Cardeal Scola: ocasião para se perguntar sobre o sentido de nossa vida
Fabio Colagrande – Cidade do Vaticano
Depois da suspensão até 3 de abril, em nível preventivo das missas e dos funerais em toda a Itália, o cardeal Angelo Scola, arcebispo emérito de Milão falou à Rádio Vaticano sobre as consequências espirituais deste tempo de provação e sobre o comportamento oportuno para enfrentar as limitações pastorais.
Cardeal Angelo Scola: Devemos enfrentar esta época do coronavírus com um duplo comportamento. O primeiro, o mais natural, é o de ficarmos unidos: porque a compaixão para com os doentes, principalmente quando as dimensões quantitativas são como as atuais, é um sentimento profundo, imediato e natural do homem. E neste contexto devemos nos sentir obrigados a seguir as indicações das autoridades que nos pedem um certo sacrifício. Mas há um segundo nível de reação à epidemia que é mais importante. Esta situação de emergência deve fazer-nos interrogar sobre o sentido do nosso viver e sobre os motivos pelos quais, mesmo nos dias de hoje, em tempos de tecnologias “robóticas”, encontramo-nos de improviso diante de situações de provação e perigo deste gênero. Nesta ocasião particular, tanto em nível individual quanto comunitário, torna-se decisivo perguntar-se “por quem vivo” e como caminho ao longo da estrada da minha peregrinação terrena. Não podemos nos limitar a buscar o modo de derrotar o vírus, que certamente é muito importante, mas é preciso ir além. Estas são as ocasiões que nos interpelam sobre o sentido da vida.
A suspensão da Missa, para bloquear o contágio, pode ser paradoxalmente uma ocasião para redescobrir o sentido da Celebração Eucarística?
Cardeal Scola: Como já afirmei em outras ocasiões, aqui na arquidiocese de Milão, no nosso rito Ambrosiano, na sexta-feira de Quaresma não celebramos a Santa Missa, mas fazemos o chamado “jejum eucarístico”. O objetivo é o de fazer sentir em profundidade a falta do Cristo vivo no meio de nós, como fator que constrói definitivamente o rosto de cada um e que torna indispensável a Igreja, a comunidade cristã, que vai além dos defeitos dos homens que a compõem. Hoje, penso que devemos ter mais fome da Palavra de Deus e mais fome da Eucaristia. Neste sentido, a escolha de suspender as Missas, escolha tomada em colaboração com as autoridades civis, parece-me que possater uma grande utilidade espiritual.
Alguns consideram este vírus como um castigo divino. Na sua opinião esta interpretação é correta?
Cardeal Scola: Deus quer o bem. Quer tanto o bem que carrega consigo o nosso mal, os nossos pecados e os pregou na cruz. Não os usa como elemento de vingança, como uma ameaça. A ideia de punição divina, principalmente através de uma situação dramática como a que estamos vivendo, não faz parte da visão cristã. Também, é claro que este tema é complexo, mas parece-me que uma visão cristã adequada não implique que Deus faça recurso à prática da punição para nos converter.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui