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Pe. Carmelo virou um padre itinerante que percorre a ilha com o carro, levando o sorriso, a confiança, o conforto à população, colocando em ação aquela criatividade que vai além das atividades ordinárias baseadas no encontro e na presença. Pe. Carmelo virou um padre itinerante que percorre a ilha com o carro, levando o sorriso, a confiança, o conforto à população, colocando em ação aquela criatividade que vai além das atividades ordinárias baseadas no encontro e na presença. 

Pároco da ilha italiana de Lampedusa: vocação para acolher migrantes não deve ser perdida

Mesmo neste período de emergência sanitária, a ilha do Mediterrâneo, ao sul da Itália, vai continuar sendo, de acordo com as normas, o barco salva-vidas para aqueles que navegam pelo mar buscando uma costa segura. Pe. Carmelo La Magra alerta para o risco de encontrar no migrante um bode expiatório e convida a ficarmos próximos a quem combate diariamente com o medo de morrer.

Cecilia Seppia, Andressa Collet – Cidade do Vaticano

O isolamento pelo coronavírus, afirma o Pe. Carmelo La Magra, pároco de Lampedusa, “não nos dá medo. Transformamos a nossa igreja de poucos metros quadrados numa igreja grande como toda a ilha”. O sacerdote atua na maior e na mais populosa das três ilhas do arquipélago das ilhas Pelágias, no Mar Mediterrâneo, ao sul da Itália.

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Igreja itinerante

 

Com a emergência do coronavírus, Lampedusa está hoje vazia e silenciosa, como tantos outros lugares do país. Mas entre uma sacada e outra das casas, Pe. Carmelo testemunha o eco de uma proximidade que faltava há muito tempo. Ele virou um padre itinerante que percorre a ilha com o carro, levando o sorriso, a confiança, o conforto à população, colocando em ação aquela criatividade que vai além das atividades ordinárias baseadas no encontro e na presença.

Continuam os desembarques em Lampedusa

 

O fluxo migratório também não parou na ilha com o registro de mais desembarques. Na última semana, 150 pessoas chegaram e foram transferidas para estruturas adequadas à quarentena. A preocupação agora é a decisão de ONGs de suspender o auxílio no mar, enquanto, sobretudo da África, as partidas dos navios não param, recomeçando os negócios para os traficantes de homens que não estão interessados se o Covid-19 está destruindo o equilíbrio no mundo inteiro.

O prefeito de Lampedusa, Totò Martello, pede ajuda do governo porque é necessário “agir no respeito dos direitos humanos dos migrantes, tendo presente também o direito dos cidadãos da ilha à máxima tutela da saúde pública em relação à atual emergência sanitária”. Pe. Carmelo reforça a preocupação, afirmando que Lampedusa não pode perder a sua vocação de acolher e “vai continuar sendo, de acordo com as normas, o barco salva-vidas para aqueles que navegam pelo mar buscando uma costa segura”:

“Obviamente, estamos respeitando tudo aquilo que os decretos do governo e o nosso bispo nos dizem para fazer pela segurança e o bem de todos. Mas isso não significa ficar longe dos fiéis: a missa está sendo celebrada todos os dias, mesmo com as portas fechadas; e, quando celebro, toco os sinos e todos os fiéis sabem que, naquele momento, podem se unir em oração. Eu digo: criamos uma igreja que, ao invés de ser de poucos metros, é grande como toda a ilha. Também estamos usando muito a rádio local que chega em todas as casas da população e consente de difundir convites, orações, encorajamentos a quem não pode sair. Os novos meios de comunicação também estão nos ajudando: a página da paróquia, o Facebook e o WhatsApp conseguem nos deixar conectados também espiritualmente, de nos reunir, por exemplo, num horário estabelecido para a oração. Digamos que este é o período de uma comunhão que, mesmo não sendo física, talvez seja ainda mais desejada e procurada.”

O risco de virar bode expiatório

 

O Pe. Carmelo, então, aborda a questão dos desembarques na ilha, que continuam acontecendo:

“O maior risco neste momento é que a presença dos migrantes, que neste momento são vítimas, como nós, deste período de confusão e medo, nos faça encontrar um ‘bode expiatório fácil’. Dessa forma, se pensa àqueles que chegam como aqueles que vêm a nos trazer ainda mais perigo. Mas não, não é esse o sentido que deve ser dado ao acolher os migrantes. Ninguém quer colocar o outro em perigo, ao contrário! Por isso, digo que esta é a oportunidade melhor para nos aproximarmos mais a quem sente o perigo e o vive todos os dias. A gente já está cansando de ficar em casa, pensemos às pessoas nos presídios, nos campos de refugiados, nos lugares de guerra. Talvez precisamos nos colocar no lugar de quem vive diariamente com a sensação que a própria vida possa estar em perigo.”

Lampedusa como barco salva-vidas

 

O pároco de Lampedusa comenta ainda sobre a posição do prefeito que precisou organizar os desembarques na última semana, pedindo o transferimento imediato dos migrantes ao priorizar a exigência de tutelar a saúde da população:

“Mas o respeito às normas de segurança não exclui o acolhimento e o cuidado. Lampedusa não pode perder aquela que é uma vocação natural, sobretudo em tempos em que os salvamentos no mar estão escassos. Lampedusa precisa ser aquele barco salva-vidas para quem navega no mar em busca de uma costa segura. Talvez organizando melhor os transportes e evitando que os migrantes passem muito tempo na ilha, já que podem ser encaminhados para lugares melhor equipados para a quarentena e para respeitar as normas de saúde adequadas.”

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23 março 2020, 10:27