Encontro do Papa com os jesuítas na Nunciatura em Bucareste Encontro do Papa com os jesuítas na Nunciatura em Bucareste 

Civiltà Cattolica traz recente encontro do Papa com jesuítas na Romênia

Não à tentação da indiferença! Foi o que disse o Papa aos jesuítas romenos durante sua recente Viagem Apostólica ao país. Francisco afirmou que é na oração e em meio ao povo de Deus que se encontram as consolações. E diante das críticas, recomendou mansidão e paciência. O encontro com os religiosos na Romênia está na edição de 13 de junho da "Civiltà Cattolica."

Adriana Masotti - Cidade do Vaticano

O Papa Francisco não gosta de monólogos. O que lhe agrada é entrar em contato com as pessoas, por meio de uma troca de perguntas e respostas. Ele demonstrou isso também em seu recente encontro com os jesuítas que trabalham na Romênia, durante sua Viagem Apostólica ao país, de 31 de maio a 2 de junho. Para eles, conseguiu encontrar tempo na agenda para uma conversa, em um ambiente descontraído e familiar, no final do primeiro dia. Foi às 8 da noite, após seu retorno à Nunciatura em Bucareste.

Foram 22 os jesuítas que participaram do encontro, entre os quais o padre Gianfranco Matarazzo, provincial da Província Euro mediterrânica da Companhia, o assistente do Prepósito Geral para a Europa meridional, padre Joaquín Barrero, o delegado para a Romênia, padre Michael Bugeja, e o superior, padre Henryk Urban.

"Façam perguntas ... Bola no centro!", deu o sinal Francisco. Aquele momento de diálogo e comunhão foi relatado na revista dos jesuítas pelo padre Antonio Spadaro.

Diante das críticas e tensões, é preciso mansidão e paciência

 

A primeira pergunta diz respeito aos próprios jesuítas, apreciados por muitos, mas às vezes também criticados. Como se comportar nos momentos difíceis? "É preciso paciência", responde o Papa, é preciso encarar “os acontecimentos e as circunstâncias da vida" com suas tensões. Existem tempos "em que não se pode ir muito em frente, e então é preciso ter paciência e doçura". E cita São Pedro Fabro, "o homem do diálogo, da escuta, da proximidade", dizendo que, em tempos de críticas, é preciso fazer como ele. E depois acrescenta: "É preciso estar antes de tudo próximos ao Senhor com a oração", e próximos "ao povo de Deus na vida cotidiana", para curar as feridas. "A Igreja está tão ferida" - continua ele - há tensões também dentro dela e então é preciso mansidão! "Este não é o momento de convencer, de fazer discussões" – pondera - e não devemos "responder aos ataques".

Em seguida, indica o exemplo do padre Lorenzo Ricci, Prepósito Geral da Companhia em 1758, que em suas cartas explica o que os jesuítas devem fazer no momento da tribulação: imitar Jesus, que diante das acusações, "permaneceu em silêncio”. E conclui: "Quando está ocorrendo uma perseguição, se continua a viver o testemunho e a proximidade amorosa na oração, na caridade e na bondade. Abraça-se a Cruz ".

Quais as consolações que acompanham o Papa?

 

A segunda pergunta é do provincial, que pede ao Papa para falar sobre as consolações que o acompanham. Uma pergunta que agrada a Francisco: "Quais são as verdadeiras consolações? Aquelas nas quais o passo do Senhor se faz presente -  responde. Onde encontro as verdadeiras consolações? Na oração, o Senhor se faz ouvir. E depois as encontro com o povo de Deus”. Em particular com os doentes e idosos e com os jovens "que são inquietos e estão à procura de testemunhos verdadeiros".

E fala do 'sensus fidei' que o povo de Deus possui. "Mas vocês têm que ouvir as coisas que as pessoas me dizem quando as encontro nas audiências!" E fala de um diálogo com uma idosa de 87 anos, a quem pediu no final: “Senhora, reze por mim!”. “Todos os dias”, respondeu ela. E o Papa, para brincar, insiste: "Mas diga-me a verdade: a senhora reza por mim ou contra mim?" E a pronta resposta da mulher: “Eu rezo pelo senhor! Mas outros dentro da Igreja rezam contra o senhor!”  “A verdadeira resistência - observa Francisco - não está no povo de Deus".

E depois outra história, para dizer que as pessoas aceitam sim a teologia, mas querem a concretude dos gestos, como poderia ser uma bênção pessoal. "No povo de Deus nós encontramos a concretude da vida, das verdadeiras questões reais, do apostolado, das coisas que devemos fazer".

A questão da nulidade matrimonial

 

A questão seguinte aborda a questão da nulidade matrimonial e de como lidar com processos que parecem nunca chegar ao fim. Os tribunais diocesanos, costuma-se dizer, não funcionam. Francisco sublinha a seriedade do problema e observa como as causas da nulidade podem ser diferentes, ou como o que faz um casamento, quem sabe válido, fracassar, pode ser a imaturidade psicológica, ou ainda que seja preferível para os filhos a separação entre os cônjuges.

"O perigo em que sempre corremos o risco de cair, é a casuística" afirma, sublinhando que o grande passo em frente do recente Sínodo sobre a família foi justamente o de ir além da casuística. "O Sínodo - explica - fez um caminho na moral matrimonial, passando da casuística da Escolástica decadente para a verdadeira moral de São Tomás". Precisamente quando se falou "de integração dos divorciados, abrindo  eventualmente à possibilidade dos sacramentos" - continua o Papa – seguiu-se "a moral mais clássica de São Tomás, aquela mais ortodoxa, não segundo a casuística decadente do “se pode ou não se pode". Mas, diz ainda, os tribunais diocesanos servem, são muito poucos e os processos devem ser breves.

O futuro da Igreja Greco-católica na Romênia

 

A quarta pergunta diz respeito à Igreja Greco-católica, que desempenhou um papel importante na Romênia, um papel que hoje, no entanto, parece ter se esgotado. E recorda-se que logo mais o Papa Francisco beatificaria sete bispos mártires daquela Igreja.

Francisco repete com São João Paulo II, que a Igreja respira com dois pulmões e que "o pulmão oriental pode ser ortodoxo ou católico". E continua: "há toda uma cultura e uma vida pastoral que deve ser custodiada e preservada. Mas o uniatismo hoje não é mais o caminho. Antes ainda, eu diria que hoje não é lícito. Hoje, no entanto – afirma – deve-se respeitar a situação e ajudar os bispos greco-católicos a trabalhar com os fiéis”.

A indiferença é uma forma de paganismo

 

Outra pergunta: um pároco jesuíta em uma cidade do norte do país confessa: "O que mais me magoa é a indiferença". Para Francisco, a indiferença é "uma das grandes tentações de hoje (...) é a forma mais moderna de paganismo". Porque na indiferença "tudo está centrado no eu". E descreve uma foto tirada pelo "L'Osservatore Romano", intitulada justamente "Indiferença", em que coloca lado a lado uma senhora bem vestida e uma mulher no chão, pedindo esmola. Mas a senhora elegante não a vê, "olha para outro lado". E diz que esta foto sugeriu a ele a chamada "calma linear”. E diz que, segundo Santo Inácio, se na alma "não há nem consolações nem desolações, isso não é bom". Se nada se move, deve-se olhar o que acontece", porque vivemos essa indiferença interior ou porque nessa situação existe indiferença. "Como eu posso ajudar a movimentar as águas?" Fico preocupado, diz o Papa, "onde tudo é uma calma linear, onde não se reage à história, quando não se ri e não se chora". Uma comunidade assim - conclui - "não tem horizontes".

Jesuítas, como a Igreja, têm muitos matizes

 

Outro jesuíta pede conselhos a Francisco sobre como administrar as diferenças entre os próprios jesuítas, que aparecem em tantos matizes. O Papa responde que a diversidade é uma graça, porque quer dizer "que a Companhia não anula as personalidades". Como administrar isso? Por meio do diálogo comunitário e do debate fraterno. Mas também faz um apelo: "Quando é resultado de tomadas de posições ideológicas fechadas, a diversidade não serve" e deve ser combatida.

A última palavra é de encorajamento: “As dificuldades nunca devem bloquear. É preciso sempre seguir em frente. A paz então, a encontraremos mais além ... ".

 

 

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15 junho 2019, 08:55