Editorial: Pacem in Terris no mundo onde sopram ventos de guerra
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
O mundo inteiro tem acompanhado com crescente preocupação, nestes dias, os ventos de guerra que, impetuosos, sopram mais uma vez ante a ameaça de uma conflagaração bélica entre potências mundiais. Nestas horas, Washington e Moscou continuam sua guerra verbal, que sempre mais ameaça transformar-se em conflito aberto com ataques aéreos e com mísseis, no contexto já demasiadamente difícil da situação síria.
De fato, na noite desta sexta para sábado foi desfechado na Síria um ataque a objetivos militares conduzidos por EUA, França e Inglaterra, o que pode levar a uma exasperação da situação já bastante tensa na queda de braço entre EUA e Rússia no âmbito da questão síria. Encontrando-nos nas primeiras horas após a referida incursão, ainda não se sabe com precisão qual o alcance do ataque, o fato é que a reação de Moscou não se fez esperar ao declarar que a ação bélica desta noite não ficará sem resposta.
55 anos atrás, num momento em que a comunidade internacional parecia estar correndo em direção ao terceiro conflito mundial, o Papa João XXIII publicava sua oitava e última Carta encíclica, a Pacem in Terris, cujo aniversário celebramos quarta-feira passada, 11 de abril.
Com a Pacem in Terris, primeira encíclica dirigida também aos não-cristãos, a todos os homens de boa vontade, o Magistério da Igreja deu um verdadeiro salto de qualidade como consciência crítica da humanidade, enriquecendo ulteriormente o corpus doutrinário do Magistério social da Igreja, que – vale lembrar – é perita em humanidade.
Focada no tema da não-beligerância e na construção de caminhos da paz, o memorável documento magisterial do Papa Roncalli (Angelo Giuseppe Roncalli era seu nome de batismo), apresenta na Verdade, Justiça, Amor e Liberdade os fundamento da paz.
Falando para um mundo dividido em dois blocos, o “Bom Papa João” dedica todo o documento à urgente questão da paz diante da tensão pelo risco de um conflito atômico num contexto de intensificação da guerra fria.
Passado mais de meio século, a encíclica conserva toda a sua atualidade, com uma força de persuasão que chega aos nossos dias qual convite a revisitar sua premente mensagem ante os ventos de guerra que sopram nestas horas.
De fato, a paz permanece apenas som de palavras, se não for alicerçada naquela ordem traçada com confiante esperança: “uma ordem fundada na verdade, construída segundo a justiça, vivificada e integrada pela caridade e implementada na liberdade”.
Referência da Doutrina Social da Igreja, a Pacem in Terris constitui evocação constante nos pronunciamentos da Igreja nas várias instâncias internacionais e em documentos sucessivos de seu magistério qual fonte de inspiração no tocante ao tema da paz.
Apenas para concluir, registro aqui, de passagem – no âmbito das atividades do Papa e da Santa Sé –, dois eventos que marcaram a semana que se está concluindo.
Na segunda-feira, dia 9, a apresentação, na Sala de Imprensa da Santa Sé, da Exortação apostólica do Papa Francisco, Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e Exultai), sobre o chamado à santidade no mundo de hoje.
Francisco indica, entre outros, as características “indispensáveis” para entender o estilo de vida da santidade: “perseverança, paciência e mansidão”, “alegria e senso de humor”, “audácia e fervor”. O caminho da santidade vivido como caminho que se faz “em comunidade” e “em constante oração”.
Afirmando que nos tornamos santos vivendo as bem-aventuranças, o Papa lembra que o caminho à santidade é para todos, que a Igreja sempre ensinou que é um chamado universal e possível a qualquer um, como demonstrado pelos muitos santos “da porta ao lado”.
O Pontífice ressalta que a vida de santidade está intimamente ligada à vida de misericórdia, “a chave para o céu”. Santo, afirma, é aquele que sabe comover-se e mover-se para ajudar os miseráveis e curar as misérias.
Na terça-feira, dia 10, o Papa Francisco encontrou-se com os Missionários da Misericórdia, cerca de 550 sacerdotes, um dos frutos do Jubileu extraordinário da misericórdia. Trata-se de padres que, com a aprovação de seus respectivos bispos, foram confirmados pelo Santo Padre para reconduzir à reconciliação todos aqueles que procurarem a misericórdia de Deus.
“Realmente, devemos reconhecer que a misericórdia de Deus não tem limites e com este ministério vocês são sinal concreto de que a Igreja não pode, não deve e não quer criar nenhuma barreira ou dificuldade que seja de empecilho ao acesso ao perdão do Pai”, disse Francisco dirigindo-se aos missionários da misericórdia. Que o Senhor tenha misericórdia de todos nós e nos dê a sua paz.
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