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Centro de Milão semideserto por causa da emergência Coronavírus (9 de março de 2020) Centro de Milão semideserto por causa da emergência Coronavírus (9 de março de 2020) 

Cardeal Scola: ocasião para se perguntar sobre o sentido de nossa vida

Para o cardeal arcebispo emérito de Milão, Angelo Scola, a suspensão das Santas Missas por causa da emergência coronavírus, é uma oportunidade para redescobrir a fome de Eucaristia

Fabio Colagrande – Cidade do Vaticano

Depois da suspensão até 3 de abril, em nível preventivo das missas e dos funerais em toda a Itália, o cardeal Angelo Scola, arcebispo emérito de Milão falou à Rádio Vaticano sobre as consequências espirituais deste tempo de provação e sobre o comportamento oportuno para enfrentar as limitações pastorais.

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Cardeal Angelo Scola: Devemos enfrentar esta época do coronavírus com um duplo comportamento. O primeiro, o mais natural, é o de ficarmos unidos: porque a compaixão para com os doentes, principalmente quando as dimensões quantitativas são como as atuais, é um sentimento profundo, imediato e natural do homem. E neste contexto devemos nos sentir obrigados a seguir as indicações das autoridades que nos pedem um certo sacrifício. Mas há um segundo nível de reação à epidemia que é mais importante. Esta situação de emergência deve fazer-nos interrogar sobre o sentido do nosso viver e sobre os motivos pelos quais, mesmo nos dias de hoje, em tempos de tecnologias “robóticas”, encontramo-nos de improviso diante de situações de provação e perigo deste gênero. Nesta ocasião particular, tanto em nível individual quanto comunitário, torna-se decisivo perguntar-se “por quem vivo” e como caminho ao longo da estrada da minha peregrinação terrena. Não podemos nos limitar a buscar o modo de derrotar o vírus, que certamente é muito importante, mas é preciso ir além. Estas são as ocasiões que nos interpelam sobre o sentido da vida.

A suspensão da Missa, para bloquear o contágio, pode ser paradoxalmente uma ocasião para redescobrir o sentido da Celebração Eucarística?

Cardeal Scola: Como já afirmei em outras ocasiões, aqui na arquidiocese de Milão, no nosso rito Ambrosiano, na sexta-feira de Quaresma não celebramos a Santa Missa, mas fazemos o chamado “jejum eucarístico”. O objetivo é o de fazer sentir em profundidade a falta do Cristo vivo no meio de nós, como fator que constrói definitivamente o rosto de cada um e que torna indispensável a Igreja, a comunidade cristã, que vai além dos defeitos dos homens que a compõem. Hoje, penso que devemos ter mais fome da Palavra de Deus e mais fome da Eucaristia. Neste sentido, a escolha de suspender as Missas, escolha tomada em colaboração com as autoridades civis, parece-me que possater uma grande utilidade espiritual.  

Alguns consideram este vírus como um castigo divino. Na sua opinião esta interpretação é correta?

Cardeal Scola: Deus quer o bem. Quer tanto o bem que carrega consigo o nosso mal, os nossos pecados e os pregou na cruz. Não os usa como elemento de vingança, como uma ameaça. A ideia de punição divina, principalmente através de uma situação dramática como a que estamos vivendo, não faz parte da visão cristã. Também, é claro que este tema é complexo, mas parece-me que uma visão cristã adequada não implique que Deus faça recurso à prática da punição para nos converter.

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09 março 2020, 13:02