"Durante a guerra, o povo em Tigray viveu o inferno", denuncia Bispo Dom Tesfaselassie Medhin "Durante a guerra, o povo em Tigray viveu o inferno", denuncia Bispo Dom Tesfaselassie Medhin  (AFP or licensors)

Etiópia. Bispo de Adigrat destaca violações dos direitos humanos na guerra de Tigray

O Bispo da Eparquia Católica de Adigrat, Dom Tesfaselassie Medhin, partilhou com a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) relatos angustiantes de violações dos direitos humanos resultantes do conflito de 2020 a 2022 na região de Tigray, no norte da Etiópia.

Cidade do Vaticano

Numa recente visita à sede da AIS em Königstein, na Alemanha, o Bispo descreveu em pormenor a extensa violência sexual contra mulheres e raparigas e os desafios que a sua diocese enfrenta atualmente, incluindo a ocupação contínua e a insegurança das estradas: "Durante a guerra, estávamos completamente isolados; a Internet e os telefones não funcionavam e quase não podíamos sair de casa, porque havia grupos armados por todo o lado", contou Dom Medhin, descrevendo o "verdadeiro pesadelo" de não saber o que estava a acontecer aos fiéis da sua diocese durante esses dois anos.

Conflito, um ato genocida contra o povo Tigray

Dom Medhin condenou o conflito como um ato genocida contra o povo Tigray, relatando actos horríveis de violações em grupo, assassinatos e bloqueios de fornecimentos de ajuda humanitária. Calculou mais de um milhão de mortos e sublinhou os graves danos psicológicos e materiais infligidos, tendo só a Igreja sofrido perdas de cerca de 40 milhões de dólares. O Bispo referiu também o elevado risco de suicídio entre as vítimas de violações que enfrentam um enorme estigma e trauma.

"O povo em Tigray viveu o inferno, houve violações em grupo e assassínios à frente das famílias; até crianças e mulheres idosas estavam entre as vítimas. Mais de um milhão de pessoas foram mortas. Houve torturas e massacres. Os fornecimentos de ajuda humanitária foram bloqueados", disse o Bispo, cuja diocese abrange toda a região de Tigray, devastada pela guerra. Dom Medhin manifestou ainda a sua profunda preocupação com o impacto atual destas atrocidades, em particular com as cicatrizes psicológicas deixadas nos sobreviventes.

"Situação humanitária catastrófica em Tigray"

Em setembro de 2022, a Comissão Internacional de Peritos em Direitos Humanos das Nações Unidas para a Etiópia já falava de uma "situação humanitária catastrófica em Tigray". Em junho de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que havia mais de 2,8 milhões de deslocados internos. Apesar de a guerra estar a chegar ao fim, a situação em Tigray continua a ser precária. Um terço da diocese está ainda ocupado e os serviços essenciais, como a educação, estão gravemente afectados. As escolas continuam fechadas e mais de 50 mil deslocados estão retidas em Adigrat, sem poderem regressar a casa. O Bispo criticou a falta de resposta internacional à crise atual, questionando como é que o mundo pode permanecer passivo face a tanto sofrimento.

Dedicação do clero que permanece em Tigray apesar das dificuldades

O Bispo Medhin elogiou a dedicação dos seus colegas do clero, que permaneceram em Tigray e continuaram a servir apesar dos perigos. Reconheceu também o apoio da AIS, que tem sido crucial para os projectos de cura de traumas em curso. Os esforços da diocese incluem programas baseados na Bíblia, concebidos para ajudar na recuperação psicológica e na integração da fé na cura.

Olhando para o futuro, Dom Medhin sublinhou a necessidade contínua de apoio da AIS e de outras organizações para tratar das feridas físicas e espirituais infligidas pelo conflito. Insistiu em que toda a ajuda é inestimável à medida que Tigray avança lentamente para a recuperação, embora a paz continue a ser difícil de alcançar em algumas áreas. Tigray, situada no norte da Etiópia e fazendo fronteira com a Eritreia e o Sudão, é predominantemente cristã, com a Igreja Ortodoxa Etíope Tewahedo a representar cerca de 95% da população - com a agência CISA África.

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01 agosto 2024, 13:27