Laudato sí: encíclica social
Rui Saraiva – Porto
A quase um mês do Sínodo dos Bispos sobre o tema “Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, recordamos aqui as palavras que o Papa Francisco proferiu a autarcas vindos de todo o mundo ao Vaticano.
Foi no dia 21 de julho de 2015 que o Papa Francisco visitou os autarcas reunidos na Sala Nova do Sínodo no Vaticano num encontro promovido pelas Academias Pontifícias da Ciência e das Ciências Sociais sobre as “mudanças climáticas e as novas formas de escravidão”. Um encontro que juntou mais de 70 autarcas vindos de todo o mundo, de Nova Iorque a Paris, de S. Paulo a Buenos Aires.
Das periferias para o centro
No seu discurso o Papa sublinhou a importância do trabalho dos autarcas pois conhecem o governo local e as periferias. O Santo Padre referiu-se, na ocasião, ao fenómeno do crescimento desmesurado das cidades baseado em fenómenos migratórios que comportam consequências negativas de exclusão.
Segundo Francisco, estes fatores, juntamente com a idolatria da tecnocracia, têm levado à falta de trabalho, ao desemprego e a problemas como o trabalho sem contrato e as novas formas de escravidão.
No seu discurso, o Santo Padre, pediu o contributo dos autarcas, para que o verdadeiro trabalho de difusão de uma consciência ecológica venha da periferia para o centro das decisões. Senão não terá efeito – afirmou o Papa.
Ecologia humana e atitude social
Francisco relembrou a sua Encíclica “Laudato Sí, sobre o cuidado da casa comum” e salientou, na altura, que aquilo que se pede no cuidado com o ambiente é muito mais do que uma simples atitude verde, mas sim uma atitude de ecologia humana. Afirmou na ocasião que a “Laudato Sí é uma encíclica social.
Recordemos as palavras do Papa Francisco em julho de 2015 no registo da reportagem da Rádio Vaticano.
“Essa atitude de cuidar do ambiente, não é uma atitude verde é muito mais; cuidar do ambiente significa uma atitude de ecologia humana, a ecologia é total, é humana. E isso é o que eu quis desenvolver na Encíclica ‘Laudato Si’” – disse o Papa.
Neste sentido, o Papa Francisco reforçou a ideia de que a ‘Laudato Sí’ não é uma encíclica verde mas uma encíclica social:
“Não é uma encíclica verde é uma encíclica social, porque da vida social dos homens não podemos separar o cuidado com o ambiente, que é uma atitude social.”
Aos mais de 70 autarcas o Santo Padre falou no fenómeno do crescimento desmesurado das cidades, baseado em fenómenos migratórios que comportam consequências negativas de exclusão que levam à falta de trabalho, ao desemprego e a novas formas de escravidão.
O Papa Francisco considera que a defesa do ambiente deve estar interligada com a sensibilização para as novas formas de escravidão e declarou mesmo que as Nações Unidas têm que se interessar pelo “fenómeno do tráfico de pessoas provocado pelo fenómeno ambiental”:
“E as Nações Unidas têm que se interessar muito fortemente por este “fenómeno do tráfico de pessoas provocado pelo fenómeno ambiental”.
Ecologia integral, para um novo estilo de vida
A Encíclica “Laudato Sí, sobre o cuidado da casa comum” do Papa Francisco é um texto com seis capítulos que desenvolve um conceito de ecologia integral.
A busca de outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a grave responsabilidade da política, a cultura do descarte e a proposta de um novo estilo de vida são os principais eixos desta Encíclica que se inspira na sensibilidade ecológica de Francisco de Assis.
A Encíclica “Laudato Sí” apresenta-se, assim, como um apelo para a mudança de atitudes de todos os seres humanos com um sentido ambiental, social e global. A este propósito recordamos aqui a reflexão do vaticanista português Octávio Carmo em declarações à Agência Ecclesia aquando da publicação do texto papal no ano 2015.
Octávio Carmo aprofundou o seu comentário falando do louvor da Criação que o Santo Padre propõe na esteira de S. Francisco de Assis.
Segundo Octávio Carmo a ‘Laudato Sí’ é um documento que condensa todo um percurso do ensinamento católico sobre o ambiente e será uma Encíclica da qual falaremos durante muitos anos.
Nesta entrevista à Agência Ecclesia o vaticanista Octávio Carmo refere que na Encíclia “Laudato Sí” a vida humana está em primeiro lugar.
Uma significativa consequência da Encíclica do Papa Francisco “Laudato Sí, sobre o cuidado da casa comum” é o Sínodo dos bispos dedicado à região pan-amazónica e que decorrerá no Vaticano de 6 a 27 de outubro próximo.
Recordemos que em recente entrevista ao jornal italiano La Stampa, o Papa referiu ser este um “sínodo urgente” e afirmou que este Sínodo é um autêntico “filho da Laudato Sí”.
Laudetur Iesus Christus
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