Papa nos países bálticos: acolhimento, oração e encontro
Rui Saraiva – Porto
Os países bálticos foram a meta desta 25ª Viagem Apostólica do Papa Francisco. Lituânia, Letónia e Estónia foram os países em que o Santo Padre semeou o Evangelho de Jesus em ambiente de acolhimento, oração e encontro.
Destacamos aqui três momentos desta viagem: em Vilnius, na Lituânia convivendo com os jovens e rezando pelas vítimas da opressão soviética; na Letónia celebrando uma Eucaristia no Santuário da Mãe de Deus.
Apostar na santidade a partir do encontro e da comunhão
Na Lituânia, Francisco esteve com os jovens e pediu-lhes para irem contracorrente abraçando a causa do Evangelho sem medo de optar por Jesus
Em Vilnius na Praça da Catedral o Papa Francisco encontrou-se com os jovens da Lituânia. Um significativo momento de oração, de música e de dança. E também de testemunhos aos quais se referiu o Santo Padre, dirigindo-se a Mónica e Jonas, dois jovens que narraram as suas experiências de vida. A este propósito, Francisco assinalou a necessidade dos outros para uma vida cristã:
“Não permitais que o mundo vos faça crer que é melhor caminhar sozinhos. Não cedais à tentação de vos concentrar em vós próprios, de vos tornar egoístas ou superficiais perante a dor, as dificuldades ou o sucesso passageiro. Reafirmemos que, «aquilo que acontece ao outro, acontece a mim»; andemos contracorrente relativamente a este individualismo que isola, que nos torna egocêntricos e vaidosos, preocupados apenas com a imagem e o próprio bem-estar.”
O Papa afirmou no seu discurso aos jovens lituanos que “a nossa verdadeira identidade pressupõe a pertença a um povo” pois não existem identidades que se façam em “laboratório”. O Santo Padre exortou os jovens a apostarem “na santidade a partir do encontro e comunhão com os outros”:
“Apostai na santidade a partir do encontro e comunhão com os outros, atentos às suas necessidades”.
Do testemunho dos jovens Francisco ressaltou a importância da participação na catequese, da celebração da Missa, da oração em família e da ajuda aos mais necessitados.
O Papa assinalou ainda que “acreditar em Jesus implica, muitas vezes, dar um salto de fé no vazio, e isto causa medo”. Mas “seguir Jesus é uma aventura apaixonante que enche de significado a nossa vida” – declarou o Papa exortando os jovens a não terem medo de serem corajosos e de arriscarem participar na “revolução da ternura”. E isso vale a pena:
“Queridos jovens, vale a pena seguir Cristo, não tenhamos medo de participar na revolução a que Ele nos convida: a revolução da ternura.”
O Papa concluiu o seu discurso aos jovens lituanos convidando-os a “optar por Jesus” que nos dará “tempos amplos e generosos” “onde ninguém precisa de emigrar” – afirmou:
“Não tenhais medo de optar por Jesus, abraçar a sua causa, a causa do Evangelho. Porque Ele nunca descerá do barco da vossa vida, estará sempre na encruzilhada das nossas estradas, não cessará jamais de nos reconstituir, mesmo que às vezes nos empenhemos a demolir-nos. Jesus presenteia-nos com tempos amplos e generosos, onde há espaço para os fracassos, onde ninguém precisa de emigrar, porque há lugar para todos. Muitos quererão ocupar os vossos corações, infestar os campos das vossas aspirações com as ervas daninhas, mas no final, se dermos a vida ao Senhor, vencerá sempre o trigo bom.”
Oração no Museu das Ocupações e Lutas pela Liberdade
A oração no Museu das Ocupações e Lutas pela Liberdade, em Vilnius, na Lituânia, foi a última etapa da visita do Papa Francisco àquele país. Francisco visitou primeiro o Monumento pelas vítimas do Gueto de Vilnius, precisamente no Dia do Genocídio Hebraico na Lituânia que se assinala a 23 de setembro, recordando o ano de 1943 quando aquele Gueto foi encerrado.
Depois, no Museu das Ocupações e Lutas pela Liberdade, o Santo Padre proferiu uma oração. Um momento de silêncio e reflexão num local símbolo da dominação soviética, onde estava a sede do KGB na cidade e onde o Papa pode visitar as celas 9 e 11 e a sala das execuções.
Francisco foi acolhido por um bispo católico da Companhia de Jesus que sobreviveu à perseguição soviética e também por um descendente de deportados.
Na sua oração Francisco começou por citar as palavras de Jesus: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Mt 27, 46).
“O vosso grito, Senhor, não pára de ressoar, ecoando dentro destas paredes que recordam os sofrimentos vividos por tantos filhos deste povo. Lituanos e originários de diferentes nações sofreram na sua carne o delírio de omnipotência daqueles que tudo pretendiam controlar.”
O Papa referiu na sua oração a memória daquele lugar, pedindo ao Senhor para nos mantermos “despertos” no “presente e no futuro” para que a Lituânia seja farol de esperança. Pediu ainda para que não sejamos surdos “ao grito de todos aqueles que hoje continuam a erguer a voz para o céu”:
“Senhor, que a Lituânia seja farol de esperança; seja terra da memória operosa, que renova os compromissos contra toda a injustiça. Que promova esforços criativos na defesa dos direitos de todas as pessoas, especialmente das mais indefesas e vulneráveis. E que seja mestra na reconciliação e harmonização das diferenças.
Senhor, não permitais que sejamos surdos ao grito de todos aqueles que hoje continuam a erguer a voz para o céu.”
Compromisso no acolhimento sem discriminações
O Papa Francisco na sua viagem pelos países bálticos esteve na Letónia. Passou a manhã do dia 24 de setembro na capital Riga e depois rumou a Aglona, uma cidade com cerca de 300 mil habitantes onde está o Santuário Internacional da Mãe de Deus. Um centro da devoção dos letões à Virgem Maria que conheceu a opressão dos regimes nazista e comunista. Hoje em dia chegam fiéis de todo o mundo. E foi neste Santuário que o Papa celebrou a Eucaristia.
Na sua homilia, Francisco referiu o lema desta visita: “Mostrai-vos Mãe”. “O Evangelho de João refere apenas dois momentos em que a vida de Jesus cruza a de sua Mãe: as bodas de Caná e o texto que acabamos de ler, ou seja, Maria aos pés da cruz” – assinalou o Papa recordando a firmeza de Maria junto de seu Filho, exatamente o modo como os cristãos devem estar junto daqueles “que padecem uma realidade dolorosa”.
“Os descartados da sociedade podem experimentar esta Mãe delicadamente próxima” através do acolhimento que lhes devemos dar seguindo o exemplo de Maria que “é convidada por Jesus a aceitar o discípulo amado como seu filho” – afirmou o Papa.
“Peço-vos do fundo do meu coração que não deixeis que a vingança ou a irritação abram caminho no vosso coração. Se o permitíssemos, não seríamos cristãos verdadeiros, mas fanáticos” – disse o Papa recordando que “num período em que parecem voltar mentalidades que nos convidam a desconfiar dos outros, que querem demonstrar-nos com estatísticas que estaremos melhor, teremos mais prosperidade, haveria mais segurança, se estivéssemos sozinhos, Maria e os discípulos destas terras convidam-nos a acolher, a apostar de novo no irmão, na fraternidade universal” – declarou Francisco.
O Santo Padre lembrou também que nas bodas de Caná, um “matrimónio que ficara sem vinho” e que podia tornar-se “árido de amor e alegria”, foi Maria “quem ordenou que fizessem o que Ele lhes dissesse”. E o Papa concluiu a sua homilia exortando os fiéis a privilegiarem os mais pobres assumindo a firmeza, a coragem e a humildade cristãs:
“Aos pés da cruz, Maria lembra-nos a alegria de termos sido reconhecidos como seus filhos, e seu Filho Jesus convida-nos a levá-La para casa, a colocá-La no centro da nossa vida. Ela quer dar-nos a sua coragem para permanecermos firmes de pé; a sua humildade, que Lhe permite adaptar-Se às coordenadas de cada momento da história; e clama neste santuário por que todos nos comprometamos a acolher-nos sem discriminações, e todos, na Letónia, saibam que estamos dispostos a privilegiar os mais pobres, a levantar aqueles que caíram e a acolher os outros à medida que chegam e se apresentam diante de nós” – disse o Papa no final da sua homilia no Santuário da Mãe de Deus em Aglona na Letónia.
No último dia no Báltico o Papa Francisco celebrou Missa na Estónia, na Praça da Liberdade em Talin, e falou precisamente da liberdade dos que vivem sem Deus. Propôs Deus aos corações dos estónios:
“A proposta de Deus não nos tira nada; pelo contrário, leva à plenitude, potencializa todas as aspirações do homem. Alguns consideram-se livres, quando vivem sem Deus ou separados dele. Não se dão conta de que, assim, percorrem esta vida como órfãos, sem um lar para onde voltar” – disse o Papa na Estónia.
No regresso a Roma o Santo Padre visitou a Basílica de Santa Maria Maior para agradecer a Nossa Senhora esta sua viagem.
Laudetur Iesus Christus
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