Carriquiry sobre a JMJ: realidade difícil, mas com a energia dos jovens
Cidade do Vaticano
A viagem do Papa Francisco para o Panamá terá uma forte conotação mariana, seguindo o tema: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1, 38)”. Mas será também um momento para analisar as problemáticas e as prerrogativas da juventude centro-americana e de toda a região.
O vice-presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, o uruguaio Guzmán Carriquiry Lecour, fala ao Vatican News sobre as expectativas da JMJ: “Apesar dos problemas, somos um continente jovem e por isso forte”.
Carriquiry: Ainda temos todo o potencial da energia dos jovens que, apesar de todos os nossos problemas, é uma fonte de esperança para o futuro dos povos latino-americanos. Esperança vivida nas grandes dificuldades. Nas últimas décadas a América Latina teve um grande aumento da escolarização, hoje temos um número muito alto de jovens latino-americanos inscritos nas universidades. Certamente o número de abandono escolar ainda é alto e fala-se de 20% de jovens latino-americanos que são definidos “nini”, ou seja, não estudam e não trabalham, vivem em uma situação de marginalidade e por isso de grande vulnerabilidade.
Tudo isso em um momento crítico, onde as redes de narcotráfico se expandem por todos os lados tentando seduzir e atrair os jovens, para entrarem nestas redes criminosas cada vez mais violentas. Este é um dos maiores problemas da América Latina de hoje. Os jovens latino-americanos vivem em uma situação difícil para conseguir entrar no mercado de trabalho, nos nossos países os índices de desemprego são altíssimos e pelo menos 50% dos empregados são precários.
Gostaria de sublinhar um outro fenômeno que se está manifestando: um certo desencanto dos jovens pela política. A onda de corrupção vivida pelos países latino-americanos afasta os jovens da política; a política atual concentra-se cada vez mais em corporações, feita por políticos auto-referentes e tudo isso num contexto de grande crise de desestruturação dos partidos políticos tradicionais. Tudo isso não facilita a participação das novas gerações cristãs na política. É um problema muito sério, porque a América Latina precisa de uma reabilitação da política, da boa política.
Professor, os jovens chegam ao Panamá poucos meses depois do Sínodo no qual foram protagonistas: qual a ligação entre os dois eventos?
Carriquiry: O que une estes dois eventos será a experiência de sinodalidade, vimos com os nossos olhos durante a Assembleia do Sínodo no diálogo entre os bispos com os jovens. Este experiência de sinodalidade continuará, em outro cenário, no diálogo do Papa com os jovens no Panamá ou dos bispos com os jovens, porque no Panamá estarão presentes bispos provenientes de todo o mundo. E este caminho sinodal da Igreja é para o Papa Francisco é um dos sinais mais importantes da reforma que quer levar adiante na Igreja Católica.
O Papa encontrará os bispos centro-americanos do Sedac que nestes meses assumiram um dos grandes problemas da região: a questão dos migrantes e os sofrimentos dos que partem para a fronteira entre Estados Unidos e México…
Carriquiry: Certamente irão compartilhar com o Papa esta enorme preocupação pastoral. Os países da América Central estão vivendo uma situação de grande pobreza, de exclusão de boa parte da população, do crescimento do narcotráfico, de violência, de gangues de jovens cada vez mais violentas. O resultado disso são estas migrações, esta Via-Sacra centro-americana rumo à fronteira do México com os Estados Unidos: são detidos, controlados, também por causa desta obsessão do presidente Trump em construir o muro de separação. Todos os países têm todo o direito de garantir a segurança do próprio território, mas nas atuais condições, todo o honesto cidadão latino-americano, quando vê estas migrações que pesam principalmente no povo e no governo mexicano que já tem muitos problemas, deveria dizer e repetir: “Somos todos centro-americanos. Somos todos mexicanos”
Os jovens descobrirão no Panamá um país que se destaca pela sua modernidade, mas também pelas diferenças cada vez maiores entre ricos e pobres…
Carriquiry: Exatamente. O arcebispo de Panamá teve a sinceridade, e também a coragem, de dizer que os peregrinos jovens e os bispos que chegarão ao Panamá, encontrarão dois Panamás: a Cidade do Panamá que se vê na saída do aeroporto, o Skyline de arranha-céus que parece uma pequena Manhattan e depois, saindo da capital e entrando no interior do país, muita pobreza e exclusão. Muitos jovens peregrinos, antes de chegar à Cidade do Panamá, serão hospedados pelas dioceses daquelas regiões, assim poderão apreciar os dois Panamás, mas também a hospitalidade, a generosidade, a solidariedade, o afeto demonstrado por todos os panamenhos.
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