Busca

Dom Pio Alves, bispo auxiliar do Porto Dom Pio Alves, bispo auxiliar do Porto 

Sacerdotes devem estar próximos das pessoas

O bispo auxiliar do Porto, D. Pio Alves, completou 50 anos de ordenação sacerdotal em agosto e fez, para o jornal daquela diocese portuguesa, um balanço do seu longo percurso ao serviço da Igreja.

Rui Saraiva – Porto

D. Pio Alves nasceu em Lanheses no Concelho de Viana do Castelo a 20 de abril de 1945. Foi ordenado presbítero a 15 de agosto de 1968 na Sé de Braga. Cumpriu diversas missões na Arquidiocese de Braga onde foi Assistente do Núcleo de Braga da Associação dos Médicos Católicos Portugueses, Vigário Episcopal da Fé, Presidente da Comissão Arquidiocesana de Liturgia, Diretor do Secretariado Arquidiocesano para a Comunicação Social, e ainda Diretor do Arquivo e Biblioteca e Diretor do Tesouro-Museu da Sé de Braga.

Foi nomeado bispo pelo Papa Bento XVI em 2011 e é bispo auxiliar do Porto tendo sido administrador apostólico da diocese entre 2013 e 2014 até à entrada de D. António Francisco dos Santos. A nível nacional exerceu o cargo de Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.

Publicamos aqui a entrevista que D. Pio Alves concedeu ao jornal diocesano “Voz Portucalense”, na qual faz um balanço dos seus 50 anos ao serviço da Igreja:

P: A sua vocação sacerdotal cedo se revelou?

R: Há cinquenta anos a maioria dos candidatos ao sacerdócio iniciavam os seus estudos após a quarta classe e a idade normal de ordenação era 22, 23, 24 anos. Sim, desde miúdo que comecei a pensar na possibilidade de ser sacerdote, coisa que não me resultou difícil, pois Deus serve-se de todos os meios e os meus estavam em casa. Dois meus irmãos mais velhos eram padres. Eu sou o último de 12 irmãos e quando eu fui para o seminário dois dos meus irmãos mais velhos já se tinham ordenado. E depois na minha paróquia havia mais de 20 seminaristas, portanto, o ambiente estava criado.

P: Alguma recordação especial, algum facto dos seus primeiros tempos de sacerdote?

R: Os meus primeiros tempos de sacerdote foram passados em Guimarães durante dez meses, na paróquia de Creixomil como coadjutor. Tenho uma gratíssima recordação desses meses nos quais o pároco teve a amabilidade de me ajudar e de me deixar trabalhar com responsabilidade. Confesso que tenho toda a consideração pelo pároco de então, o padre Horácio. Foram dez meses de trabalho intenso mas que me ajudaram muito.

P: É um padre do pós Concílio. Isso marcou a sua vida sacerdotal?

R: Padre do pós Concílio mas seminarista do Concílio. Os meus estudos teológicos foram acompanhados pela curiosidade e interesse pelos documentos que iam saindo. Aqui em Portugal foram saindo em fascículos, pela iniciativa da Companhia de Jesus, nomeadamente, um sacerdote que acompanhou muito de perto a publicação dos documentos e nós estudantes seminaristas estávamos sempre ansiosos por saber quando saíam documentos que íamos lendo com alguma frequência.

Depois dos dez meses de trabalho na paróquia em Guimarães fui continuar os meus estudos teológicos na universidade. E aí, como é obvio, o ambiente conciliar estava perfeitamente presente.

P: O Papa tem insistido muito no perfil pastoral dos sacerdotes. Que comentário lhe ocorre a expressão: “padres com o cheiro das ovelhas”?

R: Esse é claramente um apelo do Santo Padre à proximidade dos sacerdotes e de todos os que temos responsabilidades hierárquicas na Igreja, para não perdermos a noção das pessoas que diretamente nos estão confiadas. Porque o que realmente interessa são as pessoas. As estruturas, os planos e os projetos só fazem sentido na medida em que mais facilmente possamos chegar às pessoas nos contextos concretos em que elas se situem.

P: “Caritas in Veritate” – assumiu uma Encíclica para o seu lema de episcopado, foi administrador apostólico da diocese do Porto e é bispo auxiliar. Como tem sido a sua missão no Porto?

R: Quando me foi comunicado o convite do Santo Padre Bento XVI para ser bispo, pensei numa frase que pudesse resumir aquilo que poderia ser o meu projeto de serviço episcopal. E tento que essa frase que está no meu lema episcopal, de facto, resuma a minha atividade.

“Caridade na Verdade” que é, se calhar, um modo diferente, de dizer “pastores com cheiro a ovelha”. Isto é, que a verdade tem de ser dita, a mensagem tem de ser comunicada, nós não somos senhores da mensagem, não somos a meta final, mas simplesmente intermediários.

Mas temos que saber sintonizar com as pessoas com as situações. Isto é, esse equilíbrio que devemos tentar de que nós temos que ser claros com as pessoas mas sendo não só educados mas corretos e amáveis. Portanto, é isso que tento fazer sem artificialismos, partindo do meu legítimo modo de ser. Cada um tem o seu, e Deus, somando os distintos modos de ser, é que faz com que este mundo seja tão interessante.

Costumo dizer que se fossemos todos iguais o mundo seria uma grande chatice. Graças a Deus não somos iguais. Procuro estar ao serviço da mensagem cristã e ao serviço da Igreja no exercício do ministério episcopal e, ao mesmo tempo, estar ao serviço das pessoas procurando transmitir. Respeitando as pessoas na sua identidade, respeitando as pessoas nos seus ritmos e na sua linguagem, mas não me escondendo nessa necessidade de ser próximo e de ser amável com os outros.

P: Nestas bodas de ouro sacerdotais que balanço faz deste longo percurso de serviço à Igreja?

R: Quando fui percebendo desde miúdo que Deus me chamava por aqui, não tinha no meu horizonte ser sacerdote para qualquer espécie de afirmação pessoal, mas como serviço. É evidente que isto vai-se percebendo cada vez com mais detalhe à medida que o tempo passa. Procurei, de modos diferentes, nos mais variados contextos e serviços a que pertenci, ao longo destes 50 anos, estar ao serviço da Igreja e não trabalhar sozinho.

Dou graças a Deus porque pude contar com excelentes colaboradores, não me sobrepondo. Procurei ouvir, procurei trabalhar com eles. E tenho a perceção de que tenho a alegria de olhar para trás e de ver que fui deixando amigos nos diferentes serviços em que estive. E é uma lista felizmente extensa de pessoas amigas com quem fui contactando e que não me esquecerão e eu também não me esqueço.

Era D. Pio Alves, bispo auxiliar do Porto, em Portugal. O prelado foi administrador apostólico desta diocese entre 2013 e 2014 e completou 50 anos de ordenação sacerdotal no passado mês de agosto.

Laudetur Iesus Christus

Ouça e compartilhe!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

05 setembro 2018, 09:31