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“Christus Vivit”: jovens são o “agora de Deus”

Na sua Exortação Apostólica pós-sinodal “Cristo Vive” o Papa Francisco no capítulo III reflete sobre o ambiente juvenil atual pedindo aos jovens para colaborarem com a comunidade em esperança e alegria.

Rui Saraiva – Porto, Portugal

“Vós sois o agora de Deus” afirma o Santo Padre no capítulo III da Exortação, interpelando a Igreja a abandonar “esquemas rígidos” e a abrir-se “à escuta pronta e atenta dos jovens”. É este o método que o Papa propõe para criar empatia com os jovens. Um modo de relação que “permite que os jovens dêem a sua colaboração à comunidade, ajudando-a a individuar novas sensibilidades e a colocar-se perguntas inéditas”.

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Jovens dum mundo em crise

Na reunião de outubro de 2018 os Padres Sinodais assinalaram, com tristeza, que «muitos jovens vivem em contextos de guerra e padecem a violência numa variedade incontável de formas: raptos, extorsões, criminalidade organizada, tráfico de seres humanos, escravidão e exploração sexual – recorda o Papa no seu texto.

Refere ainda que “outros jovens, por causa da sua fé, têm dificuldade em encontrar um lugar nas suas sociedades e sofrem vários tipos de perseguição, que vai até à morte”. Francisco assinala ainda os jovens que são levados para o mundo do crime, da violência, da droga e do terrorismo.

“Não podemos ser uma Igreja que não chora à vista destes dramas dos seus filhos jovens” – escreve o Papa. “Não devemos jamais habituar-nos a isto, porque, quem não sabe chorar, não é mãe. Queremos chorar para que a própria sociedade seja mais mãe, a fim de que, em vez de matar, aprenda a dar à luz, de modo que seja promessa de vida” – declara o Santo Padre na sua Exortação.

Desejos, feridas e buscas

“Os jovens reconhecem que o corpo e a sexualidade são essenciais para a sua vida e para o crescimento da sua identidade” – escreve o Papa recordando que “a moral sexual é frequentemente causa de incompreensão e alheamento da Igreja”, pois é sentida como um espaço de julgamento e condenação.

O Santo Padre refere na sua Exortação os progressos da ciência e das tecnologias biomédicas, em particular, o desenvolvimento das neurociências, assinalando, contudo, que estas “levantam questões antropológicas e éticas”. “Podem levar-nos a esquecer que a vida é um dom, que somos seres criados e limitados, podendo facilmente ser instrumentalizados por quem detém o poder tecnológico” – escreve o Papa.

O ambiente digital

Francisco dedica especial atenção neste capítulo III da sua Exortação ao ambiente digital no qual vive hoje mergulhada a humanidade. Caracteriza e esclarece. Pondera e reflete: “em muitos países, a web e as redes sociais já constituem um lugar indispensável para se alcançar e envolver os jovens nas próprias iniciativas e atividades pastorais” – escreve o Papa sobre o ambiente digital não deixando de lembrar aspetos muito negativos como a dark web, o cyberbullying e a difusão de pornografia na web.

Em particular, Francisco, recorda o documento do pré-Sínodo preparado por mais de 300 jovens de todo o mundo, que indica o seguinte: “Os espaços digitais não nos deixam ver a vulnerabilidade do outro e dificultam a reflexão pessoal. Problemas como a pornografia distorcem a perceção que o jovem tem da sexualidade humana. A tecnologia usada desta maneira cria uma realidade paralela ilusória que ignora a dignidade humana. O Papa lembra no seu texto que é importante que os jovens “consigam passar do contacto virtual a uma comunicação boa e saudável”.

Os migrantes como paradigma do nosso tempo

O Santo Padre na sua Exortação volta a lembrar o problema das migrações revelando que a preocupação da Igreja volta-se para “aqueles que fogem da guerra, da violência, da perseguição política ou religiosa, dos desastres naturais”. Especial atenção do Papa para aqueles que vivem situações de “pobreza extrema”.

“Os jovens que migram experimentam a separação do seu contexto de origem e, muitas vezes, também um desenraizamento cultural e religioso” – diz o Santo Padre – “a fratura tem a ver também com as comunidades de origem, que perdem os elementos mais vigorosos e empreendedores, e as famílias, particularmente quando migra um ou ambos os progenitores, deixando os filhos no país de origem”. Para o Papa “a Igreja tem um papel importante como referência para os jovens destas famílias divididas”.

Contudo, segundo Francisco, é preciso também refletir sobre as migrações não esquecendo que são elas histórias de “encontro entre pessoas e entre culturas”. Um encontro que é uma “oportunidade de enriquecimento e desenvolvimento humano integral de todos” – afirma o Papa que lança um apelo:

“Peço especialmente aos jovens que não caiam nas redes de quem os quer contrapor a outros jovens que chegam aos seus países, fazendo-os ver como sujeitos perigosos e como se não tivessem a mesma dignidade inalienável de todo o ser humano” – declara Francisco na sua Exortação aos jovens.

Acabar com todas as formas de abuso

O Papa faz no capítulo III da sua Exortação uma referência aos abusos sexuais contra menores, não deixando de salientar a sua “monstruosidade” quando estes são feitos por pessoas “da Igreja”.

Francisco aponta, em particular, o problema do clericalismo: “O clericalismo é uma tentação permanente dos sacerdotes, que interpretam o ministério recebido mais como um poder a ser exercido do que como um serviço gratuito e generoso a oferecer; e isto leva a julgar que se pertence a um grupo que possui todas as respostas e já não precisa de escutar e aprender mais nada” – escreve o Papa.

O Santo Padre afirma ainda que o “clericalismo expõe as pessoas consagradas ao risco de perderem o respeito pelo valor sagrado e inalienável de cada pessoa e da sua liberdade”. Francisco considera que “este momento sombrio” poderá vir a ser uma “oportunidade” para uma “reforma” histórica que permita “purificação e mudança” e uma “renovada juventude” à Igreja.

Há uma via de saída

Para o Papa há uma via de saída para os jovens e para a Igreja. Não obstante o risco do mundo digital nos fechar em nós próprios, o Santo Padre lembra a capacidade criativa dos jovens.

“Não deixes que te roubem a esperança e a alegria” – escreve Francisco afirmando que “ser jovem não significa apenas procurar prazeres transitórios e sucessos superficiais. Para a juventude desempenhar a finalidade que lhe cabe no curso da vida, deve ser um tempo de doação generosa, de oferta sincera, de sacrifícios que custam, mas tornam-nos fecundos” – diz o Santo Padre na conclusão do capítulo III da sua Exortação.

Os jovens são o “agora de Deus” afirma Francisco no cap. III da sua Exortação Apostólica “Cristo Vive”, pedindo que a Igreja se abra à escuta dos jovens criando com eles relação e permitindo, assim, que os jovens deem a sua colaboração à comunidade”.

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11 abril 2019, 09:28