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Filas para distribuição alimentar no Campo de deslocados internos de Agari, no Kordofan do Norte (Sudão) Filas para distribuição alimentar no Campo de deslocados internos de Agari, no Kordofan do Norte (Sudão)  (AFP or licensors)

Bispos do Sudão lamentam "imenso sofrimento" devido à guerra

Numa declaração divulgada após a reunião da Conferência dos Bispos Católicos do Sudão (SCBC), os Bispos lançam o alarme sobre "o nível inacreditável de violência e ódio" que está a dilacerar o tecido da sociedade sudanesa.

Por Linda Bordoni

Não nos podemos distanciar" do que está a acontecer no Sudão desde que a guerra eclodiu no País em abril de 2023, afirmam os Bispos católicos do Sudão que descrevem "horrendos crimes de guerra e abusos dos direitos humanos cometidos por ambas as partes".

Numa declaração emitida pela Conferência dos Bispos Católicos do Sudão e do Sudão do Sul, após uma reunião que terminou no sábado em Juba, os Bispos apelam ao fim da guerra, à prestação de assistência humanitária, à defesa da paz e à preparação da reabilitação pós-conflito, da reconstrução e da cura de traumas.

15 meses de guerra

A luta pelo poder entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF) eclodiu num conflito de grande escala em abril do ano passado. Segundo estimativas conservadoras, o conflito matou pelo menos 15.500 pessoas, enquanto algumas estimativas apontam para 150.000. Antes do conflito, o Sudão já estava a viver uma grave crise humanitária, com quase 16 milhões de pessoas a necessitar de ajuda humanitária. Atualmente, há 25 milhões de pessoas - mais de metade da população do Sudão - a necessitar de ajuda, incluindo cerca de 12 milhões de pessoas que foram deslocadas das suas casas - e que são alegadamente sujeitas a abusos em total desrespeito pelo Direito Humanitário.

Níveis de violência e de ódio inacreditáveis

Os Bispos sudaneses escrevem que "o tecido da sociedade sudanesa foi dilacerado, com as pessoas chocadas, traumatizadas e incrédulas com o nível de violência e ódio".

"Não se trata apenas de uma guerra entre dois generais", prossegue a declaração, referindo que "os militares estão indissociavelmente ligados à vida económica do País, e tanto as Forças Armadas Sudanesas (SAF) como as Forças de Apoio Rápido (RSF) têm uma rede de ricas elites Sudanesas, indivíduos internacionais e cartéis que beneficiam do seu controlo de vários sectores da economia".

Para além do que os Bispos descrevem como "horrendos crimes de guerra e abusos dos direitos humanos cometidos por ambas as partes", sublinham que a população está a sofrer um desastre humanitário catastrófico num contexto em que "não há sequer uma pista para a luz do diálogo de paz que possa trazer esperança aos sudaneses".

Manifestando a sua preocupação pelo facto de os líderes das partes beligerantes não estarem prontos para a paz, os prelados afirmam que "chegou o momento de pensarem no povo e na nação", salientando que "quanto mais as pessoas se dispersam, mais cresce o ódio entre os vários grupos étnicos sudaneses".

Gratidão pelos apelos e pela preocupação do Papa

Na declaração redigida pela Conferência Episcopal conjunta do Sudão e do Sudão do Sul, os membros expressam a sua gratidão ao Papa Francisco por ter manifestado repetidamente a sua preocupação com o Sudão e o País vizinho e pelos seus apelos à paz e à proteção dos refugiados.

Levantando a voz para condenar as atrocidades perpetradas contra civis inocentes no Sudão, escrevem: "Condenamos os assassinatos, violações e pilhagens de civis por todas as partes e apelamos à responsabilização pelos seus crimes". Juntando-se ao apelo do Papa à paz e ao diálogo, lançam um apelo aos que estão envolvidos em combates para que "deponham as armas e entrem em negociações de paz significativas".

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04 julho 2024, 10:49