Quénia. Dom Peter Kimani Ndung'u: “Mesmo na prisão é possível encontrar o Senhor”
Vatican News
Pode descrever o seu apostolado nas prisões?
Dos meus quase 25 anos de sacerdócio, 20 deles foram como Capelão Nacional das Prisões. Comecei o meu serviço nas prisões em janeiro de 2001. Durante todo este tempo, pude observar as mudanças em termos de reforma do sistema prisional, as condições de vida dos reclusos (alimentação, cuidados médicos, higiene, possibilidade de estudar, liberdade de culto, etc.) e a transformação do pessoal. Trata-se de transformações positivas, de uma melhoria geral das condições de vida dos reclusos. Até 2000, as prisões do Quénia eram quase câmaras de morte. Antes, cada recluso era considerado simplesmente um condenado que tinha de cumprir a sua pena. Atualmente, as prisões tornaram-se centros de reabilitação para as pessoas que cometeram crimes. Foram criadas instalações dentro das prisões para ajudar a reabilitar os presos, com aconselhamento psicológico e programas de formação profissional.
Naturalmente, os capelães das prisões estão envolvidos e participam ativamente neste processo, através da evangelização, da introdução dos presos que o desejem na fé e nos movimentos laicais. Realidades como a Associação de Homens Católicos, a Associação de Jovens Católicos e vários catequistas estão presentes e ativos nas prisões. Há também 25 capelães católicos que trabalham a tempo inteiro nas prisões.
Um belo sinal de esperança não só para os prisioneiros, mas para todo o Quénia ...
Há tantos sinais de esperança no Quénia em comparação com outros países. Vi o crescimento da fé nos reclusos. Não há uma grande percentagem de reincidência entre aqueles que cumpriram as suas penas. Não se vêem muitos deles a regressar à prisão. Isso deve-se ao acompanhamento psicológico, por um lado, e à assistência espiritual, por outro, que os prisioneiros puderam beneficiar durante o tempo de detenção.
Quais são os crimes predominantes?
Vão desde os crimes comuns aos mais graves. Podem ser o abigeato, o roubo ou o furto, a violência sexual, até ao terrorismo. Depende da zona do país. Nas zonas mais pobres, predominam os furtos e os pequenos delitos. Nas cidades, encontramos pessoas envolvidas em assaltos à mão armada ou motins. Em suma, não há crimes que predominem sobre os outros.
Há alguma experiência particular que o tenha impressionado mais durante o seu serviço nas prisões?
Um dos acontecimentos mais comoventes foi quando um prisioneiro condenado à morte me disse, na véspera de ir ao tribunal para a sentença de recurso: “Padre, amanhã vou ao tribunal pedir clemência, mas preciso de me confessar. Durante a confissão, disse-me: “Padre, vou pedir misericórdia e não perdão, porque se eu pedir perdão não serei perdoado. Mas se eu pedir misericórdia, serei libertado”. Assim, no dia seguinte, este senhor foi ao tribunal, pediu misericórdia ao juiz e foi libertado depois de ter passado 20 anos na prisão. Para mim, foi quase um milagre, porque fiquei impressionado com a fé deste homem na misericórdia de Deus e dos homens.
Existe cooperação entre as diferentes confissões religiosas nas prisões?
Existe um grande respeito pelas diferentes confissões religiosas no sistema prisional. As quatro principais religiões do Quénia estão representadas. Há imãs muçulmanos que cuidam dos reclusos de fé islâmica, vários pastores de comunidades protestantes que cuidam dos seus fiéis, capelães católicos e, mais recentemente, representantes dos Adventistas do Sétimo Dia. Todos eles trabalham em estreita colaboração, no respeito mútuo das suas respetivas religiões, em prol de todos os reclusos. Preocupamo-nos não só com os reclusos, mas também com o pessoal que trabalha nas prisões, a começar pelos guardas prisionais, porque fazemos todos parte da mesma família.
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