Vítimas do tráfico humano: rostos, não números. Rezar para denunciar
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
Hoje a Igreja recorda a memória de Santa Josefina Bakhita, a sudanesa traficada e escravizada que consagrou a sua vida a Cristo. Por isso, se celebra o Dia Internacional de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Seres Humanos. Trata-se de uma iniciativa impulsionada pelo Papa Francisco e confiada às irmãs que integram a Rede Talitha Kum.
A coordenadora internacional da Rede é a Ir. Gabriella Bottani, que lutou contra o tráfico no Brasil, e que ressalta a importância da oração:
“Eu acredito que a oração seja um alimento, que nos dá força para transformar a oração em ações. Orar é tomar conhecimento e também olhar o mundo com o olhar de Deus. Este é o verdadeiro sentido da oração. E se eu escuto e tento enxergar a realidade de hoje com este olhar de Deus, que é um Deus que ama a todos e todas, vou descobrir as violações, vou descobrir o sofrimento da natureza, vou descobrir o sofrimento das minhas irmãs e dos meus irmãos e de lá somos chamados a denunciar. Neste caso, o anúncio se torna uma denúncia. Por isso, não consigo entender na minha de religiosa, de religiosa comprometida contra o tráfico para promover a vida, uma oração que não seja encarnada dentro da vida.”
Rostos concretos
Os números que giram em torno do tráfico são astronômicos, seja em termos de lucro, seja de pessoas envolvidas – a ONU estima 45 milhões de seres humanos. Números que para o Papa Francisco são rostos concretos de vítimas. Quem nos dá a dimensão dessa concretude é a Ir. Glória Caixeta, que desde o início integrou a Rede “Um Grito pela Vida” (ramo brasileiro de Talitha Kum).
Ir. Glória conta a história de uma moça do Rio de Janeiro traficada ainda menor de idade para Turim, no norte na Itália. A religiosa brasileira foi contata por uma assistência social italiana, que pediu uma colaboração para verificar as circunstâncias que levaram a garota até a Itália. Ir. Glória foi atrás da família na periferia carioca, mas encontrou um muro de “omertà”, um silêncio conivente:
É diante dessa realidade que a oração se torna um fator fundamental:
"Eu vou agora lembrar da minha fundadora, a Santa Francisca Xavier Cabrini dizia que a oração tem um poder de chegar aonde a gente não pode. Eu acredito muito nesta frase, acredito que a oração faz aquilo que não podemos fazer. Têm situações que são tão misteriosas, tão profundas, que você não chega no âmago da coisa, mas Deus pode. Deus pode chegar por Ele mesmo através de outras pessoas que Ele manda e fazer aquilo que a gente não pode. Então este Dia de oração que o Papa convocou para mim, para nós como Rede, é um dia super importante, porque a Rede faz o trabalho que é possível aos seres humanos, mas Deus agindo nessa Rede, agindo em outras pessoas, pode fazer muito mais."
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