O Panamá e o Canal, o país com dois horizontes
Alessandro De Carolis – Cidade do Panamá
“Só no Panamá pode-se passar do Oceano Pacífico ao Atlântico em menos de uma hora”. Diz com muito orgulho um senhor panamenho aos jornalistas do Vatican News. A cidade que está para receber o Papa tem a história de uma obra monumental que mudou para sempre a fachada e o destino de um país com dois horizontes.
Um sonho que tem séculos
A ideia que levou à construção da “oitava maravilha do mundo” nasceu já no início do século XVI. Pouco depois da descoberta do Novo Mundo, o conquistador Vasco Núñez de Balboa, atravessou o istmo do Panamá e deparou inesperadamente diante de uma enorme extensão de água desconhecida. Para o explorador é o “Mar do Sul”, ao invés, admirava o Oceano Pacífico. Nos séculos seguintes, quando o atravessamento do Cabo Horn, famoso por suas tempestades e naufrágios, que era cada vez mais um desafio para os marinheiros mesmo os mais experientes, a ideia de “cortar” a estreita faixa de terra tornou-se um projeto. O primeiro a fazer a proposta foi Ferdinand de Lesseps, o gênio do Canal de Suez, mas a tentativa não deu certo, Todavia passaram poucos anos. Em 1901, os Estados Unidos com o tráfego marítimo da Califórnia em plena expansão, intuem a importância estratégica do Canal e conseguem obter do governo da época (o território pertencia aos colombianos) a autorização para construi-lo.
Entre dois oceanos
Depois de anos de estudos e algumas controvérsias políticas, em 1907 começaram as obras. A possibilidade de nivelar a terra do istmo nos dois lados, colocando-a ao nível do mar do leste ao oeste foi logo excluída, tecnologia e finanças não permitiam. O plano era, ao invés, a construção de um sistema de represas que, nas duas direções, levassem os navios em trânsito a elevar-se três vezes até o ponto mais alto do istmo, a 26 metros do lago de Gatún, para depois baixar novamente do mesmo modo. A rocha era muito dura, a vegetação selvagem, com rios e desníveis que dificultavam as obras. Centenas de operários trabalharam por sete anos e o estreito foi aberto em 3 de agosto de 1914.
Em 1903, os Estados Unidos assumiram a administração do canal até primeiro de janeiro de 2000, tornando-se os controladores do tráfego naval que em 100 anos levou o Canal a receber o trânsito de 15 mil navios por ano. Em 2006 começou a ampliação do Canal com 2 novas represas que levaram a duplicar as passagens, com tarifas que partem de 50 mil dólares para um navio de porte médio aos 200 mil para um navio de cruzeiro (mas um navio com containers chega a pagar 830 mil dólares, para um tempo médio de trânsito de 8-10 horas).
Canal “nostrum”
Hoje, respeitando os acordos, é o Estado panamenho que administra o Canal, uma das principais fontes de riqueza do país. Mas há uma página de sangue que precede este êxito, que já era prevista. Em 9 de janeiro de 1964, centenas de estudantes fazem um protesto reivindicando a soberania do Canal do Panamá e tentaram forçar a entrada no setor americano. Foram três dias de enfrentamentos, violentos, que custaram a vida de 20 jovens e quatro soldados estadunidenses. Para os panamenhos foi um fato que ficou na memória de todos, para sempre.
Sem fronteiras
Na entrada do Canal pode-se perceber a antecipação da festa que está para começar. Centenas de jovens da JMJ por todos os lados, lotam os locais para visitas turísticas, entre vídeos históricos, antigos modelos de cargos e simulador de rebocadores, que entre selfies e fotos torna-se ocasião para conhecer esta maravilha.
E enquanto do alto do edifício de visitas admira-se a lenta saída dos navios para o oceano pode-se pensar, ao contrário, no chamado que levou a vir ao Panamá tantos jovens de todo o mundo. E por analogia, às palavras do Papa durante a vigília em Cracóvia em 2016, quando disse aos jovens para recusarem o “sofá-felicidade” e caminhar, disse, “em estradas nunca sonhadas antes e nem mesmo pensadas”, porque Jesus “olha-te projetado no horizonte, nunca no museu”. Aqui no pequeno Panamá, onde há dois imensos horizontes, a JMJ, se poderia dizer, já duplicou as esperanças de Francisco.
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