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'Ai da Igreja se não fossem os leigos - e as leigas especialmente'

Confira a entrevista com Mons. Raimundo Possidônio Carrera da Mata, mais conhecido como Mons. Cid, pároco, professor de História da Igreja na Faculdade católica de Belém (PA) e coordenador de Pastoral da Arquidiocese.

Cristiane Murray - Cidade do Vaticano

Monsenhor Raimundo Possidônio Carrera da Mata, mais conhecido como Monsenhor Cid, por conta de um apelido de família, é padre há 40 anos, pároco, professor de História da Igreja na Faculdade católica de Belém (PA) e coordenador de Pastoral da Arquidiocese.

Todas estas funções fazem dele um homem próximo a duas realidades da vida da Igreja: a da formação, seja de futuros padres, como de missionários; e a da pastoral, que o aproxima especialmente de leigos e leigas, em seus diversos âmbitos de trabalho.

Em tantos anos no contexto amazônico, Mons. Cid tem uma ampla percepção do passado, do presente e do futuro da região e da atuação da Igreja. A partir deste seu olhar, o Sínodo se apresenta como um resultado desta caminhada da Igreja, numa realidade tremendamente desafiadora, e que não muda.

“Quanto mais o tempo passa, mas esta realidade se agrava”

“As vítimas da delapidação de nosso patrimônio de riqueza cultural, social e humana são os povos tradicionais, como os índios, vítimas seculares do processo de colonização que, iniciado no século XVII, ainda não acabou”.

O Papa Francisco convocou o Sínodo com o objetivo de ajudar a Igreja a mudar o seu rosto na Amazônia

"Nestes últimos 30, 40 anos, a Igreja amadureceu e se fortaleceu. Os bispos continuam bem próximos da vivência de seu povo na simplicidade, na pobreza, no despojamento, na sobriedade; participam da luta do povo, têm uma preocupação constante com o que está acontecendo; reagem aos chamados ‘grandes projetos’, têm a preocupação de não ‘frear’ isso, mas pelo menos entender para ajudar o povo a se organizar e se posicionar em relação a isso".

Ouça a reportagem completa

“Percebo que houve esta mudança, uma mudança de mentalidade, uma mudança pastoral que foi muito frutuosa para a Igreja, porque ajudou também, com Medellin e Puebla, a uma efetiva e concreta participação dos leigos".

“Se antes era uma Igreja clerical, a mudança provocou uma ‘enxurrada’ de leigos para dentro da Igreja, as portas e as janelas se abriram, e aqui na Amazônia isso é palpável”

"Eu gosto de dizer: ‘ai da Igreja se não fossem os leigos e leigas – as mulheres de modo especial’. As comunidades eclesiais de base sustentaram e sustentam ainda hoje o trabalho da Igreja.
Creio que a percepção do Papa Francisco sobre esta realidade aqui da Amazônia é a percepção de um pastor preocupado com o seu rebanho, que é a grande vítima. Por outro lado, ele quer que a Igreja se envolva cada vez mais com isso. Não que a Igreja tivesse abandonado esta realidade – pelo contrário. A Igreja foi a única instituição da construção da Amazônia que se colocou realmente no meio dos índios e está no meio deles tentando ser uma ajuda em suas lutas, em sua conscientização...

"Vejo o Sínodo com muita esperança que possa ajudar a Igreja cada vez mais a mergulhar nesta realidade nesta sócio diversidade e na preocupação com a biodiversidade, para mudar o rosto desta Amazônia. A Amazônia é apresentada como ‘celeiro’, como ‘pulmão’ do mundo, mas na verdade, é um lugar muitas vezes sofrido e cuja perspectiva do ponto de vista econômico é de ser sempre mais explorada".
 

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24 dezembro 2018, 08:59