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A Igreja Católica em Moçambique

A história da evangelização de Moçambique está intimamente ligada à colonização portuguesa.

Cidade do Vaticano

O Papa Francisco chega a Moçambique nesta quarta-feira. O país da África meridional, tem sua costa banhada pelo Oceano Índico. Ao norte, faz fronteira com a Tanzânia, a noroeste com o Malauí e o Zâmbia, a sudeste com a África do sul e Swaziland e a oeste com o Zimbábue.

A capital Maputo tem 1.101.771 habitantes. A população do país é de 27.129.000 habitantes, com uma densidade populacional de 34 hab/km². As línguas oficiais são o português e o bantu.

Os principais grupos étnicos que compõe a população são africanos (98%), brancos africanos, mestiços e asiáticos. Quanto à religião, 50% dos habitantes seguem cultos tradicionais, 28% se declaram católicos e 20% muçulmanos.

Dados sobre a Igreja Católica no país

 

Os 7.621.000 católicos estão distribuídos em 12 Circunscrições Eclesiásticas, 343 paróquias, 1.335 centros pastorais.

Moçambique tem 23 bispos (situação em 31 de julho de 2019), 297 sacerdotes diocesanos, 362 sacerdotes religiosos, 2 diáconos permanentes, 1.207 religiosas professas. Há no país 17 membros de Institutos Seculares, 97 missionários leigos e 56.871 catequistas.

No âmbito das vocações sacerdotais, há 587 seminaristas menores e 599 seminaristas maiores.

A Igreja Católica tem 172 maternais e escolas primárias em Moçambique, atendendo 50.022 alunos; 64 escolas médias e secundárias, com 57.086 alunos e 14 superiores e universidades, que recebem 19.024 estudantes.

Ademais, a Igreja é proprietária ou administra 24 hospitais, 21 ambulatórios, 7 leprosários, 9 casas para idosos e pessoas com invalidez, 74 orfanatrófios e jardins de infância, 2 consultórios familiares, 2 centros especiais de educação e reeducação, além de 37 outros locais de assistência e promoção humana.

Cronologia esquemática da presença da Igreja em Moçambique

 

A história da evangelização de Moçambique está intimamente ligada à história da colonização portuguesa e pode ser dividida em seis períodos.

1498-1560 - Nesta primeira fase, a evangelização é caracterizada por iniciativas esporádicas ligadas à presença dos portugueses: há conversões, mas trata-se de um fenômeno muito reduzido.

1560-1783 – Verifica-se uma chegada massiva de missionários: jesuítas (1560), dominicanos (1563), Irmãos de São João de Deus (1681), agostinianos, franciscanos e capuchinhos de Goa (1760). Nesta fase, o território correspondente ao atual Moçambique ainda depende da Diocese de Goa, na Índia.

1783-1940 – A obra de evangelização da Igreja Moçambicana gradualmente deixa de ser dependente de Goa. Há uma chegada consistente de religiosas e religiosos: Irmãs de São José de Cluny, salesianos, franciscanos e verbitas. A evangelização, por outro lado, sofre inúmeras interrupções, devido a dificuldades de vários tipos e às perseguições. A retomada tem início em 1920, quando numerosas Congregações religiosas retornam a Moçambique e é sancionada uma Concordata entre a Santa Sé e Portugal (1940), que inclui um "Acordo Missionário".

1940 e 1975 - Com o "Acordo Missionário" entre o Governo português e a Santa Sé, é criada a hierarquia eclesiástica em Moçambique: é ereta uma arquidiocese e duas dioceses. A evangelização torna-se mais sistemática e rápida. São criadas missões e escolas, centros de saúde e laboratórios. Também o número de dioceses cresce ao longo dos anos: às vésperas da independência, existem 9.

A história da evangelização durante a era colonial, no entanto, não deixa de ter seu lado obscuro, a começar pelo racismo generalizado na hierarquia católica, composta até a independência, exclusivamente por bispos portugueses (os dois primeiros bispos nativos foram ordenados somente em 9 de março de 1975).

1975-1992 - Com a independência, tem início a quinta fase da história da Igreja Católica no país, marcado pela subida ao poder do partido marxista-leninista da Frelimo e pelo conflito entre este último e a guerrilha da Renamo, que durou quase 16 anos.

É um momento difícil para a Igreja, que entrou na mira do novo governo pela sua colaboração passada com o regime colonial. Muitos missionários foram obrigados a deixar o país; escolas e estruturas católicas são nacionalizadas; os religiosos que concordam em continuar a ensinar, tornam-se funcionários do Estado; a liberdade religiosa passa a ser muito limitada e os bispos não poupam críticas ao regime. Muitas missões fecham devido à guerra civil. A situação melhora no final dos anos 80, quando a Igreja é chamada para mediar o processo de paz entre a Frelimo e a Renamo, que preparará o terreno para as primeiras eleições livres de 1994.

Nesse período são realizadas as duas Assembleias Pastorais Nacionais, de Beira (1977) e de Matola (1991), nas quais, entre outras coisas, é tomada uma importante decisão para promover a criação das Pequenas Comunidades cristãs, para compensar a escassez de padres depois do repatriamento de missionários. Em setembro de 1988, São João Paulo II visitou o país, no âmbito da 39ª Viagem Apostólica de seu Pontificado.

1992-2015 - A nova Constituição de 1990 - que reconhece a liberdade de religião e o direito à propriedade por parte das Confissões religiosas, o que possibilita a realização de seu trabalho - e o fim de guerra civil em 1992, marcam também o renascimento da Igreja que pode reativar suas próprias missões e dedicar-se livremente a consolidar a sua presença em todo o país a serviço do Evangelho, à luz das indicações dos dois Sínodos para a África, contribuindo na linha de frente para a reconstrução do tecido social destruído da guerra.

A Igreja em Moçambique hoje

 

A Igreja em Moçambique é hoje uma presença consolidada e reconhecida pelas instituições e pelas leis do país, o que garante a liberdade de fé e proíbe a discriminação por motivos religiosos. O único limite definido pela lei é a obrigatoriedade para as organizações religiosas de se registrarem no Ministério da Justiça, incluindo as eclesiásticas, as que realizam atividades sociais ou de desenvolvimento. Além disso, embora as organizações religiosas estejam autorizadas a possuir ou administrar escolas, a educação religiosa nas escolas estatais ainda é proibida.

- Principal Igreja cristã em Moçambique

Com mais de 6 milhões de batizados, a Igreja Católica a principal denominação cristã do país (53%), onde verifica-se o crescimento de seitas pentecostais, incluindo a Igreja universal do Reino de Deus.

Sobretudo nas áreas rurais, uma parte significativa da população continua a seguir cultos africanos tradicionais. Quase um quinto dos moçambicanos professa a fé islâmica. Quanto aos muçulmanos, concentrados na parte norte e costeira do país (enquanto os cristãos são mais numerosos no sul e nas cidades), eles são em sua maioria moderados. No entanto, a propagação do Islã radical, importado por pregadores que estudam no exterior, sugere que a intolerância religiosa pode se tornar um problema crescente em Moçambique, assim como em muitos outros países africanos.

- A colaboração entre Estado e Igreja

Na última década, foram fortalecidas as novas relações de colaboração entre o Estado e a Igreja Católica. Em 2007, o Governo decidiu restituir às comunidades religiosas alguns locais de culto expropriados pelo governo marxista em 1977.  Cerca de 60% das propriedades já foram devolvidas à Igreja Católica, mas ainda estão em andamento negociações em relação às 40% restantes.

As relações se consolidaram em 2011 com a assinatura, em 9 de fevereiro, do primeiro acordo bilateral entre a República de Moçambique e da Santa Sé, que regulamenta o status jurídico e fiscal da Igreja Católica e estabelece o reconhecimento de diplomas universitários católicos e do casamento religioso.

Uma ulterior confirmação dessas boas relações foi a vinda ao Vaticano do primeiro-ministro Alberto Clementino Vaquina, em 11 de abril de 2013. Durante a audiência com o Papa Francisco, falou-se em particular sobre a "positiva contribuição da Igreja Católica para a paz e para o desenvolvimento do país, especialmente por meio de ações educacionais, de caridade e assistenciais”.

 Um trabalho precioso em um país que, apesar de suas grandes riquezas e o crescimento econômico iniciado após o fim da guerra, continua a figurar entre os últimos na classificações no Índice de Desenvolvimento Humano.

- Os desafios apresentados à Igreja pelos males endêmicos do país e pela modernidade

Pobreza e desigualdades sociais, corrupção generalizada, violência, criminalidade, tráfico de drogas, exploração laboral, tráfico de seres humanos, pressões separatistas: são numerosos os males que continuam a afligir a sociedade moçambicana, atingida em 2019 por dois ciclones devastadores – o Idai, em 13 de março, e o Kenneth 25 de abril. Todos estes problemas que estão no centro das preocupações do Igreja local, ciente de que eles não somente são um obstáculo ao desenvolvimento e, portanto, uma ameaça à paz social, mas também ao seu trabalho evangelizador.

A minar este trabalho, também os desafios da modernidade: indiferença religiosa e materialismo desenfreado que contagiam principalmente as novas gerações. O número de batizados em Moçambique não corresponde de fato ao de católicos praticantes: não poucos jovens, após a Confirmação, se afastam dos Sacramentos e da vida dos paróquia, ainda que um dado positivo seja a presença de movimentos de leigos. Entre estes, a Comunidade de Santo Egídio, artífice da paz no país, mas também movimentos juvenis locais, como os chamados "Iniciados", comprometidos em iniciativas originais de inculturação do Evangelho na herança africana. Numerosas também são as associações devocionais de mulheres.

Prioridades dos bispos

Dentro desta realidade, a atenção pastoral dos bispos moçambicanos está hoje focada na valorização dos movimentos eclesiais, na inculturação da fé e na formação dos fiéis, em particular através da catequese dos jovens e promoção do papel educativo da família. Não menos importante é a qualidade da formação do clero e das pessoas consagradas e a promoção das vocações, sobretudo as sacerdotais, ainda insuficientes.

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04 setembro 2019, 07:42