Papas: a paz, um preocupação constante
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
No Angelus do último domingo, 25, o Papa fez mais um apelo em favor da paz na Síria.
Ao convocar o Dia de Oração e Jejum pela paz para a sexta-feira, 23, Francisco havia afirmado que “as vitórias obtidas com a violência são falsas vitórias, enquanto trabalhar pela paz faz bem a todos”.
As guerras, a violência, não são uma novidade de nossos tempos.
Os primeiros quatro anos do Pontificado de Bento XV – que durou 7 anos e meio – foram dedicados à tentativas infrutíferas de para uma guerra que ele afirmou ser o “suicídio da Europa civilizada”.
Em novembro de 1914, ele publicou a primeira de suas doze encíclicas: Ad Beatissimi Apostolorum, onde falava que as nações maiores e mais ricas estão “bem equipadas com as mais terríveis armas que a ciência militar moderna havia inventado e se esforçam para destruir umas ás outras com requintes de horror”.
Há pouco mais de 50 anos, João XXIII mediava a paz na crise dos mísseis de Cuba, crise esta que acabou inspirando a Encíclica Pacem in Terris por ele publicada em abril de 1963.
Em 1967, Paulo VI instituiu o Dia Mundial da Paz.
João Paulo II governou a Igreja durante a Guerra Fria, lançando inúmeros apelos e iniciativas em favor da paz.
O teólogo padre Erico Hammes* faz uma síntese ao Vatican News sobre a postura da Igreja diante das guerras e da violência, a partir de Bento XV:
"Uma coisa que tem que ficar bem clara, é que na I Guerra Mundial, os próprios Estados Unidos, o presidente americano, tinha um plano de paz e uma das afirmações, que aliás coincide bastante com o que o Papa Francisco diz, ou seja, o lema que ele estava propondo era "uma paz sem vitória". Quer dizer, a paz tem outros critérios que a vitória e a afirmação do mais forte.
Então, a I Guerra Mundial, de fato, foi a prova desta violência que inicia em um lugar pequeno, nos Bálcãs, e depois se estende por toda a Europa e faz a mortandade...e a Igreja de certo tenta moderar, tenta intervir pela espiritualidade, mas ao mesmo tempo, naquele momento da Igreja, havia ainda muita disposição em favor da guerra. Por exemplo, os trens lotados de capelães militares que saíam para o front em favor de um acompanhamento militar, mas também no sentido patriótico de busca de vitória.
Na II Guerra Mundial esta posição já muda e após a II Guerra Mundial, progressivamente fica óbvio que não se pode mais pensar na busca da paz por meio da guerra, a não ser superando os princípios da violência. E é isto que os Papas subsequentes, a começar por Pio XII, João XXIII, Paulo VI com o Dia Internacional da Paz, depois João Paulo II com os apelos muito fortes, a Oração de Assis e assim por diante, e agora o Papa Bento XVI e também o Papa Francisco nesta posição.
Então o que se pode observar, é que progressivamente a Igreja vai tomando consciência muito clara, de que não só é necessário buscar a paz no âmbito pessoal, mas é necessário buscar uma mobilização geral, de uma consciência geral, porque nós como Igreja, temos a capacidade de mudar os corações.
Desde a infância, desde o Batismo, quando nós prometemos a renúncia ao mal, nós também podemos prometer junto a renúncia à violência e tudo aquilo que leva à violência, à destruição e à inimizade.
Então, creio que nós estamos hoje nesta fase, que é uma fase em que o Evangelho se torna um apelo geral de não violência. Tudo aquilo que aconteceu, no próprio Catecismo da Igreja Católica, os posicionamentos muito claros da Conferência Episcopal alemã, da Conferência Episcopal americana, a participação de movimentos jovens aí de Roma, por exemplo Santo Egídio, no estabelecimento da paz em vários países do mundo, inclusive na África.
Então, no sentido de nós buscarmos superar estas situações e de conseguirmos uma posição forte internacional ética, em favor de relações saudáveis, e claro, o fundamento da paz, exige a justiça nas relações internacionais, e também das relações comerciais e aquilo que são as relações políticas. Então é claro que isto se torna hoje indispensável.
E o papel que a Igreja tem exercido em vários lugares ajuda, mesmo recentemente as situações da Síria, do Iraque e de Israel, Palestina, por exemplo, a posição que a Igreja tem adotado de favorecer. Nem sempre é muito fácil, isto é claro, nós precisamos também internamente nos convencer daquilo que aí se apresenta como parte integrante do Evangelho.
Não existe Evangelho no mundo, e Evangelho a ser proclamado a não ser como a paz, que é o que acompanha sempre a mensagem, quando lemos os próprios Evangelhos, os discursos de Jesus, os envios de Jesus aos discípulos vão sempre nesta direção, e o Novo Testamento define Jesus como sendo "a nossa paz".
Então, é neste sentido para que as relações internacionais possam ser melhores e para que a estabilidade internacional possa ser reforçada, as pessoas que seguem o Evangelho podem servir também como pessoas que convocam a outras pessoas, mesmo pessoas que não são cristãs, a serem aliadas nesta causa chamada paz".
* Padre Erico Hammes é docente na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, com Doutorado em Cristologia e Pós-Doutorado em Cristologia da Paz na Eberhard Karls Universität Tübingen.
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