chefe de Estado autoriza vigia de jornalistas
Casimiro Jorge Cajucam - Bissau
No seu discurso durante um convívio do novo ano com os oficiais do Ministério do Interior, o Chefe de Estado guineense instruiu esta Instituição no sentido de “criar brigadas de escuta das diferentes rádios do país” tendo ordenado a “detenção e tortura de qualquer jornalista que insulte o Presidente ou qualquer membro do Governo”.
Entretanto, convidado a comentar a instrução do Presidente da República, António Nhaga, Decano da Comunicação Social guineense e Bastonário da Ordem dos Jornalistas da Guiné-Bissau, diz que a ordem do Presidente Sissoco Embalo não é bom para a sua imagem e sublinhou que o primeiro a pagar por essa instrução será o próprio Chefe de Estado.
“O efeito de tudo isto quem paga é o Presidente da República. Infelizmente, não tem a noção, (…), por isso, não é bom para a sua imagem e as pessoas ao seu redor deviam ajudá-lo a melhorar a sua comunicação, porque eu acredito que ele não queria dizer isto, queria mostrar que quer um país democrático, mas essa sua declaração vai contra a democracia”, disse o Bastonário.
Para o Bastonário António Nhaga que é também docente universitário, a instrução do Presidente da República, poderia ser vista como uma forma de incentivar os polícias a baterem nos jornalistas.
“A sensação que tenho quando ouvi percebi que esse ato do Presidente da República tem a ver com a comunicação, porque está a incentivar os policiais a baterem nos jornalistas e isso não é a democracia e não devia ser o seu papel. Num Estado democrático, os cidadãos têm direito de exprimir seus sentimentos e ser responsabilizados pelos seus atos”, acrescentou.
Por fim, o Bastonário da Ordem dos Jornalistas, “apelou à classe jornalística a desconfiar de qualquer que seja agente policial”.
Recorde-se que, também, durante um almoço de confraternização, no dia 2 de janeiro, com os oficiais militares nas instalações do Estado-Maior das Forças Armadas, um dia antes, o Chefe de Estado, Umaro Sissoco advertiu que qualquer tentativa de sair as ruas, mesmo que se trate de 50 milhões de pessoas, terá uma resposta adequada; “quem quiser sair que saía", ameaçou.
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