Busca

Cardeal Fridolin Ambongo Cardeal Fridolin Ambongo  (AFP or licensors)

África - Vítimas da exploração mineira, mártires dos tempos modernos

No contexto dos 60 anos de canonização dos Mártires do Uganda, ocorrida a 18 de outubro de 1964, o Cardeal Fridolin Ambongo, Arcebispo de Kinshasa e Presidente do SCEAM, fez em Roma, no dia 12 de outubro de 2024, uma conferência em presença e on line, sobre o tema: “Mártires modernos, vítimas da exploração dos recursos minérios em África: realidades e perspetivas para a Igreja em saída”.

Mvuato Sebastião Miezi - Vatican News (com Zenit)

Inspirando-se na encíclica do Papa Francisco “Laudato Sì”, o Cardeal começou por perguntar-se que lições e que perspetivas hoje, para a Igreja em saída, perante o grande desafio das vítimas da exploração dos recursos minérios em África, autênticos mártires dos tempos modernos?

Abraçando a questão do ponto de vista teológico, o Cardeal explicou que em sentido estrito e conforme o Catecismo da Igreja Católica, o mártir é aquele que dá testemunho da verdade da fé. No entanto, na história da revelação, vários elementos teológicos iluminam o significado do martírio, entre os quais, as sementes da Palavra, plantadas em diferentes tradições e culturas. Assim, todos aqueles que morrem pela verdade e pela justiça são considerados mártires e têm valor para os cristãos. Podemos, então, deduzir que os mártires modernos são todas as pessoas que foram mortas por se recusarem a deixar a sua terra, que pagaram com a sua vida a defesa da verdade, da justiça e da paz - disse o Prelado.

As expressões dos mártires modernos em África

O Cardeal Ambongo explicou ainda que, tal como os Mártires do Uganda que deram a vida em defesa dos valores cristãos, há pessoas que estão a morrer hoje devido à exploração ilegal de minerais. E deu o exemplo do seu país, a República Democrática do Congo, onde situações do género são flagrantes, dado o paradoxo entre “a abundância de recursos no país e a pobreza do povo congolês”. Na sequência dos conflitos provocados pela exploração destes recursos naturais, os bispos congoleses fizeram esta declaração: “Em vez de contribuírem para o desenvolvimento do nosso país e beneficiarem o nosso povo, os minerais, o petróleo e as florestas tornaram-se as causas da nossa desgraça. Como podemos compreender que os nossos concidadãos se vejam despojados das suas terras, sem qualquer indemnização ou contrapartida, por causa das áreas concedidas ou vendidas a esta ou àquela empresa mineira ou florestal? É aceitável que os trabalhadores congoleses sejam tratados aqui e ali sem respeito pelos seus direitos e pela sua dignidade?

Perspetivas para a missão profética da Igreja em saída

O Arcebisp de Kinshasa recordou depois que o martírio de Carlos Lwanga e dos seus companheiros, o de Anuarite, de Bakanja e de outros mártires africanos, aconteceram em contextos de violência gerada pela guerra e pela sede de poder e de bens materiais. À semelhança disso, hoje assiste-se em vários países da África à morte prematura de muitas pessoas, vítimas da ganância das multinacionais que exploram os recursos minérios do continente.  

Diante dessa realidade, o Cardeal afirmou que a Igreja deve exercer corajosamente a sua missão profética, denunciando as injustiças. A Igreja em saída deve agir como o Bom Samaritano.  Deve estar ao lado das vítimas marginalizadas e abandonadas à beira do caminho, trabalhando pacientemente para as curar, para as tirar da miséria.

Educação ambiental

Esta missão exige que a Igreja ponha em prática uma educação ambiental adequada e mecanismos de participação das comunidades locais na gestão responsável do seu património ambiental. Mas, a Igreja deve sobretudo exercer esta missão junto dos decisores políticos, tanto a nível nacional como internacional, a fim de encontrar soluções para os conflitos atuais e para prevenir ou enfrentar as oportunidades que podem provocar novos conflitos.

A concluir, o Cardeal Ambongo afirmou que a Igreja em saída, apesar de todas estas tragédias, deve continuar a transmitir incessantemente a mensagem de esperança em Cristo ressuscitado. E, fortalecida pela esperança cristã, a Igreja participa na transformação das nossas sociedades.

Missa em São Pedro 

Neste sábado, 19 de outubro, ao meio dia, será celebrada uma missa em São Pedro para comemorar o 60º aniversário da canonização dos Mártires do Uganda. A missa será presidida pelo Cardeal Peter Turkson, Chanceler da Academia Pontificia das Ciências, enviado especial do Papa Francisco para esta ocasião.

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

18 outubro 2024, 16:41