Margareth Menezes – Cultura, como Artista e como Política
Dulce Araújo - Vatican News
Margareth Menezes visitou recentemente alguns países da Europa, incluindo a Itália, onde representou o Brasil na reunião dos Ministros da Cultura do G7, realizada em Nápoles (21-22/9/2024) sobre o tema "Cultura como instrumento para o desenvolvimento sustentável", com foco no Continente Africano.
Em Roma, para além de se encontrar com o Ministro da Cultura, Alessando Giuli, com o Presidente da Câmara Municipal, Roberto Gualtieri, com a comunidade brasileira, a Ministra esteve também no Vaticano, onde se reuniu com o Prefeito do Dicastério do Dicastério para a Cultura e a Educação, Cardeal José Tolentino de Mendonça, tendo ficado perspetivadas ações culturais conjuntas para marcar, em 2027, o bicentenário das relações diplomáticas entre a Santa Sé e o Brasil.
Mas, o mais emocionante para a Ministra, terá sido a saudação ao Papa Francisco na audiência geral de quarta-feira, 18/9/2024, tendo transmitido ao Santo Padre os cumprimentos do Presidente Lula da Silva e o pedido para que reze pelo Brasil – revelou Margareth Menezes em entrevista ao Programa Brasileiro da Rádio Vaticano, em que enalteceu o alto valor espiritual desse momento.
Na entrevista falaram ainda, entre outros assuntos, da figura de Santa Dulce dos Pobres, canonizada há cinco anos, e cujas obras sociais, Margareth Menezes definiu de “milagre contínuo para o Brasil.”
A Ministra concedeu também uma entrevista à emissão semanal da Rádio Vaticano, “África em Clave Cultural: personagens e eventos” em que foram focalizados temas como a cooperação entre a África e o Brasil e a luta dos afro-brasileiros pela conquista dos seus direitos.
Os meus ancestrais são os meus heróis
Confrontada com a pergunta acerca da tendência, por vezes, a atribuir a precariedade social dos afro-brasileiros a eles próprios, considerados incapazes de melhorar a sua situação, Margareth Menezes reagiu energicamente, definindo essa visão das coisas preconceituosa, arcaica e ofensiva, na medida em que as conquistas dos negros no Brasil pelos seus direitos têm sido à custa de muita luta. Ela recorda que o povo afro-brasileiro nunca recebeu nenhuma reparação pelos 388 anos de escravidão e pelas injustiças da era pós-abolição no país. Felizmente, sublinha, o atual Governo está a pautar corajosamente para o debate sobre políticas reparatórias e, sendo o Presidente Lula da Silva sensível a essas temáticas, também a cooperação com a África está a ser retomada e reforçada – referiu. E a Fundação Palmares, institução que cataliza e encaminha para as devidas instâncias govenamentais as aspirações da população afro no país, está a ser redinamizada para esse efeito. A Ministra sublinha ainda que tem havido, sim, algum progresso na construção de um Brasil igualitário e justo para todos, mas o Movimento Negro continua a lutar pela descontrução do racismo estrutural persistente “para apagar, para corrigir essa distorção”. E a sua ação como artista negra baiana, com 36 anos de carreira, vai de forma natural, nesta direção. Não que tenha pretensões de ser modelo, mas não tem dúvidas de que o seu canto reflete a realidade do seu povo e se inspira nos seus ancestrais, seus heróis. “Os meus ancestrais são os meus herois”.
Salvador, capital da Diáspora africana, VI Região da UA
Contudo, em sintonia com o Governo encabeçado pelo Presidente Lula da Silva, Margareth não deixa de sublinhar que a política do Ministério, cuja pasta detém, é a do acolhimento das contribuições e riquezas culturais de todos os povos do Brasil. E sendo mais de metade da população total brasileira de origem africana, a pauta da promoção cultural passa também pela retomada e pelo fortalecimento da cooperação com a África. Tema que está muito a peito ao Presidente Lula. Aliás, passos já estão a ser dados neste sentido, frisa a Ministra, referindo-se à Conferência da Diáspora Africana nas Américas, realizada em Salvador da Bahia (29-31/8/2024) pela União Africana e o Togo em parceria com o Governo Federal e o Governo do Estado da Bahia. Nessa ocasião, recorda, a Bahia, Estado com maior número de negros fora da África, foi declarada capital da VI região da União Africana, ou seja, a Diáspora. Esse encontro precedeu, já em jeito de prepação, o 9º Congresso Panafricano que terá lugar no Togo de 29 de outubro a 2 de novembro de 2024 sobre o tema da “Renovação do Panafricanismo e o Papel da África na Governação Global: Mobilizar Recursos e Reinventar-se para Agir.” (cfr. mdh.gov.br). A própria Ministra tem em formatação uma visita a diversos países da África para o reforço da cooperação cultural.
Acompanhe aqui a emissão “África em Clave cultural: personagens e eventos” com as palavras da Ministra e actuações canoras em que canta os seus ancestrais, como a célebre canção “Faraó” que marca (faz notar, o poeta, ensaísta e editor, Filinto Elísio, na sua crónica sobre a trajetória da artista e política, Margareth Menezes) uma etapa importante na sua carreira musical.
Década dos Afrodescendentes (2015-2024)
Um outro ponto importante abordado na entrevista com a Ministra da Cultura foi a “Década dos Afrodescendentes”, proclamada pela ONU com três objetivos: Reconhecimento, Justiça e Desenvolvimento.
Muitas das ações do Ministério da Cultura, no que toca especificamente ao povo afro, vão na direção desses objetivos, sublinha a Ministra, fazendo notar, todavia, que se trata de uma ação transversal que abrange também, por exemplo, o Ministério para a Igualdade Racial. De qualquer modo, na visão de Margareth Menezes, a Década tem um valor simbólico, dado que construir melhores dias para os afrodescendentes no mundo é uma tarefa de longa duração. O importante - diz - é observar a História e ter a coragem de dar passos em frente no sentido duma nova e melhor convivência humana e com a natureza.
Por fim, à pergunta se o ser artista com anos de carreira facilita o seu trabalho de Ministra da Cultura, Margareth Menezes responde que é com a percepção do que falta, por já ter vivido e ter conhecimento disso, que procura dar a sua contribuição para a política inclusiva do Ministério.
“Queremos fazer uma política cultural no Brasil que acolha toda a diversidade da cultura brasileira e que possa trazer oportunidades, visando construir um MinC e um ambiente cultural mais potentes para a nova geração que está chegando.”
A entrevista na íntegra:
E no link abaixo a entrevista ao Programa Brasileiro sobre os encontros da Ministra no Vaticano e Itália.
https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2024-09/ministra-da-cultura-margareth-menezes-encontra-papa-francisco.html
Primeira e segunda fotos - página fb da Ministra da Cultura.
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