“Devo ter nascido a dizer que queria ser padre” – o testemunho do padre Sérgio Leal
Rui Saraiva – Porto
Sérgio Filipe Pinho Leal, tem 33 anos, nasceu em Paço de Sousa no concelho de Penafiel, na diocese do Porto, em Portugal a 9 de setembro de 1985. Quase que nasceu a dizer que queria ser padre – afirma o padre Sérgio. A sua família, o seu pároco e todas as experiências missionárias que fez moldaram-lhe a vocação. Foi ordenado em julho de 2012. Paroquiou durante 3 anos e agora estuda em Roma Teologia Pastoral na Pontifícia Universidade Lateranense tendo defendido neste mês de outubro a sua tese de licenciatura sobre a sinodalidade como estilo pastoral.
Em entrevista sintetiza o percurso da sua vocação e o seu serviço à Igreja:
P: Quando é que Jesus tocou no seu coração e lhe provocou as primeiras inquietações para que o seguisse?
R: Eu costumo dizer por brincadeira que devo ter nascido a dizer que queria ser padre. Porque à célebre pergunta que se faz a todos os miúdos: o que queres ser quando fores grande? Respondia sempre: quero ser padre. E creio que tudo isto se compreende pelo ambiente familiar em que nasci marcadamente cristão, de oração diária, de prática dominical, do fascínio pelo meu velho pároco. Um homem que falava muito bem, muito próximo das pessoas, mas também muito próximo do seu tempo. Com a sua postura de alguém formado antes do Concílio, mas que equilibrava essa distância própria da sua formação com uma proximidade de pastor.
E recordo gestos seus na minha infância: quando a minha avó tinha ficado doente, ele veio a casa visitá-la e lembro-me de perguntar porque é que o senhor padre tinha ido lá a casa. E disseram-me que ele era padre e visitava os doentes e os mais pobres. E recordo-me que estas coisas, todos estes pormenores da infância, foram marcando e fazendo com que esta motivação infantil e pueril de querer ser padre fosse amadurecendo no tempo.
Evidentemente, que ao longo do meu percurso, na escola primária, onde a minha professora exerceu uma influência muito positiva pelo modo como falava de Jesus, a sua devoção mariana, depois todas as experiências de pré-seminário por onde passei nos missionários dehonianos. E depois uma experiência muito positiva de discernimento foram os missionários espiritanos onde fui acompanhado pelo padre João David que neste momento se encontra no México em missão, mas que foi alguém que me acompanhou com uma liberdade enorme de quem queria ajudar a procurar o caminho a seguir. E, portanto, apesar da vocação nascer quase com o nascimento, recordo sempre as palavras de Jeremias: “já no ventre de minha mãe o Senhor me conhecia e chamava”, mas a minha história pessoal e as pessoas com quem fui cruzando e as várias experiências na escola, os institutos missionários, os seminários diocesanos foram ajudando a amadurecer esta decisão e a fortalece-la ao longo do tempo.
P: Quais foram as suas primeiras missões depois da ordenação?
R: Eu fui ordenado em 2012, a 8 de julho, e tinha feito o meu estágio pastoral na Paróquia de Espinho com o padre Zé Pedro. E o D. Manuel Clemente tomou a opção de que eu ficasse na paróquia de Espinho como vigário paroquial e o padre Zé Pedro assumiu a paróquia de Anta e de Guetim. A ideia inicial era que eu frequentasse uma pós-graduação na Católica que não chegou a abrir. E isso possibilitou que esse primeiro ano de ministério fosse um ano tranquilo e sereno colaborando com o padre Zé Pedro.
Foi um ano para mim muito importante porque no meu primeiro ano de ministério não precisei de assumir pessoalmente a responsabilidade paroquial, mas ia colaborando com alguém com uma vasta experiência pastoral e me possibilitou ter tempo para visitar doentes, para fazer atendimento, para ser aquilo que as pessoas esperam do padre: alguém disponível, com tempo, porque eramos 2 padres para 3 comunidades paroquiais. E, por isso, foi uma experiência inicial de um ano muito boa. Depois dessa experiência de vigário paroquial, o senhor D. Pio como administrador apostólico chamou-me e nomeou-me para as paróquias de Arrifana, Romariz e Sanfins onde estive durante 3 anos como pároco.
P: Mais tarde veio a surpresa de ir para Roma estudar. Como é que recebeu essa notícia?
R: O senhor D. António Francisco era um homem que caminhava devagarinho e ia semeando para depois ir colhendo aquilo que queria. E ele foi dando alguns sinais de que tinha alguma missão especial para mim. Recordo que numa visita que fez à paróquia por ocasião dos 140 anos da Serva de Deus Ana de Jesus Maria José, estando os dois a conversar um bocadinho e a comer qualquer coisa antes da missa ele me dizia: “vejo que estás bem, as pessoas estão bem, mas como é que faço para te tirar daqui?”. E eu senti que havia ali já alguma intenção, com certeza, que ele andaria a pensar, a estudar e a rezar, sobretudo, porque sabemos que esse era o seu modo de trabalhar e de conduzir a diocese de Porto.
É verdade que o senhor D. Manuel Clemente quando me ordenou dizia que a missão dos estudos seria uma missão para mim, mas depois, tendo em conta o percurso que fui fazendo e como estava na paróquia, porque estava bem e estávamos a fazer um percurso bonito de 3 anos na vida paroquial, o projeto pastoral a começar a consolidar-se… Mas o senhor D. António chamou-me e confiou-me esta missão de estudar em Roma. Uma missão que ele tinha muito bem pensada de acordo com o projeto diocesano. Porque pretendia que eu estudasse Teologia Pastoral fazendo os 2 anos da licenciatura em Teologia Pastoral, tendo sempre em vista a renovação pastoral da diocese. E pediu-me que a minha tese de licenciatura fosse sobre o sínodo diocesano que ele pretendia. Dizia-me para ver em Roma como é que Milão fez o percurso sinodal porque, dizia ele: “se Milão é a maior diocese do mundo, o Porto é a maior diocese portuguesa”. E depois a tese de doutoramento que seria mais ligada à pastoral catequética e até ligada à pastoral vocacional que era também uma preocupação muito sua.
P: Em Roma devido à morte do senhor D. António Francisco acabou por ter que modificar um pouco o objeto de estudo do seu doutoramento?
R: Sim. No meu primeiro ano, quando vinha de férias, encontrava-me sempre com o senhor D. António, tendo em conta que muitas das minhas disciplinas eram opcionais e eu poderia conduzir o meu percurso académico com as necessidades da diocese, ia conversando com ele sobre aquilo que ele entendia ser o melhor caminho a trilhar e as opções a fazer. E vimos que a tese da licenciatura seria sobre o sínodo diocesano. Com o meu orientador em Roma fomos lançando as bases para esse estudo, recolhendo algum material nas minhas primeiras férias, para que no verão começasse a ler alguma coisa sobre os sínodos diocesanos. E em setembro (2017), estando eu para partir para Roma, dá-se a partida inesperada do senhor D. António Francisco.
Conversei com alguns padres da diocese no sentido de perceber se valia a pena continuar a fazer a tese na área do sínodo diocesano, pois vinha um novo bispo que poderia não querer fazer um sínodo e, então, fomos apontando para o estilo do senhor D. António que era a sinodalidade. E vou com esta ideia para Roma, converso com o meu orientador que lançou a ideia da “sinodalidade como estilo pastoral, partindo do magistério do Papa Francisco”.
De algum modo penso que fica fiel àquilo que era o pedido do senhor D. António que era este o seu estilo, um estilo sinodal. Como disse na entrevista à Rádio Renascença, na primeira entrevista que dá como bispo do Porto: “o bispo não trabalha sozinho, é irmão de todos, deve trabalhar com todos”. Esta é uma marca sinodal que está desde o início no seu coração.
O padre Sérgio Leal está em Roma a dar continuidade aos seus estudos na área da Teologia Pastoral. É coordenador da página de liturgia do jornal da diocese do Porto “Voz Portucalense”.
Laudetur Iesus Christus
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