Patriarca Raï critica lei sobre Estado Israel aprovada pelo Knesset
Cidade do Vaticano
A lei aprovada pelo Knesset, que define Israel como "o Estado-nação do povo judeu" é "inadmissível, porque exclui as religiões cristãs (católicas, ortodoxas e protestantes) e a muçulmana".
A afirmação é do patriarca maronita Bechara Boutros Raï, durante a Missa celebrada em Faraya (Kesruan) e dedicada ao eremita São Charbel. O cardeal libanês foi a primeira personalidade católica a comentar a decisão.
A lei, votada pelo Parlamento israelense na noite de quarta-feira, 19, após um acalorado debate de 8 horas, definiu Israel como Estado exclusivamente judaico. O idioma árabe, de idioma nacional, torna-se idioma "especial".
Ignóbil, antidemocrática e anti-pluralista
O cardeal denunciou a lei como “ignóbil, antidemocrática e anti-pluralista”, ligada à precedente decisão do parlamento israelense de proclamar Jerusalém capital de Israel.
“Nesta terra temos episcopados, paróquias, instituições e um povo, recordou o patriarca maronita. O povo judaico – e os Estados que o apoiam – não têm o direito de levar sempre mais longe suas agressões e seus atos de exclusão”.
O purpurado manifestou a intenção de dirigir um “apelo às Nações Unidas e ao Conselho de Segurança para que tomem uma decisão que anule a lei do Knesset com base nas precedentes decisões internacionais relativas” aos direitos dos palestinos.
Até agora, da parte árabe, somente os palestinos e os parlamentares árabes em Israel manifestaram-se, taxando a lei de “racista” e “apartheid” legalizado.
Também diversos grupos de ativistas israelenses criticaram a lei, porque mina os direitos das minorias. A União Europeia, por sua vez, pediu que os direitos das minorias sejam respeitados.
Os árabes israelenses representam 20% da população de Israel, um total de 9 milhões de pessoas, e são em sua maioria muçulmanos, mas também há entre eles drusos e cristãos.
A lei legitima também as colônias
A lei declara Jerusalém como a capital de Israel e adota o calendário judaico como o oficial do Estado. Um ponto particularmente controverso é o que legitima as colônias estabelecendo que "o Estado vê o desenvolvimento dos assentamentos judaicos como um interesse nacional e agirá para encorajar e promover sua consolidação", permanecendo aberto também à imigração judaica. A terra de Israel é a pátria histórica do povo judeu, afirma-se na declaração e, portanto, o povo judeu tem um direito especial à autodeterminação.
"Aqui estamos diante de algo extremamente contraditório – havia comentado ao Vatican News Antonio Ferrari, por muito tempo correspondente do jornal italiano “Corriere della Sera” no Oriente Médio e agora colaborador do mesmo jornal - por um lado, pensamos em dois Estados para dois povos, mas parece-me que o governo israelense não quer aceitar esta separação. Por outro lado, com esta lei se diz: "Este é o Estado somente dos judeus e, portanto, os árabes podem até mesmo ir embora". Garantir apenas o judaísmo do Estado de Israel é uma escolha, mas é uma escolha que deveria envolver, por outro lado, o reconhecimento dos direitos da outra parte, que quer sua terra e seu Estado".
A minoria árabe em Israel
A minoria árabe que vive e trabalha em Israel sempre se sentiu discriminada e tratada como "cidadãos de classe B". O que vai acontecer agora? "Agora - diz Ferrari – vão se sentir como cidadãos nem mesmo de série C ou D ou S ou Z; não vão mais se sentir cidadãos. Portanto, o risco de tensões é um risco multiplicado. Que conhece a região sabe bem disso. Essa é uma situação explosiva, e decisões como essa só podem torná-la ainda mais explosiva”.
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