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Mapa do Mali, Africa Mapa do Mali, Africa  (© 2018 Michael Schmeling, Arid Ocean)

Mali: O "Ano Sabático" do Padre Joaquim com os seus sequestradores

O Pe Joaquim Lohe dos Missionários de África, esteve sequestrado por um ano, no Mali, país onde era missionário desde 1981. O missionário declara que durante o tempo que durou o sequestro, nunca sofreu maus-tratos e que teve sempre boas relações com todos. O padre disse ainda que o líder dos sequestradores lhe pediu que os perdoasse "algum dia", o que eu já tinha feito, afirmou.

Cidade do Vaticano

"A Alemanha está em guerra contra nós, tem soldados em Gao, no Mali, e está a treinar o exército maliano com a União Europeia em Kulikoro, nas margens do rio Níger. Fazer reféns é a nossa vingança contra o seu país." Esta é a resposta que o padre Hans Joachim Lohre, dos Missionários de África (conhecidos como os "Padres Brancos") recebeu do líder do grupo JNIM, ligado à Al-Qaeda, que o tinha raptado no Mali no domingo, 20 de novembro de 2022.

Padre Joaquim, conhecido por todos como "Padre Ha-Jo", encontrou sua liberdade pouco mais de um ano depois, em 26 de novembro de 2023. O missionário alemão, que chegou ao Mali em 1981, percorreu com a Agência Fides alguns traços marcantes daquilo a que ele próprio chamou o seu "ano sabático": os doze meses passados nas mãos dos raptores.

"Quando fui feito refém", recorda o padre Joaquim, "tive a graça de permanecer completamente calmo e não senti medo. Eu sabia que os reféns da JNIM são geralmente bem tratados, e vivi esse tempo com fé e oração. A primeira mudança durou 4 dias, depois mais 5 semanas no mato do Sahel, até que, após 2 semanas, um novo grupo de guardas chegou. Eu fiquei no deserto arenoso por 4 meses, com uma rotatividade mensal de guardas que nos mantiveram sob custódia. Em seguida, 6 meses em uma área desértica entre rochas e colinas. Nos últimos meses antes de ser libertado, estive com outros reféns. Nós sempre nos reunimos por uma hora durante as refeições preparadas por um refém que estava conosco, e podíamos conversar sobre tudo."

"Foram meses intensos", diz o missionário. Inicialmente, passei muito tempo com os jovens guardas falando sobre a fé muçulmana e a fé cristã. Durante os quatro meses seguintes, pude rezar. Eu levantava de manhã e ia dormir junto com o pôr do sol. Todos os dias fazia uma caminhada de 30 minutos, tinha duas horas disponíveis para a celebração eucarística, que celebrei segundo as intenções do mundo, da Igreja, da minha família e amigos, dos meus confrades, do povo do Mali, do diálogo inter-religioso.

Celebrava missa todos os dias, partindo o pão e imaginando que tinha vinho também. Depois do almoço rezava o terço durante uma hora e à tarde me dedicava a meditar uma passagem do Evangelho. Durante o Ramadão, mês de jejum para os muçulmanos, "preguei a mim mesmo" um retiro inaciano de 30 dias. Nos últimos meses, eu tinha um rádio e podia ouvir as notícias de manhã e na hora do almoço, e à noite a Rádio Vaticano, as notícias da Igreja universal. Nos fins de semana, também pude assistir a eventos de futebol na Alemanha, Inglaterra, Itália, Espanha e França."

Da conversa com o Padre Ha-Jo emerge uma relação serena com aqueles que o mantiveram refém. O missionário repete que nunca sofreu maus-tratos: "Sempre tivemos relações civis, educadas, respeitosas e algumas até amigáveis. Estavam simplesmente a fazer o seu "trabalho": vigiar-me. O líder dos sequestradores pediu-me que os perdoasse "algum dia", o que eu já tinha feito, assim como os jovens que me mantinham no mato preocupados se fariam algo que pudesse prejudicar-me. Até o motorista do carro que me libertou pediu perdão por quaisquer problemas que tivesse."

O Padre Ha-Jo continua: "Eles fizeram tudo o que podiam para garantir que eu não perdesse nada. Os meus captores JINM/AQMI não eram bandidos do mal, agiam por razões religiosas. Eles exigem uma ordem social baseada nos mandamentos de Deus no Alcorão. Eu também sou religioso e é por isso que nos respeitamos."

No momento da libertação, um dos líderes quis explicar ao padre as razões pelas quais fazem as pessoas reféns. "Há 3 razões", disse ele, "pelas quais tornamos pessoas reféns: a primeira porque o Ocidente, a Europa e a América estão em guerra com os muçulmanos; a segunda para extorquir dinheiro ou resgatar prisioneiros; e a terceira para que não cheguem mais europeus ao Mali, para subjugar os muçulmanos com alguns dos seus comportamentos que não correspondem à nossa cultura."

"No Mali", conclui o padre Joaquim, "todos me esperam: muçulmanos e cristãos, o Instituto de Educação Cristão-Islâmica (IFIC) e o Centro de Fé e Encontro (CFR), a paróquia de Santa Mónica. Rezo por eles todos os dias."

O Mali esteve envolvido em dois golpes de Estado, em agosto de 2020 e maio de 2021 que se somam a uma crise de segurança ditada por revoltas jihadistas no norte do país - com Agência Fides.

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09 fevereiro 2024, 12:12