Maria: um coração tão grande que toda a criação pode entrar nele
Padre Arnaldo Rodrigues - Cidade do Vaticano
Hoje a Igreja celebra a Assunção de Nossa Senhora. No Brasil esta festa é transferida para o domingo seguinte. Na Itália a festa de hoje é comemorada com o tradicional “ferragosto”.
"Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial". Foram com estas palavras que o Papa Pio XII, no dia 1 de novembro de 1950 festa de todos os santos, declarou o Dogma da Assunção de Maria.
A dormitio Virginis e a Assunção, no Oriente e no Ocidente, estão entre as mais antigas festas marianas. A Igreja Ortodoxa e a Igreja Apostólica Arménia celebram a festa da Dormição de Maria no dia 15 de Agosto.
A Virgem Imaculada, que, preservada imune de qualquer culpa original, no final da sua vida, foi assunta, isto é, acolhida, para a glória celeste em corpo e alma e exaltada pelo Senhor como rainha do universo, para que estivesse mais plenamente em conformidade com o seu Filho, Senhor dominante e vencedor do pecado e da morte. (Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, 59).
A Virgem Assunta, diz o Missal Romano, é primícias da Igreja celeste e um sinal de consolação e esperança segura para a Igreja peregrina. Isto porque a Assunção de Maria é uma antecipação da ressurreição da carne, que para todos os outros homens só acontecerá no fim dos tempos, com o Juízo Final. Esta solenidade é considerada a festa principal da Virgem Maria.
Teologia
Para nós cristãos, existe o significado teológico para esta grande festa. O Doutor da Igreja, São João Damasceno (676-749), assim escrevera:
“Convinha que aquela que guardara ilesa a virgindade no parto, conservasse seu corpo, mesmo depois da morte, imune de toda corrupção. Convinha que aquela que trouxera no seio o Criador como criancinha fosse morar nos tabernáculos divinos. Convinha que a esposa, desposada pelo Pai, habitasse na câmara nupcial dos céus. Convinha que, tendo demorado o olhar em seu Filho na cruz e recebido no peito a espada da dor, ausente no parto, o contemplasse assentado junto do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse tudo o que pertence ao Filho e fosse venerada por toda criatura como mãe e serva de Deus”.
A Mãe de Deus que foi preservada da corrupção do pecado original, foi preservada também da corrupção do seu corpo imaculado. É a nossa esperança
Por que a Assunção de Maria é importante em nossa vida?
O Papa emérito, Bento XVI, em uma homilia em Castelgandolfo no ano de 2012, nos mostra a importância deste grande acontecimento para a história da salvação. De modo especial, nos explica como se dá a relação de Deus com o homem e a sua proximidade para conosco. E nessa dinâmica, Maria tem um papel muito importante.
“Na Assunção vemos que em Deus existe espaço para o homem, o próprio Deus é a casa de muitos aposentos da qual Jesus fala (cf. Jo 14, 2); Deus é a casa do homem, em Deus há espaço de Deus. Quanto a Maria, unindo-se, unida a Deus, não se afasta de nós, não vai a uma galáxia desconhecida, mas quem procura Deus aproxima-se, porque Deus está próximo de todos nós; e Maria, unida a Deus, participa da presença de Deus, encontra-se extremamente próxima de nós, de cada um de nós. Maria tem um coração tão grande que toda a criação pode entrar nele. Maria está próxima, pode ouvir, pode ajudar, encontra-se próxima de todos nós. Em Deus há espaço para o homem e Deus está próximo; quanto a Maria, unida a Deus, está extremamente próxima, tem um coração tão grande quanto o coração de Deus. (…) Mas existe também outro aspecto: em Deus não existe espaço unicamente para o homem; no homem há espaço para Deus. Também isto vemos em Maria, a Arca Santa que traz em si a presença de Deus. Em nós há espaço para Deus, e esta presença de Deus em nós, tão importante para iluminar o mundo na sua tristeza, nos seus problemas, esta presença realiza-se na fé: na fé abrimos as portas do nosso ser, de tal forma que Deus entre em nós, a fim de que Deus possa ser a força que dá vida e caminho ao nosso ser. Em nós existe espaço, abramo-nos como Maria se abriu, dizendo: «Que se cumpra em mim a tua vontade, eu sou a serva do Senhor». Abrindo-nos a Deus, nada perdemos. Pelo contrário: a nossa vida torna-se rica e grande.”
O “Ferragosto”
Na Itália, no dia 15 de agosto, se celebra também o famoso ferragosto. O termo "Ferragosto" deriva da frase latina feriae Augusti (descanso de Augusto) que indica uma festa instituída pelo Imperador Augusto em 18 a.C. que foi adicionada às festividades existentes e muito antigas que caíram no mesmo mês, como a Vinalia rustica ou as Consualia, para celebrar as colheitas e o fim dos principais trabalhos agrícolas.
O antigo Ferragosto, tinha a intenção de conectar os principais feriados agostinianos para proporcionar um período adequado de descanso, também chamado de Augustali, necessário após os grandes esforços prodigalizados durante as semanas anteriores.
Para esta grande festa da Assunção, seja na celebração no domingo no Brasil ou hoje na Itália e em outras partes do mundo, abramo-nos a Deus como Maria, deixando-se preencher da presença do Espírito Santo e dizendo como ela: “Que se cumpra em mim a tua vontade, eu sou a serva do Senhor”. Enchendo assim o coração e a vida de alegria e esperança.
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