Christus vivit, os rebeldes do “provisório”
Christus vivit
(parágrafos 259-267)
O amor e a família
259. Os jovens sentem fortemente a chamada ao amor e sonham encontrar a pessoa certa com quem formar uma família e construir uma vida juntos. Sem dúvida, é uma vocação que o próprio Deus propõe através dos sentimentos, anseios, sonhos. Debrucei-me largamente sobre este tema na Exortação Apostólica Amoris laetitia, convidando todos os jovens a lerem especialmente os capítulos IV e V.
260. Apraz-me pensar que «dois cristãos que casam reconheceram na sua história de amor a chamada do Senhor, a vocação a formar de duas pessoas, varão e mulher, uma só carne, uma só vida. E o sacramento do Matrimónio corrobora este amor com a graça de Deus, arraigando-o no próprio Deus. Com este dom, com a certeza desta vocação, é possível começar com segurança, sem medo de nada, para juntos enfrentar tudo!»[142]
261. Neste contexto, lembro que Deus nos criou sexuados. Ele próprio «criou a sexualidade, que é um presente maravilhoso para as suas criaturas».[143]Dentro da vocação para o matrimónio, devemos reconhecer, agradecidos, que «a sexualidade, o sexo são um dom de Deus. Sem tabus. São um dom de Deus, um dom que o Senhor nos dá. E fá-lo com dois propósitos: amar-se e gerar vida. É uma paixão, é o amor apaixonado. O verdadeiro amor é apaixonado. O amor entre um homem e uma mulher, quando é apaixonado, leva-te a dar a vida para sempre. Sempre. E a dá-la com corpo e alma».[144]
262. O Sínodo salientou que «a família continua a ser o principal ponto de referência para os jovens. Os filhos apreciam o amor e os cuidados recebidos dos pais, têm a peito os laços familiares e esperam conseguir, por sua vez, formar uma família. Sem dúvida, o aumento de separações, divórcios, segundas uniões e famílias monoparentais pode causar grandes sofrimentos e crises de identidade nos jovens. Por vezes, têm de assumir responsabilidades desproporcionadas para a sua idade, forçando-os a tornar-se adultos antes do tempo. Muitas vezes, os avós prestam uma contribuição decisiva no afeto e na educação religiosa: com a sua sabedoria, são um elo decisivo na relação entre gerações».[145]
263. Estas dificuldades, encontradas na família de origem, levam certamente muitos jovens a interrogar-se se vale a pena formar uma nova família, ser fiéis, ser generosos. Quero dizer-vos que sim, que vale a pena apostar na família e que nela encontrareis os melhores estímulos para amadurecer e as mais belas alegrias para partilhar. Não deixeis que vos roubem a possibilidade de amar a sério. Não permitais que vos enganem quantos vos propõem uma vida desenfreada e individualista que acaba por levar ao isolamento e à pior solidão.
264. Reina hoje a cultura do provisório, que é uma ilusão. Julgar que nada pode ser definitivo é um engano e uma mentira. Muitas vezes ouvis dizer que «hoje o casamento está “fora de moda” (…). Na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é “curtir” o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas (…). Em vez disso, peço-vos para serdes revolucionários, peço-vos para irdes contracorrente; sim, nisto, peço que vos rebeleis: que vos rebeleis contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vós não sois capazes de assumir responsabilidades, crê que vós não sois capazes de amar de verdade».[146]Ao contrário, eu tenho confiança em vós e, por isso, vos encorajo a optar pelo matrimónio.
265. É necessário preparar-se para o matrimónio; isto requer educar-se a si mesmo, desenvolver as melhores virtudes, sobretudo o amor, a paciência, a capacidade de diálogo e de serviço. Implica também educar a própria sexualidade, para que seja sempre menos um instrumento para usar os outros, e cada vez mais uma capacidade de se doar plenamente a uma pessoa, de maneira exclusiva e generosa.
266. Ensinam os bispos da Colômbia que «Cristo sabe que os esposos não são perfeitos e que precisam de superar a sua fragilidade e inconstância para que o seu amor possa crescer e durar no tempo. Por isso, concede aos esposos a sua graça que é, simultaneamente, luz e força que lhes permite realizar o seu projeto de vida conjugal de acordo com o plano de Deus».[147]
267. Àqueles que não são chamados ao matrimónio nem à vida consagrada, devemos sempre lembrar-lhes que a primeira e a mais importante vocação é a batismal. As pessoas não casadas, mesmo que não o sejam por opção, podem tornar-se de modo particular testemunhas da vocação batismal no seu caminho de crescimento pessoal.
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