Dom Pedro Casaldaliga: "Ser Jesus Cristo libertador na vida do povo"
Cristiane Murray – Cidade do Vaticano
O bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, MT, Dom Pedro Casaldáliga, completa 90 anos no próximo dia 16 de fevereiro.
Natural da Espanha, Dom Pedro chegou ao Brasil em 1968 e foi nomeado primeiro bispo de São Félix em 1971, tenho permanecido no cargo até 2005.
Nestes anos, foi ameaçado de morte várias vezes por lutar em defesa e na promoção dos direitos da população mais pobre e dos indígenas da região. Renomado internacionalmente, autor de inúmeros livros, denunciou madeireiros, policiais e grandes proprietários rurais que no regime militar oprimiam posseiros, peões e povos indígenas.
Durante 35 anos, teve a ajuda de uma valorosa equipe pastoral, ainda muito ativa em toda a área desta Prelazia, maior do que o estado do Paraná. Em Luciara, um de seus municípios, vivia o diácono permanente José Raimundo Ribeiro da Silva, que ofereceu ao Vatican News o seu testemunho. Casado com Rita de Cássia e pai de 3 filhos, professor aposentado, ele nos fala do apoio e da presença de Dom Pedro Casaldáliga ao trabalho da equipe naquela região:
A trajetória
“Conheci Dom Pedro em 1983. Eu estava no Noviciado e após o retiro inaciano e o discernimento sobre que opção eu tomaria na vida, decidi ir para a Prelazia de São Felix do Araguaia. Ele me aceitou com muito carinho. Era para eu ser padre, mas no caminhar deste processo, resolvi casar; ele fez nosso casamento em São Paulo e me ordenou diácono permanente”.
“Dom Pedro teve uma participação conosco muito interessante, porque estava em Luciara em todos os momentos ápices de nossa comunidade: no Natal, na Páscoa e na festa da padroeira, Nossa Senhora das Graças, que era celebrada no dia 28 de agosto. Era uma ‘dezena’... ele ia antes e ficava 9, 10 dias conosco”.
Coerência de vida e de testemunho
“Ele fez conosco um trabalho muito interessante: o seu testemunho de vida, que ele sempre deu e dá até hoje para todas as pessoas que o veem, o conhecem... uma pessoa de uma coerência incrível! Nós perguntávamos a ele: ‘Pedro, como vamos fazer na comunidade? Trabalhamos na escola, temos os filhos pequenos, as gêmeas de 9 meses...’. Ele dizia: ‘Sejam vocês testemunhas de Jesus Cristo encarnado nesta comunidade. É importante mostrar a prática de Jesus Cristo libertador na vida do povo, na luta: na Pastoral da Terra, pela demarcação das terras das comunidades indígenas, na Pastoral da Criança, na educação, na perspectiva libertadora, na Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, e assim por diante”.
“Nós seguimos à risca estes conselhos: na escola, a educação libertadora era muito interessante. As aulas aconteciam sempre em círculos, às vezes debaixo de árvores, no barracão da Igreja, debaixo da lona de circo, trabalhávamos poesia, teatro, música, com toda a criançada. Foi uma experiência marcante”.
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