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Padre José Maria Pacheco Gonçalves Padre José Maria Pacheco Gonçalves 

“A Igreja já está a viver uma purificação”

O padre José Maria Pacheco Gonçalves apresenta a terceira e última reflexão sobre os últimos tempos do pontificado de Francisco.

Rui Saraiva – Porto

Os últimos tempos do pontificado do Papa Francisco não têm sido fáceis sobretudo devido ao escândalo dos abusos sexuais a menores por parte de membros do clero.

Neste ano de 2018 foi particularmente mediática a tomada de posição do bispo D. Carlo Maria Viganò, ex-Núncio Apostólico nos Estados Unidos da América, que pediu a renúncia do Papa invocando que Francisco teria alegadamente encoberto denúncias de abusos sexuais.

Também de referir a difícil situação que aconteceu no Chile durante a Viagem Apostólica do Santo Padre e que levou a um pedido de desculpas do próprio Papa e a várias renúncias de bispos daquele país.

A este propósito os bispos polacos no passado mês de novembro pediram desculpa “a Deus, às vítimas de abuso, às suas famílias e às comunidades de toda a Igreja, por todos os males causados às crianças, jovens e suas famílias”.

Sobre este assunto o Papa Francisco convocou uma reunião inédita no Vaticano para os próximos dias 21 a 24 de fevereiro de 2019. O tema será “A proteção dos menores na Igreja” e estarão presentes os presidentes das várias conferências episcopais, os chefes das Igrejas católicas orientais, os superiores da Secretaria de Estado do Vaticano, os prefeitos das várias congregações e dicastérios da Cúria Romana (Doutrina da Fé, Igrejas Orientais, Bispos, Evangelização dos Povos, Clero, Institutos de Vida Consagrada; Leigos, Família e Vida) e os representantes dos institutos religiosos.

Foi nomeada uma comissão organizadora com os seguintes elementos: o cardeal Blase J. Cupich, de Chicago (EUA); o cardeal Oswald Gracias, de Bombaim (Índia); D. Charles Scicluna, arcebispo de Malta e secretário-adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé e o padre Hans Zollner, presidente do Centro para a Proteção de Menores da Universidade Pontifícia Gregoriana.

Ouça a reportagem completa

Entrevista

O padre José Maria Pacheco Gonçalves, jornalista durante muitos anos da redação de língua portuguesa da Rádio Vaticano e um atento comentador da atualidade da Igreja, ajudou-nos nas últimas semanas a refletir sobre este tema.

Transmitimos aqui a sua terceira e última reflexão na qual o padre José Maria começa por recordar que a Igreja está chamada a ser fermento de vida nova e sublinha esperar que os bispos, as comunidades e os fiéis sejam capazes de perceber de que lado está o Papa Francisco.

“Se calhar o Papa Francisco tem tido também os seus erros e as suas imprudências, mas isso só mostra que ele é muito humano. Eu espero que os bispos e todas as comunidades e todos os fiéis leigos possam fazer esta distinção e perceber de que lado está o Papa Francisco e de que lado estão os que se lhe opõem frontalmente e querem fazê-lo substituir o mais rapidamente possível. Os critérios não podem ser mundanos, ou políticos e os processos deste mundo, mas aqueles do Evangelho. E, se calhar, a perseguição por causa da justiça e da verdade … está lá escrito… Não nos devemos admirar. Vamos aceitar esta humilhação, como vários pastores e o próprio Papa Francisco têm dito, para sermos mais modestos. A Igreja continua a aprender e a ter que aprender.”
(…)

“Se calhar, a Igreja já está a viver uma purificação que a seu tempo vai ajudar. Os leigos estão a tomar consciência que já não somos uma maioria, muito menos uma maioria que possa pretender falar de cima para baixo, para o mundo e para as pessoas. Tem que ser sempre qualquer coisa que seja testemunhado e encontrando sempre a forma justa de intervir que seja modesta e humilde. E a partir daí a Igreja está chamada a ser sal da terra e fermento de vida nova e essa é a missão da Igreja.”

P: Os últimos tempos da Igreja foram marcados pelo Sínodo dos Bispos sobre os jovens, a fé e o discernimento. O Papa assinalou que o estilo sinodal deve ser uma espécie de método para o futuro. Como analisa esta afirmação do Santo Padre?

R: Eu penso que o Papa antes de mais está a dizer que os documentos não são tudo e isso já é um grande salto. Que mais do que um documento muito bonito que depois se arruma e que, quando muito se lê com algum interesse, mas que muitas vezes nem se chega a ler. Que a experiência sinodal em si já é uma experiência fecunda e transformadora. Que de facto o espírito sinodal será cada vez mais o caminho de qualquer renovação e da própria existência e coexistência das pessoas na Igreja.
(…)

Se calhar, tudo aquilo que aconteceu e os escândalos estão ligados a uma certa elite, mesmo eclesiástica, que está absolutamente desligada dos sofrimentos do povo com todos os seus problemas e que no respeito por cada um e por todos, nomeadamente, pelos mais marginais, pelos que sofrem, a conversão passa por aí. Numa paróquia ou movimento não se pode deixar tudo nas mãos de um grupo iluminado que sabe falar e dizer coisas bonitas, mas é preciso ouvir os mais simples, os mais pobres, dar uma palavra a cada um. E promover isto a todos os níveis já por si é revolucionário no bom sentido, é transformador, é fecundo.

Era o padre José Maria Pacheco Gonçalves que conclui com esta reflexão as suas considerações das últimas semanas sobre o momento atual do pontificado do Papa Francisco, aqui na nossa rubrica “Sal da Terra, Luz do Mundo”.

Laudetur Iesus Christus

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05 dezembro 2018, 12:57