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Concílio Ecumênico Vaticano II: Uma Igreja em saída e que opta pelos mais pobres

Após uma longa e árdua preparação, tivemos no ano de 1962 a abertura deste evento que se estendeu até 1965 e contou com a participação de bispos do mundo inteiro e de diferentes observadores.

Fábio Pereira Feitosa

O ano era 1958 e o mundo assistia atônito à escolha do Cardeal Ângelo José Roncalli para a Cátedra de São Pedro, tal perplexidade se devia aos 77 anos do então Patriarca de Veneza, agora Papa João XXIII. Em virtude de sua idade (tida por muitos como avançada para assumir tal cargo) O recém-nomeado Bispo de Roma, acabou sendo taxado por diferentes setores como um “Papa de transição”, porém ninguém imaginava quais seriam os efeitos suscitados pelo Espírito Santo por meio de sua escolha.

Como mencionado anteriormente, João XXIII foi visto por muitos como um “Papa de Transição” e como tal não teria tempo para ser inserido no rol dos grandes Pontífices. Todavia, todos aqueles que compartilhavam deste pensamento e até quem não, foram surpreendidos quando em 25 de janeiro de 1959, ele anunciou na Basílica de São Paulo o desejo de realizar um Concílio Ecumênico, o Vaticano II, sendo ele convocado pela Bula Papal Humanae Salutis em 1961.

Ao analisarmos o que foi o Concílio Ecumênico Vaticano II, podemos com toda certeza afirmar que uma de suas principais características foi o diálogo, sendo ela presente inclusive nos 3 anos de sua preparação, haja vista as cartas enviadas aos Bispos do mundo inteiro, afim de ouvi-los.

Após uma longa e árdua preparação, tivemos no ano de 1962 a abertura deste evento que se estendeu até 1965 e contou com a participação de bispos do mundo inteiro e de diferentes observadores. Concluído o Concílio tivemos a aprovação de 16 documentos, divididos entre 4 Constituições, 9 Decretos e 3 Declarações. O conjunto destes documentos tem por finalidade a busca concreta de um novo dinamismo na vida da Igreja, sendo este suscitado pelo Espírito Santo, cuja ação é dinâmica e criativa ao infinito. Assim, o Vaticano II foi e ainda continua sendo para a Igreja um novo Pentecoste que a encheu de força e dinamicidade.

O Vaticano II além de ser um importante concílio pastoral, que modificou a história da Igreja, é também uma poderosa fonte de espiritualidade para os tempos atuais. A espiritualidade conciliar ao contrário de tantas outras, não se encontra desvinculada da realidade e nem oferece experiências místicas vazias. A Espiritualidade Conciliar a qual somos convidados a abraçar, tem por inspiração o Mistério da Encarnação, pelo qual o Verbo se fez carne, habitou entre os homens em uma realidade concreta e hoje se faz presente em nós por meio dos sacramentos da Igreja, que é o seu corpo místico.

A opção preferencial pelos pobres

A opção preferencial pelos pobres, tão falada, recomendada e vivida pelo Papa Francisco não é uma novidade na história da Igreja. Tal opção também não se constitui em uma criação que pode ser remetida à Doutrina Social da Igreja, sistematizada a partir de Leão XIII com a publicação da Encíclica Rerum Novarum. Esta opção também não é um fruto nascente das diretrizes conciliares, ela tem como origem o próprio Jesus Cristo: “que por causa de vós se fez pobre, embora fosse rico, para vos enriquecer com a sua pobreza (2Cor,8-9)”. A Doutrina Social da Igreja e as Diretrizes Conciliares trazem, aprofundam e aplicam os ensinamentos e a opção de Jesus para os tempos atuais, mas sem perder a essência de sua mensagem.

Ao falarmos em opção preferencial pelos pobres é importante termos em mente que esta é antes de tudo teológica, mas deve produzir efeitos práticos na vida Igreja e em diferentes campos da vida do ser humano, tal com as propiciadas pelo Vaticano II, que para efetivar tal opção valorizou o diálogo inter-religioso e ecumênico, modificou a liturgia pra torna-la mais acessível ao povo, enfatizou a corresponsabilidade entre a hierarquia da Igreja e os leigos, criou o conceito de “Povo de Deus” e proclamou a necessidade de mudanças nas estruturas de um sistema gerador de injustiças sociais.

As novas concepções da Igreja, apregoadas a partir do Vaticano II, foram sentidas de modo particular pela Igreja Latino-americana, que por meio de vários de seus membros buscaram desenvolver formas para a aplicação concreta do espírito conciliar na luta pelos Direitos Humanos, na inclusão social de grupos marginalizados e na luta por Justiça Social e Paz.

Diante dos novos desafios trazidos pela chamada pós-modernidade, associada ao processo de globalização é preciso seguir a trilha daqueles que deram a sua vida pelos mais pobres, estudando, aprofundando e pondo em prática o exemplo de Jesus Cristo e as diretrizes conciliares, sem medo, pois: “O sangue dos mártires é semente da Igreja” (Tertuliano).

* Fábio Pereira Feitosa é historiador e especialista em Educação. Atualmente desenvolve pesquisas sobre História da Igreja, dando ênfase aos temas: Doutrina Social e Vida Religiosa Consagrada.

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04 julho 2019, 13:41