Busca

Cookie Policy
The portal Vatican News uses technical or similar cookies to make navigation easier and guarantee the use of the services. Furthermore, technical and analysis cookies from third parties may be used. If you want to know more click here. By closing this banner you consent to the use of cookies.
I AGREE
Gregorio Allegri: Miserere, a 9
Programação Podcast
Colóquio, na Tunísia, sobre o centenário de nascimento de Frantz Fanon Colóquio, na Tunísia, sobre o centenário de nascimento de Frantz Fanon 

Frantz Fanon - A atualidade do seu pensamento

Diversas iniciativas marcam neste ano de 2025, em várias partes do mundo, o Centenário de nascimento de Frantz Fanon, psiquiatra e pensador da Martinica, falecido em 1961. Na Tunísia, realizou-se já um Colóquio internacional sobre "Alienação, Violência e Migrações nas Sociedades Pós-coloniais da África do Norte". Foi organizado pelo Border Studies Reseach Group, fundado pelo psicólogo, Wael Garnaoui, para trazer para a atualidade o pensamento de Fanon, cujo perfil é traçado por Filinto Elísio.

Dulce Araújo - Vatican News

A Tunísia foi um dos países, onde Frantz Fanon, viveu, trabalhou como psiquiatra e escreveu uma das suas mais conhecidas obras: "Pele Negra, Máscaras Brancas". Mas, do seu pensamento crítico, tão necessário para a África de hoje, poucos se recordavam. Daí que o Border Studies Reserach Group tenha colhido a ocasião do seu Centenário de nascimento para trazer à tona a sua figura - explicou em entrevista à emissão semanal "África em Clave Cultural: personagens e eventos" o psicólogo clínico e docente universitário, Wael Garnaoui. Foi num Colóquio Internacional intitulado "Alienação, Violência e Migração nas sociedades pós-coloniais da África do Norte", realizado na Universidade de Sousse nos dias 21 e 22 de fevereio de 2025. É que o pensamento e as obras de Fanon abrangem questões complexas relacionadas com a descolonização do pensamento, com o racismo e com os mecanismos socio-psicológicos gerados pela colonização e cujas consequências se vivem ainda hoje. 

Participantes de várias idades no Colóquio
Participantes de várias idades no Colóquio

O Colóquio que reuniu estudiosos de várias disciplinas e de vários países e um vasto publico de pessoas de várias idades, atingiu, segundo o professor Wael Garnaoui, os seus objetivos e agora os organizadores visam continuar a reflexão e publicar uma obra que contenha as atas e outros escritos. Os estudantes da Universidade de Sousse, que para o Colóquio preparam uma galaria de cartazes com assuntos relativos a Fanon, estão também empolgados com a ideia de publicar um dicionário de citações do pensamento do psiquiatra martiniquês. Mas, não se fica por aí. O objetivo maior é refletir à luz das teorias e ações de Frantz Fanon e encontrar soluções para os desafios das sociedades africanas de hoje, incluindo acabar com as mortes no Mediterrâneo.

Jovens  perante um dos cartazes que prepararam
Jovens perante um dos cartazes que prepararam

Mas, para melhor colher a riqueza do Colóquio ilustrado por Wael Garnaoui na entrevista ouça a emissão “África em Clave Cultural: personagens e eventos” e leia também a elucidativa crónica de Filinto Elísio (Rosa de Porcelana Editora) sobre Frantz Fanon.

Oiça e partilhe
O psicólogo clínico e docente universitário, Wael Garnaoui
O psicólogo clínico e docente universitário, Wael Garnaoui

Crónica

Frantz Fanon – A atualidade do seu pensamento para a releitura do sistema mundo

O ano de 2025 celebra, entre outros grandes acontecimentos, o Centenário de Nascimento do psiquiatra e filósofo Frantz Fanon, uma das personagens mais marcantes no afrontamento ao racismo e ao colonialismo durante o século XX, continuando a ser ainda hoje uma figura de referência para estudos pós-coloniais e sobre a Africanidade.

O seu pensamento estribava-se na razão crítica do antirracismo e do anticolonialismo, com recortes sobre as causas e as consequências psicológicas do colonizado e do colonizador, com formulações psiquiátricas, sociológicas, filosóficas e políticas.

Para uns, considerado um pan-africanista e humanista consequente, aportando na sua visão a análise estruturante da Diáspora Africana, Fanon para outros eta um político radical que poderia colocar em crítica e em crise toda a Ordem Mundial baseada no colonialismo e no imperialismo, uma psicopatologia na qual os povos africanos e os seus descendentes estariam sujeitos à subalternidade.

Diante da violência do processo colonial, sobretudo durante a sua vivencia na Argélia, ocupada pela França, Fanon aderiu ao movimento de libertação argelina.

As suas obras tornaram-se peças essenciais para a construção das superestruturas anticoloniais, determinantes para as lutas de libertação anticoloniais, nomeadamente a Guerra da Independência da Argélia, os processos descolonizações das possessões europeias na África, a Guerra no Vietname e as lutas de libertação dos povos colonizados por Portugal, assim como os movimentos emancipatórios na Palestina, no Sri Lanka, na África do Sul e nos Estados Unidos.

Ele também desenvolveu estudos sobre a psicologia comunitária, orientada para a integração familiar e social como terapia para a saúde mental, mudando o paradigma da abordagem da institucionalização das psiquiatrias e dos manicómios como espécies de centros de reclusão e de ostracismo.

Nasceu Frantz Omar Fanon, em Forte da França, capital da Martinica ilha francesa nas Antilhas, a 20 de julho de 1925. O pai Casimir Fanon, funcionário administrativo, e a mãe Eleonore  Médélice tiveram uma influência marcante na sua formação. Teve acesso a boas escolas, inclusive no único colégio secundário da ilha, o Lycée Schoelcher, onde foi aluno do poeta e político Aimé Césaire, um dos fundadores do Movimento da Negritude, que muito viria a influenciar o seu pensamento.  Em 1943 deixa a Martinica e se junta às tropas da França Livre, que resistia à ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1960, Fanon percorre o continente africano pregando a necessidade da libertação e formulando ideias de ação ativa com todos os meios para a descolonização, enquanto se debatia com uma leucemia que lhe condicionava algumas dinâmicas já criadas e que viria a provocar o seu falecimento, em 1961, com apenas 36 anos de idade.

É neste contexto, que finalizou a escrita de Os Condenados da Terra, livro que viria a sair com um prefácio de Jean-Paul Sartre, de quem era amigo e admirador, com afinidades filosóficas e na forma como interpretavam o existencialismo e o processo histórico.

Numerosos livros de Fanon foram publicados, centrados naquilo que acreditava sobre o estatuto e o papel do sujeito dominado em face do sujeito dominador. Na vasta bibliografia autoral de Frantz Fanon podem -se encontrar os seguintes livros Pele Negra, Máscaras Brancas (de 1952), Os Condenados da Terra (1968), Em Defesa da Revolução africana (1964), Œuvres (2011), Écrits sur l’aliénation et la liberte (2015), Escritos Políticos (2021).

Hoje, Frantz Fanon, como Amílcar Cabral e Cheik Anta Diop, são referência do pensamento decolonial e da análise crítica do capitalismo (enquanto Sistema-Mundo) contemporâneo, a partir de novas perspetivas, com ferramentas conceituais de rutura com o essencialismo identitário hegeliano, aportando a abordagem multiculturalista, plural e diversa da História.

*

Mais algumas fotos do Colóquio (cortesia do prof. Wael Garnaoui)

Momentos do Colóquio - Prof. Garnaoui ao centro
Momentos do Colóquio - Prof. Garnaoui ao centro
Um dos oradores
Um dos oradores
Sala cheia para ouvir e aprender sobre o pensamento de Frantz Fanon
Sala cheia para ouvir e aprender sobre o pensamento de Frantz Fanon

 

                

 

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

06 março 2025, 15:09
<Ant
Abril 2025
SegTerQuaQuiSexSábDom
 123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930    
Prox>
Maio 2025
SegTerQuaQuiSexSábDom
   1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031