Nenhuma certeza sobre destino de arcebispos sequestrados na Síria
Cidade do Vaticano
Nos últimos meses, muitas reconstruções e "declarações inquietantes" tem sido divulgadas sobre o destino dos dois arcebispos de Aleppo – o greco-ortodoxo Boulos Yazigi e o sírio-ortodoxo Mar Gregorios Yohanna Ibrahim - que desapareceram sem deixar vestígios em 22 de abril de 2013 na área entre Aleppo e a fronteira entre a Síria e a Turquia.
No momento, os maiores expoentes das Igrejas às quais pertencem os dois arcebispos desaparecidos, não dispõe de elementos concretos para confirmar ou desmentir essas declarações, informa um comunicado de imprensa conjunto divulgado pelo Patriarcado Greco-Ortodoxo e pelo Patriarcado Sírio-Ortodoxo na segunda-feira, 20, nas redes sociais.
Na mensagem, os dois Patriarcados afirmam terem acompanhado com atenção as declarações e reconstruções divulgadas, ao mesmo tempo que sublinham que essas intervenções e reconstruções são iniciativas espontâneas, “totalmente independentes dos esforços que fizemos na busca por nossos dois arcebispos desaparecidos”.
Os máximos expoentes dos dois Patriarcados - liderados respectivamente por Yohanna X Yazigi, patriarca greco-ortodoxo de Antioquia e Mar Ignatios Aphrem II, patriarca sírio-ortodoxo de Antioquia - confirmam a determinação compartilhada de não negligenciar esforços para esclarecer o destino dos dois bispos desaparecidos. E nesse contexto, reconhecem não ter elementos úteis para confirmar ou desmentir a validade das reconstruções e das considerações sobre o possível destino dos dois eclesiásticos, divulgados por diferentes fontes nos últimos meses.
"Enquanto expressamos nossa sincera gratidão a todos os indivíduos e realidades preocupados com o destino de nossos arcebispos, e sobretudo àqueles que realizam iniciativas para contribuir ao esclarecimento de seu calvário, pedimos a todos que rezem pelos dois arcebispos e convidamos a todos aqueles que porventura possam apoiar nossos esforços voltados a resolver este caso humanitário, para entrarem em contato com nossas Igrejas por meio dos canais oficiais criados para esse fim".
A declaração conjunta do Patriarcado de Antioquia dos sírio-ortodoxos e dos greco-ortodoxos é apresentada como um distanciamento comedido e não polêmico, também em relação à recente investigação jornalística realizada por uma equipe liderada por Mansur Salib, pesquisador sírio residente nos EUA e que teve ampla divulgação na plataforma digital medium.com, uma nova mídia social vinculada ao Twitter.
Segundo esta investigação, os dois arcebispos teriam sido martirizados em dezembro de 2016 por militantes do Nour al-Din al-Zenki, um grupo independente envolvido no conflito sírio, financiado e armado durante o conflito pela Arábia Saudita e pelos EUA. A reconstrução publicada no site medium.com, como já noticiado pela Agência Fides, traz informações já conhecidas, além de ilações apresentadas sem resultados objetivos.
Apelos do Papa Francisco
A "amada" e "martirizada" Síria está no coração do Papa Francisco, que continuamente reza pela pacificação do país e não só. Foram inúmeros os apelos ao longo destes anos, além de iniciativas pela paz. O drama vivido pelos dois arcebispos sírios também não passou desapercebido do Pontífice, que sempre expressou sua preocupação e proximidade em Audiências Gerais, Angelus, discursos, encontros com autoridades e realidades do Oriente Médio, como em:
2013
Em 23 de março de 2013, o então diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi SJ, divulgou uma nota onde afirmava que “o Papa acompanha os acontecimentos com profunda participação e intensa oração e pede pela saúde e pela libertação dos dois bispos".
Em agosto de 2013 a Santa Sé, através da Congregação para as Igrejas Orientais, havia expresso sua preocupação pelo sequestro do padre Dall’Oglio e dos dois bispos sequestrados.
2014
Na Audiência Geral de 9 de abril de 2014, ao lamentar o assassinato do sacerdote jesuíta Frans van der Lugt, na cidade de Homs, o Papa também recordou das “inúmeras pessoas sequestradas, cristãos e muçulmanos, sírios e de outros países, entre as quais há bispos e sacerdotes.”
Em 7 de novembro de 2014, durante o encontro com quarenta bispos ligados ao Movimento dos Focolares, o Papa Francisco recebeu o pedido do metropolita na Europa da Igreja Ortodoxa Siríaca, o indiano Teophilos Kuriakose, para que durante sua visita à Turquia, interviesse junto ao governo turco “em favor da libertação de nossos irmãos bispos sequestrados”.
2015
Ao receber no Vaticano em 19 de junho de 2015 o patriarca sírio-ortodoxo Aphrem II, o Papa Francisco voltou a levantar a voz diante dos «terríveis sofrimentos provocados pela guerra e pelas perseguições" contra os cristãos no Médio Oriente e a incapacidade de "encontrar soluções" por parte dos poderosos do mundo, convidando a rezar «pelas vítimas desta violência feroz".
Na ocasião, o Papa também recordou os dois arcebispos sequestrados na Síria há mais de dois anos, assim como os sacerdotes e as numerosas pessoas, de diversos grupos, privadas da liberdade.
“Peçamos ao Senhor a graça de estarmos sempre prontos ao perdão e sermos agentes de reconciliação e de paz. Isso é o que anima o testemunho dos mártires. Seu sangue é semente de unidade da Igreja e instrumento de edificação do reino de Deus (..). Neste momento de dura prova e de dor”, exorto a fortalecer "ainda mais os laços de amizade e de fraternidade", acelerando os "passos no caminho comum" e trocando os tesouros das respectivas tradições "como dons espirituais, porque o que nos une é superior ao que nos divide", disse ao líder da Igreja sírio-ortodoxa.
Já no Angelus de 27 de julho de 2015, ao recordar os dois anos do sequestro na Síria do sacerdote jesuíta Paolo dall’Oglio, Francisco afirmou:
“Não posso esquecer os dois Bispos ortodoxos também sequestrados na Síria e todas as pessoas que foram arrestados nas zonas de conflito. Espero um compromisso renovado a autoridades locais e internacionais para que estes nossos irmãos possam recuperar a sua liberdade em breve".
2016
No Regina Coeli de 24 de abril de 2016, o Papa havia lançado um apelo em favor dos cristãos sequestrados na Síria:
“É sempre viva em mim a preocupação pelos irmãos bispos, sacerdotes e religiosos, católicos e ortodoxos, sequestrados há muito tempo na Síria. Que o Deus misericordioso toque o coração dos sequestradores e conceda o quanto antes a estes nossos irmãos a liberdade para que possam voltar às suas comunidades. Por isto convido-vos todos a rezarem, sem esquecer as outras pessoas raptadas no mundo.”
2019
No Angelus de 15 de agosto de 2019, o Papa Francisco abençoou seis mil Terços, que foram enviados aos cristãos na Síria que tiveram familiares sequestrados ou mortos desde o início do conflito em 2011.
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