Busca

O livro "Cartas de Amílcar Cabral a Ana Maria: entre mim e ti aconteceu amor"  a ser lançado a 12/9/24 em Lisboa O livro "Cartas de Amílcar Cabral a Ana Maria: entre mim e ti aconteceu amor" a ser lançado a 12/9/24 em Lisboa 

Um livro no dia do I Centenário de nascimento de Amílcar Cabral

Hoje, 12 de setembro, é o I Centenário de Nascimento de Amílcar Cabral. De entre as iniciativas em sua memória, o lançamento, em Lisboa, do livro Cartas de Amílcar Cabral a Ana Maria: entre mim e ti, aconteceu amor; um espelho do seu amor pela família e aspetos políticos da luta de libertação - revelam os organizadores da obra: Ndira Cabral, filha do casal; Filinto Elísio e Márcia Souto, editores, e a historiadora, Ângela Coutinho que, na introdução, enaltece também a figura de Ana Maria Cabral.

Dulce Araújo - Vatican News

É hoje, 12 de setembro, o centésimo aniversário de Amílcar Cabral. Nasceu, de facto, a 12 de setembro de 1924, em Bafatá, na Guiné-Bissau, de pais cabo-verdianos. É difícil dar conta das diversas iniciativas de caracter cultural, desportivo, de análise da sua vida e obra, que têm pontuado este centenário em países da África, Europa, Américas, e que continuam ainda. São iniciativas sobretudo da sociedade civil, como a que vai haver na tarde deste dia 12, em Lisboa, no âmbito do I Encontro de Artistas e Escritores Guineenses, promovido pela Comissão Instaladora da Casa da Cultura da Guiné-Bissau. Trata-se do lançamento do livro Cartas de Amílcar Cabral a Ana Maria: Entre mim e ti, aconteceu Amor”, organizado por Ndira Cabral, filha do casal, por Filinto Elísio e Márcia Souto, da Casa Editora Rosa de Porcelana,  e da historiadora Ângela Benoliel Coutinho, a quem tocou fazer a introdução e notas.

O programa semanal “África em Clave Cultural: personagens e eventos” que tem Filinto Elísio como parceiro, foi hoje sobre esta importante efeméride, abrindo-se precisamente com a crónica deste poeta e ensaísta, que aqui reproduzimos:

Amílcar Cabral e a singela homenagem da Rosa de Porcelana Editora no ano de seu Centenário de Nascimento

"Estamos em tempo Centenário de Amílcar Cabral, personagem definida por Nelson Mandela, antigo líder de libertação contra o Apartheid e presidente da República da África do Sul.

Em celebração do Centenário, que se completa neste dia 12 de Setembro, data efeméride ao seu nascimento em Bafatá, Guiné-Bissau, em 1924, a Rosa de Porcelana Editora apresenta em Lisboa, mais precisamente na Torre do Tombo, “Cartas de Amílcar Cabral a Ana Maria: Entre mim e ti, aconteceu Amor”, organizado por Ndira Cabral, Filinto Elísio e Márcia Souto livro que tem o texto Introdutório e notas: dispersas da Historiadora Ângela Benoliel Coutinho.

Estas cartas, até agora desconhecidas dos estudiosos e do grande público, fazem ressaltar a vida afetiva, conjugal e familiar de Amílcar Cabral e permitem revelar facetas deste líder, elementos que, à luz da crítica genética, ajudam à compreensão de vários aspetos da conjuntura e das tomadas de decisão durante o processo da luta armada, política e diplomática pelas independências da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.

Neste livro, que leva chancela conjunta da Rosa de Porcelana Editora e da Imprensa Nacional (de Portugal), sublinha-se de forma nítida o papel de Ana Maria Cabral como companheira de luta de Amílcar Cabral e fica evidente a sua inscrição ativa e dinâmica, muito para além da interlocução amorosa e conjugal, como parte da engrenagem história no afrontamento anticolonial. Esposa e companheira, mas também e sobretudo, Camarada.

Conhecer Cabral pelo lado da narrativa

Conhecer Cabral, pelo lado não iluminado pela narrativa histórica faz parte de um projeto maior da Rosa de Porcelana Editora, de publicar e fazer circular dados e factos não oficiais e até não canonizados sobre este líder. Por ora, tem sido uma tríade, se considerarmos dois outos títulos já publicados, a saber-se o “Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena: a outra face do Homem”, em 2016, organizado por: Iva Cabral, Márcia Souto e Filinto Elísio, com cartas escritas a Maria Helena Vilhena Rodrigues, no período de 1946 a 1960, marcando a relação amorosa e as tensões e conflitos histórico-existenciais da relação do casal no contexto de um Portugal, na altura, fascista e colonial, em que imperava o racismo e a segregação, com  novos paradigmas de diálogos interculturais e inter-raciais, com elementos matriciais de uma interpelação humanista suscetíveis de provocar interesse em face dos atuais acontecimentos mundiais.  Esta edição tem textos introdutórios e de enquadramento Pedro Pires, Inocência Mata e Carlos Lopes.

Outro livro, intitulado “Itinerários de Amílcar Cabral”, publicado em 2018, foi organizado por Ana Maria Cabral, Filinto Elísio e Márcia Souto, compõe-se de postais inéditos de Amílcar Cabral, a refletir uma série de impressões de viagens e lugares, no afã de ampliar o campo diplomático da sua causa de libertação dos povos africanos, especialmente da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.

Visão global e humanista

Fica patente no livro que Cabral, em pleno período da Guerra Fria, com o mundo bipolar e marcado pelas ideologias, atravessava várias fronteiras e afirmava uma visão global e humanista. A primeira parte conta com textos de António Guterres, Guilherme d'Oliveira Martins, Jorge Carlos Fonseca e José Maria Neves, e contextualização histórica de Aurora Almada e Santos.

Neste Centenário de Amílcar Cabral, com eventos oficiais, académicos, sociais e culturais em várias paragens do mundo e com a participações de diversas entidades e personalidades, revelando tratar-se da mais ilustre figura africana do século 20 e um dos vultos da História Universal, sondar, achar e divulgar, garimpar se se quiser, elementos sobre a vida e obra de Cabral tornou-se um objetivo da Editora."

Oiça

Para a Professora Márcia Souto, co-fundadora da Rosa de Porcelana Editora, organizar esta obra, foi uma experiência entusiasmante e acrescida pelo Centenário; ela explica as razões do subtítulo da obra e sublinha que o livro evidencia ulteriormente o que já se sabia em relação ao valor que Amílcar Cabral atribuía às mulheres e ao respeito que tinha por elas. Márcia Souto fala ainda de uma outra obra dada à estampa neste 2024 pela Rosa de Porcelana Editora com o selo dos 100 anos de nascimento de Amílcar Cabral, e de outras que poderão sair ainda este ano.

Oiça as suas palavras
Filinto Elísio e Márcia Souto - Rosa de Porcelana Editora
Filinto Elísio e Márcia Souto - Rosa de Porcelana Editora

A filha do casal Amílcar e Ana Maria Cabral, Ndira Cabral, põe em relevo o amor que o pai tinha pela mãe, o aspeto romântico de Amílcar e o seu tratar a esposa de igual para igual, um exemplo para tantos homens.

Oiça as suas palavras

Ângela Coutinho, historiadora, que esteve envolvida na vinda a público dessas cartas desde o início e que teve a tarefa de fazer a introdução e notas, põe em relevo, para além do retrato de Cabral que emerge das missivas, a trajetória de Ana Maria Cabral, da qual - sublinha - se fala pouco. Salienta ainda alguns aspetos políticos relacionados com as viagens diplomáticas de Amílcar Cabral, patentes nas cartas e que poderão ser de interesse para os estudiosos da luta de libertação. 

Oiça aqui as suas palavras
Ângela Coutinho
Ângela Coutinho
Aqui o podcast da emissão "África em Clave Cultural: personagens e eventos"

 

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

12 setembro 2024, 15:14