O que a Igreja faz em tempos de coronavírus?
Cecilia Seppia/Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano
Quando se fala de caridade, o pensamento corre espontaneamente para a carteira e para o gesto de duas mãos diferentes, uma com o objetivo de dar esmola e a outra de recebê-la. Porém, no dicionário cristão, a caridade não é apenas isso, pelo contrário, tem mil aspectos, mil rostos, até o sacrifício extremo da própria vida, como o de muitos médicos, religiosas e sacerdotes mortos pelo Covid-19, para os quais o Papa rezou em várias missas na Santa Marta. Dentre os destinatários das obras de caridade realizadas pela Igreja estão os doentes, mas também os trabalhadores precários, as famílias desfavorecidas, os idosos sozinhos que nem conseguem sair para fazer compras e os “preferidos de Deus” que a crise em andamento pode fazer cair no esquecimento.
O compromisso das dioceses e congregações religiosas
Toda a Igreja, não apenas na Itália, compromete-se a dar sua contribuição material neste momento de grave emergência, além do acompanhamento espiritual que oferece a várias iniciativas criativas após a suspensão das missas com a participação dos fiéis. De norte a sul, as dioceses tomaram medidas para responder concretamente à pandemia: abriram suas estruturas para hospedar pessoas ou grupos familiares que não podem viver a quarentena em sua própria casa, pagando hotéis para os pacientes que recebem alta por serem menos graves a fim de liberar lugares. A Diocese de Bérgamo colocou à disposição de médicos e enfermeiros 50 quartos individuais do seminário, outros 10 em Lodi e também em Roma, Cremona, Crema, Brescia, Taranto e muitas outras cidades até Siracusa. Gaeta até abriu as portas do mosteiro de São Magno, em Fondi, para receber 30 voluntários da Cruz Vermelha.
As congregações religiosas masculinas e femininas que administram hospitais e asilos responderam com igual generosidade diante da crise de saúde, aumentando o compromisso com os doentes de Covid-19. Há também religiosas que, depois da explosão da emergência, transformaram seus conventos em ateliês para a produção de máscaras, um bem raro e precioso, como as Oblatas de Avellino e as Beneditinas de Mercogliano, que já confeccionaram mais de cem mil que foram doadas aos cidadãos.
Ajuda da CEI para a saúde
Em resposta a algumas das muitas situações de necessidade, a Conferência Episcopal Italiana (CEI) destinou 3 milhões de euros, provenientes dos “Otto per mille”, em favor das unidades de saúde. A contribuição chegará à Pequena Casa da Divina Providência- Cottolengo de Turim, ao hospital cardeal Giovanni Panico de Tricase, à associação Oásis Maria Santíssima de Troina e, sobretudo, ao Istituto Ospedaliero Poliambulanza de Brescia, que em menos de um mês mudou radicalmente sua organização dobrando a disponibilidade de leitos e suspendendo todas as operações cirúrgicas, internações e atividades ambulatoriais que podem ser adiadas, a fim de liberar recursos humanos e equipamentos completamente destinados agora a emergências: são 435 leitos, dos quais 68 de terapia intensiva e 70 de observação breve intensiva no Pronto Socorro.
A ajuda aos pobres não para
A crise afeta a todos, mas as camadas sociais vulneráveis estão pagando as consequências, como sempre. Por isso, a CEI doou 10 milhões de euros à 220 Caritas diocesanas, dinheiro destinado a ajudar famílias em situações difíceis que a emergência de saúde literalmente colocou de joelhos: compra de necessidades básicas, pagamento de contas, realização de atividades de escuta para idosos sozinhos e pessoas frágeis, como o “Pronto, estamos aqui” de Gaeta, e a manutenção de serviços mínimos para aqueles que se encontram em extrema pobreza. A CEI também contribuiu com 500 mil euros para a Fundação Banco Alimentar, em apoio às 7.500 estruturas credenciadas que atendem diariamente cerca de um milhão e quinhentas mil pessoas que não têm comida suficiente.
Coleta de fundos da CEI e Caritas
A CEI e a Caritas lançaram juntas uma grande campanha de arrecadação de fundos de um mês. “É o momento da responsabilidade e juntos podemos dar um sinal concreto de esperança e conforto. Deste modo, as Igrejas locais poderão continuar garantindo o forte dinamismo da caridade”, explicou o pe. Francesco Soddu, diretor da Caritas Italiana. Para contribuir com a coleta de fundos, você pode usar a conta corrente postal n° 347013 ou fazer uma transferência bancária com o motivo “Emergência Coronavírus”, ou doar on-line através do site www.caritas.it.
Apoio aos trabalhadores em dificuldade
Devido ao bloqueio de atividades, hoje existem muitos trabalhadores em crise. A Diocese de Milão instituiu o “Fundo São José”, colocando à disposição 2 milhões de euros, que com outros 2 milhões oferecidos pela Prefeitura, servem para ajudar aqueles que estão perdendo seus empregos devido ao Coronavírus: “Decidimos criar um fundo especial para expressar nossa proximidade aos vulneráveis e oferecer os primeiros socorros àqueles que, devido à epidemia, não têm nenhuma forma de apoio”, explicou o arcebispo de Milão, dom Mario Delpini. Um exemplo de colaboração entre a Igreja e as instituições destinada a impedir que a emergência de saúde se transforme numa crise social sem precedentes depois da II Guerra Mundial.
Atenção aos presos, crianças e idosos
As dioceses também dão uma atenção especial ao mundo da prisão, onde as restrições aumentaram as dificuldades, e às condições daqueles que saem no final da pena e se veem sem alternativas. Extraordinário é o compromisso dos capelães nas prisões, como o do pe. Fausto Resmini, do cárcere de Bergamo, que morreu em 23 de março depois de se dedicar até o fim.
A crise também mobilizou o mundo das associações católicas. Em algumas dioceses, os grupos da ACR pensaram em como entreter as crianças, que sofrem muito com a quarentena, com catequeses, jogos e atividades on-line. A Comunidade de Santo Egídio entrou em campo, lançando uma coleta de fundos e organizando a distribuição não apenas de alimentos, mas também de produtos úteis para se proteger de contágios, como luvas e gel desinfetante. Não faltam os telefonemas de solidariedade aos idosos.
A Diocese do Papa e a Santa Sé
O Papa Francisco ofereceu uma contribuição inicial de 100 mil euros à Cáritas italiana. A Cáritas da Diocese do Pontífice mantém os refeitórios abertos, tanto no almoço quanto no jantar, conforme as normas de segurança e ao lado dos quatro centros de acolhimento diocesanos (Albergue “Don Luigi Di Liegro”, Casa de acolhimento “Santa Giacinta”, Centro “Gabriele Castiglion”, Centro para o “Piano Freddo” em Ponte Casilino) e acrescentou desde 20 de março, o Centro de acolhimento extraordinário “Fraterna Domus” em Sacrofano. Trata-se de uma estrutura temporária para hospedar noventa pessoas. Uma medida tomada para conter o risco de contágio e garantir a permanência dos hóspedes por 24 horas. O Centro de Sacrofano é financiado pela Diocese de Roma e pela CEI, e utiliza as mãos diligentes dos Frades Menores que administram a estrutura, às portas da capital.
Por sua vez, o Hospital Pediátrico Menino Jesus, de propriedade da Santa Sé, dedicou a estrutura de Palidoro para as crianças positivas ao Covid-19. Nesse momento de isolamento forçado, o compromisso da Esmolaria Apostólica com os pobres foi intensificado com o cardeal Konrad Krajewski, que colocou à disposição até o seu número de celular para emergências 348-1300123. Chuveiros, dormitórios, assistência aos sem-teto e até “a sacolinha do coração”, preparada pelos voluntários, com uma refeição forte, além de centenas de pacotes de leite fresco, produzidos nas Vilas Pontifícias de Castel Gandolfo, e destinados aos mais necessitados: todos os serviços e as distribuições são realizados conforme as normas estabelecidas após a difusão do coronavírus. “O principal compromisso”, afirma o cardeal, “é não abandonar aqueles que não têm teto e que viviam até um mês atrás, graças a pequenos gestos de solidariedade, como um café pago no bar”.
Um compromisso silencioso
“O Papa e toda a Igreja”, disse ao Vatican News dom Angelo Raffaele Panzetta, bispo de Crotone-Santa Severina, que acabou de doar cinco respiradores para a “Asp citadina”, “trabalham no silêncio: “É uma ação, segundo o espírito evangélico, muitas vezes escondida. O Papa e a Igreja não precisam de campanhas publicitárias para aparecer nos jornais o tempo todo”, mas o que “estão fazendo no momento em termos econômicos, culturais e espirituais é realmente importante e precioso e não pode ser subestimado. Gostaria de lembrar”, disse o prelado, “que o Papa também age através das Igrejas locais que servem o território no qual um importante esforço econômico está sendo feito neste momento, para que nada falte. Não é hora de batalhas pretensiosas, não é hora de lamentar ou gerar uma cultura de suspeita. Este é o momento da solidariedade autêntica, de dar uma mão, amar realmente o próximo e multiplicar o bem e não a crítica”.
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