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Dom Edson em visita aos índios Yanomami, próximo ao rio Marauiá, em Santa Isabel do Rio Negro, Amazonas Dom Edson em visita aos índios Yanomami, próximo ao rio Marauiá, em Santa Isabel do Rio Negro, Amazonas 

Amazônia: a homilia dos padres indígenas que chega aos corações

Uma entrevista especial com o bispo da diocese mais “indígena” do Brasil, o gaúcho Dom Edson Tasquetto Damian, revela a importância de se valorizar a cultura indígena dentro da Igreja, principalmente através do idioma nativo: “padres indígenas pregam a homilia na língua do povo e entra muito mais no coração dos fiéis”.

Andressa Collet – Cidade do Vaticano

Dom Edson Tasquetto Damian é bispo de São Gabriel da Cachoeira há cerca de 10 anos, a diocese que fica no interior do estado do Amazonas e é considerada a mais “indígena” do Brasil. Além de bispo amazônico, Dom Edson é também Padre Sinodal, já que vai participar do Sínodo Especial para a Amazônia em outubro de 2019.

Em entrevista à Cristiane Murray, o bispo revelou o tipo de Igreja que sonha para a Amazônia: “uma Igreja como nos pede o Papa Francisco: com rosto amazônico.”

São Gabriel da Cachoeira: 95% indígena

Para que a Igreja tenha esse rosto, explica Dom Edson, o encontro de outubro será fundamental, como também é importante a preparação dele que está sendo feita através da participação de dioceses e comunidades, inclusive indígenas, que se reúnem para refletir e discutir a realidade da região:

“Esse documento preparatório, ele é tão bem feito, que eu já distribuí para as comunidades e já vi pessoas muito simples, com pouca cultura, entendendo que é um documento que está confiando nos leigos e pedindo propostas inovadoras, mas que venham da base. E nós, indígenas, estamos muito bem valorizados nesse documento. Na minha igreja, onde 95% da população é indígena, esse documento chega às pessoas simples que se sentem valorizadas, porque são convidadas a dizer o que pensam da Igreja, dos novos ministérios, de uma participação mais efetiva da mulher na busca de uma Igreja que sabe ouvir o povo e está mais próxima deles. Elas dizem que têm vários padres indígenas, que precisam buscar mais vocações e incentivar os jovens, porque os padres indígenas fazem uma diferença muito grande. Isso porque eles pregam a homilia na língua do povo e entra muito mais no coração dos fiéis.”

Ouça a reportagem completa

O bispo dá um exemplo, explicando que foi dar um treinamento sobre líderes, numa das paróquias mais distantes da diocese, e com a ajuda de uma pessoa nativa que fala a língua do povo: "o que eu constatei: aquilo que eu demoro meia hora pra explicar em português, ela em 5 minutos explica e eles captam logo a mensagem".

A Boa Nova das culturas indígenas

Em São Gabriel da Cachoeira, segundo Dom Edson, há três padres indígenas que falam os idiomas amazônicos, como o tucano, o banigua e o inhangatu. Algumas missas, mas principalmente as músicas das cerimônias, já recebem a interpretação na língua local.

Com a abertura do Papa Francisco, que motiva os povos indígenas a serem protagonistas, Dom Edson afirma que querem levar para o Sínodo Amazônico aquilo que vem da base e das comunidades. Na comissão pré-sinodal, por exemplo, o único indígena que participa dos trabalhos é um índio que se formou padre, que não renunciou a cultura, nem o jeito de viver, língua e valores. Toda a formação que recebeu foi sem que ele precisasse renunciar a sua cultura:

“A gente tem esse princípio que nos orienta há tempos: a Boa Nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova de Jesus. Há tantos valores humanos nesses povos indígenas, que o Evangelho vem completar e iluminar.”

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11 dezembro 2018, 20:08