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Conferência promovida pelos combonianos: "A África não é uma fake news" Conferência promovida pelos combonianos: "A África não é uma fake news" 

África e fake news: combonianos debatem sobre imigração

A migração e o tráfico de seres humanos foram os pontos centrais do encontro

Cidade do Vaticano

Realizou-se na Sala Marconi da Rádio Vaticano–Secretaria para a Comunicação, nesta terça-feira (14/11), a conferência intitulada “A África não é uma fake news”, promovida pelos missionários combonianos no âmbito das iniciativas organizadas pelo instituto que completa, este ano, 150 anos de fundação.

África e fake news

A migração e o tráfico de seres humanos foram os pontos centrais do encontro, diante das ondas frequentes de xenofobia e racismo que se difundem na Itália e demais países da Europa.

Nós conversamos com um dos conferencistas Pe. Domenico Guarino, missionário comboniano italiano que trabalha no acolhimento dos migrantes em Palermo.

Por que a “A África não é uma fake news”?

Pe. Guarino: "A África não é uma fake news (notícia falsa) porque acredito que esta fake news foi construída. Se nós pensamos na imigração como se fosse um livro com vários capítulos, existem alguns capítulos que não queremos ler. Falamos de imigrantes somente quando eles chegam à Itália e não queremos falar de quando estão em seus países, porque nesses capítulos há uma grande responsabilidade.

É fundamental entender que o sistema com o qual estão empurrando eles para trás é o mesmo sistema que está causando suas saída de seus países. E não queremos reconhecer as nossas responsabilidades. Segundo, e acredito que seja fundamental, os imigrantes são um recurso ideológico. É dizer: muitos falam sobre os imigrantes sem levar em consideração os imigrantes.

Então, quando você coloca o tema da imigração no âmbito polítco dos partidos, pressupõe-se que eles falam sobre a imigração para justificar suas possibilidades de ganhar uma eleição.

Na Itália, estamos vendo isso muito bem com a lei sobre o "Ius soli". Algo que parecia tão fácil, que já tinha passado pela Câmara dos Deputados, foi bloqueado e não querem falar disso porque têm interesses políticos. É como se na Itália os partidos estivessem sempre em campanha eleitoral. Então, precisam das fake news da África para sustentar os seus pensamentos e sobretudo suas ideologias."

Durante a conferência, o senhor disse que é preciso tirar o discurso dos migrantes do âmbito político e dos meios de comunicação...

 "Sim, pois, é dizer que as comunidades cristãs têm que levar em conta essa realidade. Não podem deixar que sejam os partidos, pois como dizíamos  antes, muitos pensam em sua ideologia, em seu poder, e os meios de comunicação, não todos, eu acredito que existam alguns meios de comunicação que em seu trabalho transmitem a verdade, mas a maioria se move para ganhar mais audiência.

Então as comunidades cristãs têm que pegar essa realidade em suas mãos, pois é a sociedade civil que tem de entrar nesse discurso. Não podemos deixar aos outros. Temos de entrar porque no final quem acolhe são as comunidades, não são os políticos, quem acolhe são as pessoas sensíveis que encontramos em cada cidade, e essas histórias têm de ser reforçadas, essas histórias nos pertence. A imigração é um desafio para nós cristãos e cristãs."

Qual é o seu trabalho em Palermo?

 "Eu trabalho, em Palermo, em vários âmbitos, sobretudo estou presente no local onde chegam os imigrantes, aqueles que são resgatados do Mar Mediterrâneo, local de desembarque, e depois trabalho com muitas organizações contra o racismo para conscientizar cada vez mais a cidade sobre a cultura do acolhimento.

Não podemos dar como certo o acolhimento, mas temos que trabalhar, pois o acolhimento se constrói a cada dia, porque temos todas essas fake news das quais as pessoas falam e desconstruir tudo isso é fundamental.

Acredito que seja fundamental descontruir para construir e fazemos isso conscientizando as cidades e depois acompanhamos também os corpos dos imigrantes, os imigrantes que chegaram mortos, nos preocupamos para que eles tenham um lugar digno, adequado, e não porque são imigrantes passam em segundo lugar.

E por último, nós fazemos também caminhos de conscientização com as escolas e comunidades cristãs. Também várias pessoas das comunidades cristãs pensam como pensam os partidos. Então, é também preciso trabalhar com elas."

Dias atrás, uma estudante italiana afrodescendente de 15 anos foi agredida dentro de um ônibus, em Turim. Talvez a política fomenta esse tipo de comportamento contra os imigrantes!

 "O racismo e a xenofobia constroem-se sobre as mentiras. Dizia antes que não temos a capacidade de fazer uma análise profunda sobre a gravidade, pois ficamos sempre no superficial e o superficial ganha, pois é mais forte. Os políticos estão todos os dias nos meios de comunicação. Eles têm esse poder que o cidadão e a cidadã não tem.

O problema é que usam esse poder para alimentar sempre mais esse racismo.

Também podemos contar histórias de imigrantes que são acolhidos, onde os cidadãos se colocam em sua defesa, porém se contam algumas notícias, porque precisam de um sistema para se manter e o sistema econômico e político vive dessas mentiras, dessas realidades. Essas coisas acontecem e são cada vez maiores. Eles especulam sobre isso porque têm outros interesses."

 

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15 novembro 2017, 17:05