“Cem anos, duas grandes histórias na Guiné-Bissau"
Dulce Araújo - Vatican News
Dom Settimio foi o primeiro Bispo de Bissau, da era pós- independência, e distinguiu-se pelo seu empenho evangélico e pela paz, enquanto que Amílcar Cabral se empenhou, até ser assassinado em 1973, pela independência e pelo progresso humano dos guineenses e dos cabo-verdianos com uma grande visão humanística.
A Igreja de Verona, terra Natal de Dom Settimio, tem em programa para a tarde deste sábado 15 de junho, um Colóquio sobre o Centenário destas duas figuras. Os oradores serão o Bispo de Verona, Dom Domenico Pompili, Dom José Camnate Na Bissign, que foi sucessor de Dom Settimio à frente da Diocese de Bissau (de 1999 a 2020), o jornalista e filósofo, Filomeno Lopes, e ainda Filomena Pereira, Frei Alberto Bosquetto e Marta Iala.
Ainda nessa tarde será apresentado o livro “Settimio Arturo Ferrazzeta, testemunho do Evangelho na Guiné-Bissau” da autoria do Padre Sergio Marcazzani. Uma edição do Centro Missionário Diocesano em português e italiano - informa um comunicado da Igreja de Verona sobre o evento.
Domingo haverá, em Selva di Progno, uma celebração eucarística em memória de Dom Settimio, presidida por Dom José Camnate, e será inaugurado um “percurso narrativo” de dois quilómetros, intitulado “A caminho, em direção à casa Ferrazzetta”. Uma estátua e seis painéis em pedra típica dessa zona, com traços biográficos, imagens, cartas, provérbios africanos e anedotas, narram o percurso de Dom Settimio desde a morte em Bissau, em 1999, até ao seu nascimento em Selva di Progno, em 1924. A sua casa é assim transformada em Casa/Museu.
O encontro do domingo concluir-se-á com almoço e festa, animada por “Mundjundan”, danças populares da Guiné-Bissau, ao som do bombolom, que celebram pessoas importantes, sublinha ainda a nota de imprensa. Guineenses de vários países da diáspora deslocam-se a Verona para participar no evento.
Também na Guiné-Bissau há eventos da Igreja para recordar Dom Settimio Ferrazzetta - revela um casal de voluntários veroneses, Fidei Donum na Diocese de Bafatà: Giulio Leso e Flora Massari.
“Nós tínhamos participado na formação desta comissão em Itália para a celebração dos cem anos, comissão que partiu já em 2020, e indo para a Guiné-Bissau e mesmo já antes, solicitamos que fosse criada também lá uma Comissão Ferrazzetta para o centenário. Essa Comissão de caracter inter-diocesano tem procurado impregnar, sobretudo através de ações, eventos, criatividade de vários tipos, todas as ações pastorais e não só no seio das duas dioceses. Isto fez com que a atenção fosse também para Amílcar Cabral e então com a Universidade Católica e outras Fundações que estão presentes em Bissau, se pensasse em colóquios semelhantes ao que decorre este fim de semana em Verona, mas também atuações musicais, teatro, vai haver um radio-drama na Radio Solmansi, precisamente para dar a possibilidade de conhecer Dom Ferrazzetta e voltar a ver como foi a história, porque o temor é que a história seja esquecida. Amílcar Cabral é pouco estudado no país atualmente e então, vale a pena voltar àqueles passos que deram grande fôlego.”
"As atividades se concluirão com a festa de 8 de dezembro, aniversário de nascimento de D. Settimio Ferrazzetta - explica por sua vez, Giulio Lesa, afirmando que “daqui até lá há muitos pontos agendados com celebrações, encontros, também a nível social neste momento difícil momento histórico do país.”
“Sim - acrescenta Flora - é uma situação difícil do ponto de vista político e social, por isso a possibilidade de se debruçar sobre o pensamento de que “a verdade vos tornará livres”, analisado do ponto de vista evangélico e também social, dá uma esperança a esta população que é submetida a uma dura provação."
Bafatá é a cidade da Guiné-Bissau, onde nasceu Amílcar Cabral. Isto é sentido na população ao lado de toda a herança de valores evangélicos deixada por Dom Settimio, perguntamos a Giulio Lesa e Flora Massari?
“Sim é muito sentido pela população; ele é considerado o Pai fundador da Pátria e é bizarro, mas também Dom Settimio entrou, não oficialmente, mas pelo menos nos sentimentos das pessoas como Pai fundador da Pátria. E Bafatá é precisamente a terra de nascimento de Amílcar Cabral, neste momento é, contudo, difícil, de um ponto de vista político, celebrar esta figura porque é vista como subversiva em relação a quem está no poder neste momento.”
Entretanto, o centenário de nascimento de Amílcar Cabral está também a ser celebrado de 10 a 16 de junho, num duplo evento, da iniciativa da Rosa de Porcelana Editora
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