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A certeza dos italianos de que "vai ficar tudo bem" expressa emfaixas penduradas em janelas em todo o país A certeza dos italianos de que "vai ficar tudo bem" expressa emfaixas penduradas em janelas em todo o país 

A origem da expressão “vai ficar tudo bem”, na certeza do amor de Deus

"Tutto andrà bene", palavras de encorajamento nestes tempos difíceis pela emergência criada por Covid-19, parecem ter suas raízes na riqueza da fé cristã na Europa, mais precisamente inspiradas em uma mística, uma jovem analfabeta, que viveu de 1342 a 1430, na Inglaterra, Juliana de Norwich. Bento XVI dedicou uma catequese a ela em 2010. Também Francisco falou dela na Audiência Geral de 23 de março de 2016.

Debora Donnini - Cidade do Vaticano

"Vai ficar tudo bem" é a frase que nestes dias circula incansavelmente nas redes sociais, nos desenhos das crianças, na mídia, em faixas nas sacadas, nas janelas de tantos apartamentos na Itália. É uma mensagem de otimismo e esperança em meio à dor vivida no país e no mundo, pela disseminação do coronavírus, às lágrimas pelos muitos entes queridos falecidos, os grandes questionamentos sobre a estabilidade dos sistemas econômicos e, de maneira mais geral, em relação ao futuro.

Mas, de onde vem esta expressão? Surgiu agora, ou quem sabe é um pensamento que já existia na sociedade ao longo dos séculos? Quem recorda sua origem em um breve vídeo, é Dom Mauro Maria Morfino, bispo de Alghero: a expressão vem de Juliana de Norwich, uma mística, uma jovem analfabeta, que viveu de 1342 a 1430, na Inglaterra.

Dom Mauro Maria Morfino conta “A Verdadeira história da expressão “andrà tutto bem”

Naqueles anos difíceis para a Igreja, dilacerada pelo cisma após o retorno do Papa de Avignon a Roma, pelo mundo devastado pela chamada Guerra dos Cem Anos entre a Juliana: "vai ficar tudo bem" e "tudo será para o bem" (“all shall will be well”).

Palavras que desde então, de certa forma, resumem a mensagem que Juliana traz ao mundo: um otimismo fundado na profunda experiência do amor de Deus, apesar da presença inevitável do pecado e do sofrimento.

Aquele amor materno

 

Era maio de 1373. Atingida por uma doença terrível, Juliana de Norwich estava prestes a morrer quando um sacerdote levou a ela um Crucifixo. Ela se recuperou e recebeu aquelas visões sobre a paixão de Jesus, que relatou em seu livro "Revelações do amor divino".

A sua missão, de seu eremitério adjacente à Igreja de São Juliano, em Norwich, para onde se retirou para viver, será precisamente a de recordar aos homens esse amor visceral, a ponto de compará-lo, pela sua ternura, a um comportamento materno.

Foi o próprio Senhor quem lhe revelou que o sentido dessas visões era  precisamente o Amor. Ela viveu como uma anacoreta, e muitas pessoas de todas as esferas da vida iam lhe pedir conselhos. Assim, também hoje possamos beber de seu pensamento, como fonte de água doce num tempo do deserto.

Francisco e Bento XVI referem-se a Juliana de Norwich

 

Justamente para sublinhar "o imenso e ilimitado amor que o Senhor tem por cada um de nós", o Papa Francisco havia recordado as sublimes páginas sobre o amor de Cristo de Juliana de Norwich, durante a Audiência Geral dedicada ao Tríduo Pascal no Jubileu da Misericórdia, em 23 de março de 2016. "Este é o nosso Jesus - recordou o Papa - que diz a cada um de nós: 'Se eu pudesse sofrer mais por você, eu o faria'".

Também Bento XVI ficou tocado pela experiência mística da jovem inglesa, a ponto de lhe ter dedicado a catequese da Audiência Geral de 1º de dezembro de 2010 - como parte de um ciclo de catequeses sobre algumas figuras femininas significativas da Idade Média.

Indo ao cerne da questão pela qual o Catecismo da Igreja Católica cita Juliana, Bento XVI recordou aquela pergunta que até os santos se fizeram: "Se Deus é sumamente bom e sábio, por que existem o mal e o sofrimento dos inocentes?"

 “Iluminados pela fé – obervou ele -  eles dão-nos uma resposta que abre o nosso coração à confiança e à esperança: nos desígnios misteriosos da Providência, até do mal Deus tira um bem maior, como Juliana de Norwich escreveu: «Aprendi da graça de Deus que eu devia permanecer firmemente na fé, e portanto devia crer sólida e perfeitamente que tudo teria terminado bem...».

Juliana de Norwich
Juliana de Norwich

Uma mensagem de otimismo baseada em Deus

 

Uma "mensagem de otimismo baseada na certeza de ser amados por Deus e de ser protegidos pela sua Providência", vem do livro da mística inglesa - sublinha ainda Bento XVI, referindo-se, em particular, a algumas palavras de Juliana: «Vi com certeza absoluta... que, ainda antes de nos criar, Deus nos amou com um amor que nunca esmoreceu, e jamais faltará. E foi neste amor que Ele realizou todas as suas obras, foi neste amor que Ele fez com que todas as coisas nos fossem úteis, e é neste amor que a nossa vida dura para sempre... Neste amor nós temos o nosso princípio, e veremos tudo isto no Deus infinito» 

Assim, se entende que aquele "vai ficar tudo bem" de Juliana de Norwich, é colocado no mesmo olhar do "tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus", de São Paulo aos Romanos. E esse horizonte de eternidade deseja também hoje o olhar de cada um de nós.

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"Vai ficar tudo bem"
23 março 2020, 06:52