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Ildo Lobo - A voz eterna de Cabo Verde

Ildo Lobo, “figura incontornável entre os músicos de Cabo Verde” - Assim o vê D. Ildo Fortes, que gosta de cantar e tocar e tem o Ildo no seu repertório. A ele nos recorremos para, ao lado da crónica do editor, Filinto Elísio, e de considerações do crítico de música, Paulo Linhares, evocarmos a memória do Ildo Lobo, no XX aniversário da sua morte. O seu talento artístico, assim como a sua postura na vida, a sua generosidade e sensibilidade humana emergem nas palavras dos três interlocutores.

Dulce Araújo - Vatican News

Em Cabo Verde, 18 de outubro é Dia Nacional da Cultura e das Comunidades. A data recorda o nascimento, na ilha Brava, em 1867, do grande poeta, músico, jornalista, ativista político, Eugénio Tavares, que viveu também nos Estados Unidos. As atividades relacionadas com o Dia Nacional da Cultura estendem-se por todo o mês de outubro, tendo como ponto alto o dia 18.

Este ano, o Dia foi engrandecido com um espetáculo de poesia, vídeos, música, dança intitulado “Uivo da memória - 20 anu di sodadi di Ildo Lobo” (vinte anos de saudade do Ildo Lobo).  Foi na cidade da Praia, no Palácio da Cultura que, por sinal, traz o seu nome.

Ildo Lobo faleceu, repentinamente, a 20 de outubro de 2004, aos 51 anos de idade, mas continua a ser a voz eterna de Cabo Verde, e é, nas palavras de Dom Ildo Fortes, uma figura incontornável entre os músicos do país. Jamais será esquecido. Disto deram provas, no dia 20, as numerosas e importantes homenagens nas redes sociais, sublinha Paulo Lobo Linhares, crítico de música e diretor artístico do Label Insulada, que põe também em relevo a beleza e a versatilidade da voz do Ildo, ao lado da sua atenção em divulgar os compositores e de ter cantado, juntamente com os Tubarões, as liberdades da Nação cabo-verdiana.  

Dom Ildo Fortes - Bispo de Mindelo - Cabo Verde
Dom Ildo Fortes - Bispo de Mindelo - Cabo Verde

Também Dom Ildo Fortes, enaltece a versatilidade da voz do Ildo, o que faz com que todos os cabo-verdianos se reconheçam nele e se orgulhem dele. Até porque, como ele próprio disse numa entrevista à RTP em 1997, considerava-se "um cantor que canta com a alma" e que está sempre com o povo sem abraçar nenhum partido político. 

É com emoção que tanto Dom Ildo Fortes, Bispo de Mindelo, como o Paulo Lobo Linhares falam deste artista com o qual se relacionaram, cada um à sua maneira, e guardam boas recordações.

Paulo Linhares - Crítico de música
Paulo Linhares - Crítico de música

Já o Filinto Elísio, poeta, ensaísta, editor (Rosa de Porcelana Editora) dá a conhecer as diversas fases da vida artística do Ildo Lobo na crónica que  reproduzimos em baixo.

Oiça "África em Clave Cultural: personagens e eventos" 24-10-24

Crónica de Filinto Elísio 

 

ILDO LOBO – A VOZ ETERNA DE CABO VERDE

Tal como Cesária Évora e Bana, Ildo Lobo foi dos cantores cabo-verdianos mais aclamados, nacional e internacionalmente. Vinte anos passados sobre a sua morte, o seu legado continua a emocionar o espírito das pessoas em todo o mundo.

Ildo Neves de Sousa Lobo nasceu em 1953, em Pedra do Lume, na ilha do Sal, em Cabo Verde, filho de Antoninho Lobo, um animador de serenatas. Foi por influência do pai que Ildo Lobo se tornou cantor. Aliás, iniciou-se na música aos 14 anos, na banda Madrugada.

Em 1970, aos 17 anos, foi viver para a cidade da Praia, a capital de Cabo Verde, para poder frequentar o liceu.

Três anos mais tarde convidaram-no para integrar o grupo musical Os Tubarões, onde substituiu o seu primo Luís Lobo, que era o vocalista.

Destacou-se como a voz principal de Os Tubarões, com o qual lançou álbuns emblemáticos da discografia cabo-verdiana, como Pepe Lopi (1976), Tchon di Morgado (1976), Djonsinho Cabral (1979), Tabanca (1980), Tema para dois (1982), Bote, broce e linha (1990), Os Tubarões ao vivo (1993), Porton d’nôs ilha (1994).

Dividindo a sua carreira como músico com a profissão de oficial de alfândega, Lobo era não só conhecido pelas suas mornas, funanás e coladeiras, como pelas suas posições políticas e discurso interventivo de cariz social e político.

Em 1994 o grupo separou-se e Ildo Lobo iniciou uma carreira como cantor a solo. Apenas três anos mais tarde, gravou o primeiro álbum, intitulado Nôs Morna, e que era uma homenagem ao pai.

Dois anos depois o cantor regravou um dos seus temas com maior sucesso, Djonsinho Cabral, cuja letra, da autoria de Rui Machado, era alusiva a Xanana Gusmão e à luta de Timor-Leste pela Independência. Esta nova versão foi incluída na coletânea Música de Intervenção Cabo-Verdiana.

Em 2001 gravou um novo álbum de originais, com o nome Intelectual.

Ildo Lobo por norma não compunha e assim pôde divulgar canções de várias gerações de artistas cabo-verdianos.  Mesmo assim, o músico compôs alguns temas como Nha Testamento, para o seu álbum a solo Nôs Morna, ou Zebra, interpretada por Os Tubarões e também por Cesária Évora, a grande diva da música cabo-verdiana a nível internacional.

De entre os seus compositores preferidos, cujas músicas deu a conhecer ao mundo, estiveram Manuel de Novas, Nhelas Spencer e Alcides Spencer, Paulino Vieira, Kaká Barbosa, Renato Cardoso, Daniel Rendell, Orlando Pantera, Constantino Cardoso e Betú.

Ele participou ainda no disco Filhos da Madrugada, cantando músicas do cantautor português José Afonso.

Ildo Lobo morreu a 20 de outubro de 2004, vítima de ataque cardíaco, aos 51 anos. O Palácio da Cultura da Praia, em sua homenagem, passou a denominar-se Palácio da Cultura Ildo Lobo.

Antes de morrer deixou pronto um novo disco, intitulado Incondicional-Confidência, com uma composição de sua autoria intitulada Nha Fidjo Matcho.

Todos os consideram a Voz Eterna de Cabo Verde!

 

 

 

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25 outubro 2024, 16:26