Nicarágua: Igreja é perseguida, mas repressão une o povo
Cidade do Vaticano
Existe perseguição contra a Igreja e repressão contra a sociedade civil. É o que denuncia Dom Carlos Avilés, vigário geral da Arquidiocese de Manágua e conselheiro da Comissão para o diálogo nacional, entrevistado na sexta-feira pelo canal católico da Nicarágua.
A Igreja é sempre pelo diálogo, mas sem a vontade por parte do governo - disse o prelado - não há diálogo. A Igreja - continuou - estará sempre ao lado das pessoas, ao lado dos pobres, dos mais necessitados, das pessoas que sofrem, que são mortas, injustamente presas ou desaparecidas. Ajudamos todos aqueles que vêm a nossas igrejas, oferecendo-lhes tudo o que podemos.
Ortega nos acusou de sermos golpistas, apenas porque ajudamos as pessoas. Como sacerdote, se eu ver meus paroquianos que, depois de um evento, saem maltratado e fogem, eu abro as portas da minha igreja, eu lhes ofereço a minha ajuda, esta é a coisa mais básica que qualquer um pode fazer: abrir a própria casa e cuidar de quem tem necessidade.
O clero age com o maior pacifismo e reza por aqueles que nos perseguem, sem esquecer a busca da verdade e da justiça. O prelado expressa sua tristeza também pelos ataques contra padres e bispos. O clero não encorajou a violência, nem o uso de armas. É falso o que eles dizem que escondemos armas. Muito menos o que falam de padres torturadores. Todas calúnias de Ortega.
Ao contrário de outros momentos críticos do país - acrescenta - desta vez a população não está polarizada, diante dos crimes e das mortes que existem. A esmagadora maioria da população busca justiça, verdade, paz e o fim da violência. Essa repressão do governo une as pessoas. O governo não quer enfrentar a questão política, não quer ver que as pessoas querem mudanças, um novo governo. O diálogo deve ser levado em frente pelo governo, pela oposição e pela Igreja, sem assistência internacional.
O Papa Francisco – disse Dom Avilés - nos apoia nesse caminho de diálogo. Os cidadãos nos incentivam a seguir em frente. O país está em um período de jejum e oração pela paz: católicos e tantos irmãos não-católicos estão há semanas rezando, jejuando, fazendo adoração. O povo católico não parou de recitar o Rosário durante esses 100 dias.
O diálogo foi interrompido por falta de vontade do governo, afirmou o prelado, e desde o início os bispos, quando tiveram a oportunidade de sentar-se à mesa, eles deram as condições para a paz. Mas sem a vontade do governo para resolver a crise, é difícil.
Os bispos da Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN) decidiram solicitar por escrito ao Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, se quer que eles sejam ainda mediadores e testemunhas do Diálogo Nacional. Na próxima segunda-feira, 30 de julho, o CEN se reunirá novamente em Manágua.
Movimentos da sociedade civil e universitários, convocaram a população nicaraguense para participar neste sábado, em Manágua, da Peregrinação de solidariedade aos bispos, “defensores da verdade e da justiça”. Bispos, sacerdotes e religiosos sofreram agressões físicas e difamações por parte do governo, que passou a considerar a Igreja como inimiga.
As fases da repressão
O secretário executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Paulo Abraão, denunciou na sexta-feira o início da "terceira fase" da repressão na Nicarágua, de caráter mais duro, consistente no uso das instituições para incriminar os manifestantes.
Na "primeira fase", que durou até a metade de junho, ocorreu a "repressão tradicional, com o uso excessivo da força da polícia diretamente contra os manifestantes".
A "segunda fase", segundo Abrão, compreende a assim chamada "operação de limpeza", que o presidente da Nicarágua Daniel Ortega iniciou com o objetivo de eliminar as barricadas nas áreas controladas pela oposição, mas que se transformou em ataques por parte dos paramilitares e da polícia contra a população civil.
A "terceira fase" da repressão - disse Abrão - teve início com a recente aprovação pelo Parlamento nicaraguense de uma lei antiterrorismo, que criminaliza manifestantes pacíficos.
Médicos e agentes de saúde estatais, denunciaram ter sido demitidos por terem desobedecido ordens de não cuidar de opositores feridos durante as manifestações.
Segundo um relatório divulgado pela Asociación Nicaraguense Pro Derechos Humanos (ANPDH), são 448 os mortos, 2.830 os feridos e 595 desaparecidos.
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