Covid-19: padre é enfermeiro voluntário e será também capelão
Rui Saraiva - Porto
“Não podia ficar indiferente ao sofrimento” – foi com estas palavras de verdadeira solidariedade que o padre João Pedro Bizarro sintetizou a sua atitude de se voluntariar para a luta contra o coronavírus.
A sua formação e trabalho desenvolvido na enfermagem antes de optar pela vida sacerdotal, fizeram nascer em si a vontade de se oferecer para ajudar os doentes infetados. A pandemia precisa de muitas mãos e os profissionais de saúde no ativo não são suficientes. O apelo feito levou tantos a inscreverem-se. O padre Bizarro foi um dos que respondeu ao apelo. Deverá ser chamado em breve para o Hospital Militar do Porto.
Entretanto, o hospital de campanha que já está pronto na cidade do Porto, terá a gestão clínica do Conselho Regional da Ordem dos Médicos. A Câmara Municipal do Porto organizará a logística daquela unidade hospitalar, com a ajuda dos Centros Hospitalares de Santo António e São João. O padre João Pedro Bizarro será ali capelão no âmbito da sua colaboração com a Ordem de Malta.
Em entrevista, recorda que neste período de pandemia os capelães hospitalares não podem estar com os doentes, por questões de contágio a outros com os quais contactem.
Por essa razão, “um enfermeiro” que também é sacerdote e “trabalha com pessoas infetadas pode ser também capelão no meio dos doentes” – sublinha o padre Bizarro assinalando que a escassez de profissionais e o facto de ter o curso de enfermagem foram as razões que o levaram a voluntariar-se.
“A missão de um capelão em tempo de pandemia é de extrema necessidade” – refere o sacerdote salientando a importância deste serviço para tantas pessoas que precisam da presença da Igreja neste momento de sofrimento.
Esta crise, que parece estar para ficar, fez parar a vida económica e social das cidades. O padre João Pedro Bizarro considera que isto levará a redescobrir novas formas de evangelização.
A vocação sacerdotal do padre João Pedro Bizarro teve uma etapa fundamental no exercício da enfermagem, mas nasceu e cresceu no seu empenho de escuteiro no Corpo Nacional de Escutas (CNE) – como disse numa entrevista em agosto de 2018 e que aqui recordamos:
“A vocação nasce na enfermagem, é certo, não posso dizer que não, mas nasce também num movimento da Igreja: o escutismo. Teve estas duas vias. Na última etapa dos escuteiros, os caminheiros, é-nos proposto viver uma vida de serviço, estar disponível para o outro, estar atento às necessidades dos outros. Eu tive uma boa experiência de clã, nos caminheiros, e isto despertou em mim esta necessidade de servir.”
“Depois, aliado a isto, fiz o curso de enfermagem e trabalhei no Hospital de Santo António (Porto) no serviço de medicina, um serviço bastante duro. Eu dava apoio a hematologia. E com 21 ‘aninhos’ vejo-me confrontado com a morte, com gente a morrer nos meus braços e a ter que tomar decisões que condicionavam a vida daqueles que me foram confiados. E isto fez-me refletir sobre a necessidade de haver algo mais, e a vocação vai nascendo assim: entre estar ao serviço daqueles que precisam e, este algo mais, que foi uma redescoberta de Deus. Havia também algumas inquietações pessoais que vinham de trás, nascidas no escutismo, com a necessidade de formar os miúdos que me foram confiados enquanto adulto no movimento.”
“Isto tudo, levou-me, um dia, a questionar-me se não poderia ser padre. Como a minha família sendo católica não era praticante e eu também não estava muito ligado à Igreja, para além do movimento CNE (Corpo Nacional de Escutas), esta questão inquietou-me de tal ordem que fui falar com o meu pároco, que me apresenta ao Seminário Externo e eu fiz um caminho de discernimento vocacional. Sempre na consciência de que por mim eu não seria padre, portanto, tinha que haver aqui o dedo de Deus.”
Neste período de pandemia, o padre João Pedro Bizarro, de 46 anos, faz um intervalo na sua missão de formador dos seminaristas da diocese do Porto e assumirá de novo a área da enfermagem trabalhando no Hospital Militar do Porto. Ao mesmo tempo, sendo enfermeiro, poderá colaborar com mais facilidade como capelão no hospital de campanha criado no Porto para o apoio aos infetados com o coronavírus. Exercerá, assim, em modo especial, a sua vocação sacerdotal junto dos doentes, neste momento de tanto sofrimento.
Laudetur Iesus Christus
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